30 dezembro 2009

Avatar, um alerta ecológico

A nova experiência de ver cinema depende muito mais da maneira como vemos o filme do que a obra em si. A revolução está no nosso jeito de olhar. O diretor, roteirista e produtor James Cameron consegue imergir o espectador no filme Avatar graças ao efeito. O investimento no 3-D estereoscópico auxilia nesse resultado. Com uma profundidade espacial jamais vista no cinema, Avatar convence ao lançar o alerta ecológico: enquanto os terráqueos vivem a devastação do planeta natal, os Na'vi respeitam e cuidam da natureza. Mas não estamos falando de uma trama de tom didático ou engajado, Cameron assume seu cinema como puro entretenimento e magia.

Mas do que se trata Avatar? O longa (160 minutos) nos apresenta o planeta Pandora. Ali, no ano de 2154, humanos organizam uma missão para explorar um mineral raro e valioso. O problema é que a maior fonte do material está sobre o território dos Na'vi, os nativos de Pandora, que têm relação estreita com a natureza à sua volta. A missão humana envolve, ainda, um núcleo de pesquisas científicas, coordenado por Grace Augustine (Sigourney Weaver). O grupo desenvolve um projeto em que humanos transportam sua consciência para avatares, com aparência igual à dos Na'vi. Assim, podem negociar com os nativos e circular pelo solo de Pandora, cuja atmosfera é tóxica. É para integrar essa missão que o militar Jake Sully (Sam Worthington) chega ao planeta.

Adentramos o mundo alienígena através dos olhos de Jake, um ex-fuzileiro naval confinado a uma cadeira de rodas. Apesar do que aconteceu ao seu corpo, Jake continua se sentindo um guerreiro e viaja anos-luz à estação que os humanos instalaram em Pandora, onde a humanidade quer explorar o minério raro unobtanium, que pode ser a chave para solucionar a crise energética da Terra. Como a atmosfera de Pandora é tóxica, foi criado o Programa Avatar, em que “condutores” humanos têm sua consciência ligada a um avatar, um corpo biológico controlado à distância capaz de sobreviver nesse ar letal. Os avatares são híbridos geneticamente produzidos de DNA humano e DNA dos nativos de Pandora, os Na’vi.

Renascido em sua forma avatar, Jake consegue voltar a andar. Ele recebe a missão de se infiltrar entre os Na’vi, que se tornaram um obstáculo à extração do precioso minério. Ocorre que uma bela Na’vi, Neytiri, salva a vida de Jake, o que muda tudo. Jake é acolhido pelo clã de Neytiri, e aprende a ser um deles depois de passar por vários testes e aventuras. O relacionamento de Jake com sua hesitante instrutora Neytiri se aprofunda, e ele passa a respeitar o jeito de viver dos Na’vi, e por fim passa a ocupar seu lugar no meio deles. Logo ele enfrentará a maior de suas provações, ao comandar um conflito épico que decidirá nada menos que o destino de um mundo inteiro.

A produção mais cara da história tem trama simples e previsível. Não é surpresa que o militar se verá dividido entre a missão exploratória humana e a nova vida entre os nativos de Pandora. A ganância do "povo do céu" são sentidos nas batalhas em plena floresta. O foco do filme se instale no aspecto estético, nos efeitos especiais e nas cenas de ação, bastante empolgantes. Entre explosões, saltos e panoramas desse planeta fantástico, o diretor imprime mensagens relacionadas à nossa realidade atual.

Ao propor uma nova experiência de cinema, Cameron chama atenção sobre o ecossistema onde cada planta, cada criatura respira na tela de Avatar. Conceitos de energia e religião consagrados da ficção científica também encontram espaço importante: Pandora tem sua própria "força". O foco é mesmo no deslumbramento visual. É impossível distinguir o que é real do que é modelo criado por computador. As câmeras e a tecnologia de performance são impressionantes. As cenas em que humanos e Na´Vi dividem as telas, por exemplo, desafiam qualquer percepção.

É bom lembrar que a terminologia “avatar” vem do sânscrito e significa “descida”. No hinduísmo, designa uma manifestação corporal de seres imortais, tendo fundo religioso ligado à idéia de encarnação. E na linguagem da informática, é uma representação gráfica utilidade em realidade virtual. Mas o que fica mesmo, ao terminar o filme são as imagens do mundo novo, suas árvores profundas e interligadas a tudo, como nos nossos sonhos e como lembrou bem Leonard Boff em seu livro Ética e Moral, tudo está conectado, é preciso voltar a olhar o mundo para o seu interior ou tudo estará perdido.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

29 dezembro 2009

Faltou consenso em Copenhague

Os 119 premiês e presidentes reunidos em Copenhague (15ª Conferência do Clima – COP15) deixaram a conferência do clima sem uma decisão sobre metas de redução de emissões para os países desenvolvidos. Sem o consenso, o Acordo de Copenhague é só uma declaração vaga forjada na última hora pelos Estados Unidos e pelos quatro grandes emergentes (Brasil, China, Índia e África do Sul) e que não cumpre o objetivo de limitar o aquecimento global neste século a 2º C.

O choque de interesses dos EUA e da China, que juntos lançam na atmosfera cerca de 40% dos gases do aquecimento, paralisou as negociações. Os dois maiores poluidores do mundo na semana da conferência faziam questão de dizer que estavam engajados na luta contra o aquecimento global, e trocavam acusações que o outro não estava fazendo o bastante. No final da conferência o resultado foi bem diferente, fazendo lembrar a fábula da Assembléia dos Ratos contada por Monteiro Lobato: os ratos se reuniram e deliberaram pendurar um sino no pescoço do gato (assim, todos os ratos poderiam fugir a tempo). Houve aplausos fervorosos para todos os discursos. Na hora da ação de colocar o sino, todo mundo pulou fora... Do mesmo jeito fracassou a reunião ambiental.

O principal ponto de conflito entre as duas potências foi resolvido graças a mediação do presidente Lula: a questão da verificação dos compromissos de corte dos emergentes. Diante do fracasso de Copenhague, uma nova reunião foi convocada para Bonn, na Alemanha em junho de 2010. A próxima COP está marcada para dezembro de 2010 no México.

É reconhecida a necessidade de combater o aquecimento global para evitar um aumento acima de 2ºC na temperatura média da Terra. Em Copenhague o presidente Lula propôs metas ambiciosas e ajudou a articular documento final, além de fazer o discurso mais eloqüente do encontro. Já o presidente americano Obama fez um discurso inflexível, visto como arrogante e foi refém do próprio Congresso. E o premiê chinês Wen Jiabao polarizou o debate com os EUA, virando a eminência parda da COP e saiu de lá com o que queria. O acordo político obtido em Copenhague foi “um desastre”, segundo ecologistas. Com o “adiamento das ações, o planeta sofrerá com fome e mortes na medida em que se acelerar a mudança climática”,

A cúpula das Nações Unidas em Copenhague foi considerada um fracasso. Os EUA condicionavam um acordo à criação de um mecanismo internacional de verificação das ações ambientais em países em desenvolvimento. A China não aceitou o debate. Não houve consenso. O que faltou foi vontade política.


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28 dezembro 2009

Dona Canô: lição de calma e sabedoria que vem do recôncavo baiano

Dona Canô chamou, eu vou/ Dona Canô chamou, eu já me vou Dona Canô/ Antes que o rio esteja cheio/ Tenho que atravessar/ O chamado de Dona Canô/ Eu não posso negar/ Antigüidade é posto, temos que respeitar/ Dona Canô é Canô/ Dona Canô é de lá (Dona Canô - Caetano Veloso). Certamente, você não deve saber quem é Claudionor Viana Telles Velloso, mas, sem dúvida alguma, conhece ou já ouviu falar em Dona Canô, como é popularmente conhecida há 102 anos. Mais do que simplesmente a mãe dos cantores Caetano Veloso e Maria Bethânia, Dona Canô é um grande exemplo de tranquilidade e sabedoria, uma verdadeira celebração à vida.
Santamarenses em peso veem Dona Canô como a embaixatriz do município de Santo Amaro. Nascida em 16 de setembro de 1907, com um nome extenso e complicado para muitos, viu, ainda criança, se tornar Canô. Apelido inventado por um menino que não conseguia pronunciar seu nome de batismo corretamente. E foi assim que Claudionor virou Canô. E hoje, ao que parece, seu apelido soa mais familiar e carinhoso que o seu nome próprio.
Desde pequena fez parte de bailes pastoris e reisados que aconteciam nas usinas da cidade do recôncavo baiano. Apurou a voz gostosa nas Capelas de Capanema e Passagem. No Colégio das Irmãs Sacramentinas, aprendeu a costurar, a tocar piano e a falar francês. Namoradeira ela afirma que foi, mas, um belo dia apaixonou-se por José Telles Velloso (Zeca). Em um ano e meio estavam de casamento marcado, e com o seu grande amor viveu 53 anos, até a sua morte.
FORÇA - Certo dia, Dona Canô achou um trevo de quatro folhas e seu Zeca ganhou na Loteria Federal. Foi então que puderam ampliar o sobrado branco de janelas azuis, o qual ela vive até hoje, há 60 anos, e onde criou seus oito filhos com fortes laços de amizade e respeito. O lar da matriarca dos Velloso possui as mesmas nuances, e é muito fácil chegar à sua casa. Basta perguntar a qualquer um dos 80 mil habitantes, onde fica a casa de Dona Canô. A resposta será sempre: “Fica ali, pertinho da igreja do Amparo!”.
A casa de Dona Canô guarda muitas lembranças. Fotos emolduradas, gravuras e telas contam a história de uma vida bem vivida em mais de um centenário de existência. Dona Canô é dona de um sorriso bondoso, de um olhar ao mesmo tempo forte e carinhoso e de uma boa conversa. Com tais atributos, não é difícil de entender as razões pelas quais fizeram a Bahia e o Brasil amar esta baiana, que esconde por trás de um corpo frágil, uma força tamanha, que conforme ela, vem de sua fé.
Quando uma amiga ou vizinha entra na casa, coisa que acontece o tempo todo, Dona Canô imediatamente engrena uma conversa. Comenta sobre a festa que teve no fim de semana, sobre a inauguração para a qual foi convidada, sobre a homenagem que recebeu... Tudo é motivo para uma boa prosa. Mesmo os turistas, e não são poucos os que vão à avenida Ferreira Bandeira, número 179 para conhecê-la, encontram as portas sempre abertas. Não importa quem seja, todos são bem-recebidos por ela.
HÁBITOS - Dona Canô acorda cedo, por volta das 6 horas da manhã. Segundo ela, come de tudo, mas “bem pouquinho”. No cardápio, sempre recheado de frutos do mar e moquecas, não faltam azeite de dendê, leite de coco e o que mais fizer parte do tempero. Moqueca de arraia com pirão de leite é um de seus pratos prediletos. Costuma dormir depois das 20 horas. Sobre sua cama sempre tem algo pra ler, o tipo de leitura não importa, ela lê jornal, revista, livro, história, poesia, sendo esta última a sua preferida. Massagem e fisioterapia fazem parte da sua rotina. “Os filhos acham que devo fazer e eu faço”, diz ela, obediente e resignada.
Se perguntada sobre sua fama, Dona Canô garante que não entende: “Apenas fiquei conhecida por causa de meus dois filhos (Caetano Veloso e Maria Bethânia) que nunca se esqueceram de onde vieram nem da mãe que têm”. Seu nome batiza um centro oftalmológico para pobres, um teatro e uma biblioteca na cidade. Em seus aniversários nunca quer presentes, só comida ou material de higiene que recolhe para doação. Quando ela passa nas ruas, todo mundo já sabe: Dona Canô está indo fazer o bem. Segundo ela, está aí a razão de sua longevidade: “Recebo e dou muito amor, tenho prazer de viver e paciência, sei que tudo tem seu tempo”.

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23 dezembro 2009

RECANTO DO VENTO

Texto: Gutemberg Cruz
Ilustração: Estúdio Cedraz

Quarto capítulo:

Na última semana o vento Arthurzinho ensaiava com os amigos para a festa do São João no colégio. Todos estavam alegres porque iriam apresentar a festa junina no Nordeste. Eu disse todos estavam alegres?. Não, lá no alto, no mais alto das alturas estava a maligna Maria Tempestade. Ela passeava de um lado para o outro aborrecida com toda aquela alegria. Por isso, planejava soltar relâmpagos, trovões fortíssimos para derrubar toda aquela brincadeira. O que ela, a Maria Tempestade não contava, é que bem mais alto onde ela se encontrava, reinava o sorridente sol Luis. Sim, ele percebia toda aquela intriga da Maria Tempestade...tentou convencê-la de desistir de estragar a brincadeira junina das crianças-ventos, mas a Maria não era de desistir facilmente. E quando ela resolveu soltar seus raios e trovões....o sol apareceu mais forte e brilhou durante o dia.

Maria Tempestade saiu cabisbaixa e ficou lá do alto espiando.

A garotada resolveu fazer uma bela homenagem ao rei sol, ao Luis que caladinho ficou, sorrindo de tudo...mas o Arthurzinho que não era de guardar mágoas de ninguém resolveu dar um viva para Maria Tempestade. Era uma bela homenagem para a garota enfezada, briguenta, mal criada que gestava de perturbar o sono alheio... E todos os ventinhos resolveram saudar a Maria Tempestade que, vendo tudo aquilo, resolveu dar as caras na festa e caiu na gandaia.

Sim, a Maria Tempestade forrozou até o dia amanhecer.

No dia seguinte, o vento Arthurzinho foi, pessoalmente, agradecer ao sol Luiz. Ele soprou umas palavras boas de se ouvir, assim:

- Bom dia raio de sol Luiz, muito bom dia.

- Bom dia belo Arthurzinho. Respondeu Luiz. A que devo esse boa visita?

- Vim agradecer sua intervenção na festa. Tudo acabou bem, graças a você. A estrelinha Soninha iluminou toda a noite nessa festa. Como é muito tímida, não quis cair na folia. Espero que da próxima festança vocês dois apareçam para se divertirem.

- Obrigado, Arthurzinho. Vamos pensar no assunto.

- Tchau.

E assim Arthurzinho retornou a sua casa-nuvem azul para fazer as lições de casa que a professora de História passou. O tema do estudo era: A evolução dos ventos. Um tema que ele apreciava muito.

Não muito longe dali, no alto, a estrelinha Soninha sorria e brilhava. Tudo estava bem, o mundo girava, o vento soprava, o sol iluminava e as estrelas brilhavam. Era tudo festa. Era São João.

FIM
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RECANTO DO VENTO

Texto: Gutemberg Cruz
Ilustração: Estúdio Cedraz

Terceiro capítulo:

E o São João se aproximava, trazendo consigo as festas juninas. O mês de junho marca um dos mais ricos ciclos de festividades populares cristãs. A festa tem por objetivo principal homenagear três santos: Santo Antônio (dia 13), São João (dia 24), e São Pedro (dia 29). Segundo a tradição, o primeiro tornou-se um santo de grande devoção popular, pois, sob sua proteção, muitas pessoas encontravam parceiro para se casar, daí ser chamado de “santo casamenteiro”. Segundo os Evangelhos, foi São João Batista quem batizou Jesus Cristo e o anunciou como o Messias. Já Pedro, era um pescador simples, conhecido como protetor das viúvas, o porteiro do céu e padroeiro dos pescadores. Trazido pelos colonizadores portugueses, o costume de festejar o São João entrou no Brasil, principalmente nas pequenas cidades, e ficou. Na Bahia a festa vai de norte a sul, atravessando o coração da Chapada com muita fogueira, bandeirolas, fogos de artífícios, quadrilhas, forró, comidas e bebidas típicas.

Como acontece todos os anos, durante o mês de junho na Bahia é tempo de provar licores, bolos, acender fogueira, assar milho, soltar bombas e foguetes, dançar um forró bem animado. Fogueiras ardem defronte às casas. O cheiro de milho assado, pamonhas e canjicas se misturam ao da lenha queimada e da pólvora dos fogos de artifício estourados.

De um canto de rua ou de um arraiá no meio da praça vem o som do triângulo, zabumba e sanfona. É o legítimo forró, atraindo gente de todas as idades. Daqui pra frente é a poeira do arrasta-pé e o rodar das saias que vão dizer quão bom está o São João. Mas São João bom mesmo é na roça. Afinal, a origem dos festejos juninos é rural e ligada às safras, fertilidade do solo, plantação e colheita.

Os elementos símbolos do São João – fogueiras, balões, danças e adivinhações são ligadas às divindades, e são manifestações de agradecimento ou reivindicação. As cidades se transformam em espécies de aldeias todas embandeiradas, onde se revive o que há de mais enraizado na cultura popular. São João é uma das festas mais esperadas pelos baianos, depois do carnaval. Pode se dizer que toda a zona rural da Bahia comemora as festas juninas com muita autenticidade.

O que torna mais rica esta festa é a mesa farta de milhos, pamonha, amendoim cozido, cana-mirim, batata doce, inhame, jenipapo, fruta-pão, aimpim, além da laranja e outras delícias. A canjica de milho verde, o carimã e a pamonha são ingredientes básicos da culinária junina. Há ainda os licores e, entre os baianos o mais afamado é o de jenipapo. Diz os especialistas que ele só fica realmente bom depois de enterrado um ano no jardim. Não há família que, durante a festa de São João, não faça um cálice deste néctar divino. Mesmo os licores de jabuticaba, araçá, umbu, banana e outras frutas são bons. Os licores completam a ceia e o ritual dos santos.

Depois de provar dos licores, bolos e canjicas, depois de acender a fogueira, tocar bombas, foguetes e busca-pés, é hora de pegar um forró. Dançar xaxado, o baião, o xote, a sanfona gemendo no fole, a zabumba segurando a marcação, a cabocla com seu vestido de chita. É hora do arrasta-pé.

As famílias promovem batizados, casamentos matutos, concursos de quadrilhas, escolha da rainha do milho, pula-fogueira, soltam fogos de artifícios. A festa se instala na praça central, palco de shows com os principais artistas, além de apresentações de grupos folclóricos, blocos de forró (puxados por sanfoneiros) entre outras manifestações.

Toda essa manifestação em torno do São João foi o motivo que Guto encontrou para conquistar o vento Arthurzinho, a estrelinha Sonia e o sol Luiz, além da bela planta Janete a passarem os festejos juninos na sua terra do além mar: Bahia, olá olá.

Mas o que Guto não sabia era que o Arthurzinho junto com outros ventinhos e toda a ventania do sul estavam organizando uma grande festa em sua cidade. Sim, aquela cidade que tem nome de santo: São Paulo. O arraiá da capital vai reunir toda a garotada, ou melhor, a turma da ventania, para animal aquelas bandas. E tudo porque a poluição na cidade estava muito forte, e era preciso alguém tomar alguma providência.

E logo quem teve a ideia? Quem, quem, quem? Conta logo: o Arthurzinho, claro!. Vento esperto, reunir todos seus amiguinhos para uma festa junina. Assim, com todos os ventos juntos, a poluição iria sumir rapidinho daquela localidade. Mas como aqueles ventos do sul no sabia muita coisa do Nordeste, coube ao Althurzinho comandar a festa.

- Pessoal (gritou Arthurzinho), vamos ensaiar primeiro. O ano passado estive no Nordeste, na Bahia, e conheci muita coisa. Sei das danças, das canções e tudo mais. Cheguei até a cantar uma canção de um baiano com fama de preguiçoso, o Dorival Caymmi. Não, ele não estava caindo, é o nome Caymmi. Pois ele compôs a música “Vamos chamar o vento”. Sei toda a letra....

E começou a cantarolar, parecia radiante o vento Arthur, soprando pra lá e pra cá a canção de Caymmi.

Depois da conversa ele começou os ensaios. Arthurzinho seria o bumba meu boi.

“O meu boi morreu/o que será de mim?/mandas comprar outro, ó maninha/lá no Piauí”.

Era uma cantiga muito antiga que os moradores do Nordeste cantavam em tempo de festa. O auto-popular do Bumba-meu-boi conta a estória da Catirina, uma escrava que leva seu homem, o Chico, a matar o boi mais bonito da fazenda para satisfazer-lhe o desejo de grávida: comer língua de boi. Descoberto o malfeito, o fazendeiro pede que os índios capturem o criminoso. Os moradores da redondeza fazem uma forte oração, juntos de mãos dadas e pedem a Deus a volta do boi, vivo.

Para ressuscitar o boi, chama-se o doutor, cujos diagnósticos e receitas ironizam a medicina. Finalmente, ressurgido o boi e perdoado o escravo, a grande farsa termina numa festa cheia de alegria e animação. Essa brincadeira do Bumba-Meu-Boi existe em outras regiões do País, cada um com um significado, mas todas representando uma explosão de alegria, servindo como elo de ligação entre o sagrado e o profano, entre santos e devotos, congregando toda a população.

E o vento Arthurzinho estava uma verdadeira pilha naquele dia. Corria para lá e para cá com toda sua energia. Ele ensaiava a dança do bumba meu boi com sua parceira, a Marina. Êta se Odemar conhecesse a Marina, ia gostar dela...a começar pelo nome Mar...ina...

E assim, dia após dia o vento e todos do grupo ensaiavam para a grande festa. Mas por trás de toda aquela alegria, havia uma nuvem negra e malvada que não gostava nada daquilo. Era a Maria Tempestade. Ela estava escondida ouvindo tudo e planejava despejar raios e trovões no grande dia da festa.

E agora? Será que o vento Arthurzinho conseguirá realizar a tal festa junina? E a Maria Tempestade vai conseguir destruir a alegria dos ventos?

Roendo as unhas de tanto nervoso estava Guto bem longe dali, mas pressentia tudo. Será que o sol Luis e a estrelinha Soninha vão ajudar a melhorar o tempo? Não percam, mais um capítulo dessa novela.

Tchan tchan tchan tchan...

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22 dezembro 2009

RECANTO DO VENTO

Texto: Gutemberg Cruz
Ilustração: Estúdio Cedraz

Segundo capítulo:

E o vento de outono voltou a soprar pelas bandas do Nordeste, o pequeno vento Althurzinho estava com saudades da terra do sertão.... Tudo parecia calmo naquela colina distaste. A piscina estava cheia d´água, mas Guto não estava disposto a nadar naquelas águas frias do Odemar (lembra-se do primeiro capítulo dessa historinha onde um sujeito “arredio”' conhecido como Odemar espalhou ondas para todos? Mas nem todos tinham coragem de atravessar aquele mundão de água. Para que as pessoas se aproximassem dele, ele reservou uma parte de seu corpo líquido na piscina lateral da casa).

Era outono, e as folhas ressecadas no verão estavam caindo das árvores. Os coqueiros dançavam ao som dos ventos outonais. O cajueiro não dava frutos, mas o que se destacava naquele pequeno sítio era o pêssago. Guto molhava todos os dias para que a planta se desenvolvesse mais. Até que um dia surgiu uma orquídea no centro do sítio. Linda, de cor rósea, aquela flor irradiava beleza em todo o “recanto do vento”, nome do sítio, dado por Guto. Encantado com a bela planta, ele batizou-a de Janete (até que enfim a vovó entrou na estória...Atenção, este parentese é em off).

Todas as manhãs, Guto acordava, passeava pelo sítio para molhar as plantar e conversava longamente com a Janete, uma de suas plantar preferidas. Mas ele não queria que as outras plantas soubessem disso para no causar ciúmes. Quando o sol se escondeu na colina e a lua apareceu para iluminar a noite, o vento Arthurzinho apareceu todo folgoso. Soprou aqui e acolá, correu em disparada pelo sítio, sentiu o perfume das flores, passeou rentamente pelas ondas do Odemar (que parecia um colchãozinho de água...ops! Este parêntese também é em off), e finalmente bateu na porta (toc toc toc). Guto abriu e deu-lhe um longo abraço. Em seguida Althurzinho disse:

- Tinha que me afastar por um longo tempo, vou com meus pais para a cidade grande. Lá vou aprender tudo da vida, vou conhecer os outros ventos, vou amadurecer meu sopro e também brincar com outros ventinhos. A escola dos ventos é uma necessidade para todos, por isso espero que você não se aborreça e não fique sozinho. A nossa amiga Zete, uma professora maluquinha, vai lhe presentear com uma cachorrinha chamada Lindinha, você vai gostar. Mas é preciso cuidar dela como se fosse alguém da família e anda triste e faminta. Trate-a come se fosse alguém da família, dê carinho e comida. Será sua nova companhia.

Ao terminal de falar, o ventinho Arthur soprou forte no rosto de Guto e foi embora. Triste, Guto adormeceu ali mesmo, na sala. Na manhã seguinte, Zete apareceu toda ruidosa. Cantava sem parar e esfregava suas mãos delicadas no pelo da cadelinha. Sua Lindinha, uma pequena cadela de pelo liso e amarelado.

Lindinha estava com frio, fui buscar um cobertor para aquecê-la e, em seguida, ela adormeceu em meus braços. Zete, contente, foi embora, estava atrasada para os primeiros dias de aula. Era uma professora muito querida entre os alunos.

Naquela noite de lua cheia, as estrelas pareciam brilhar mais. A estrelinha Soninha se destacava pela luminosidade que emitia. E, cada vez mais, ela se aproximou da colina. Guto estava olhando atentamente e, junto com a orquídea Janete, ouviu da brilhante estrela o seguinte:

- Guto, agora você não pode se queixar da solidão. De dia tem o sol Luiz, à noite você pode conversar comigo, nos intervalos do tempo tem Janete, Zete, Odemar e agora a Lindinha. O que vale a pena na vida é conhecer pessoas interessantes, saber de sua trajetória, aprender com e1as....O que mais vale a pena na vida é aprender a viver... É sempre bom ajudar o próximo e não perder o ânimo de acordar todas as manhãs e respirar fundo para viver um novo dia. lsso é que é bom...


O garoto ouviu aquelas palavras sábias da estrelinha e ficou mais próximo da orquídea Janete. E pensou, e pensou até lembrar das palavras de um velho filósofo chinês chamado Confúncio, “a orquídea exala perfume de reis”. E respirou fundo. Considerada as flores mais nobres porque antigamente eram privilégios dos ricos e nobres, hoje as orquídeas são acessíveis a todos.

Ele estava de pensamento na lua quando ouviu um barulhinho diferente no quintal. Era Lindinha que vinha correndo para seu colo. Guto pegou naquele animal, fez cosquinha na barriga dela e falou suavemente:

- Lindinha, muito cuidado quando passares por perto das plantas. Não pise em nenhuma delas, principalmente na Janete, certo?

Lindinha balançou o rabinho como afirmasse que entendeu tudo...

E onde andarás o vento Arthurzinho? Será que ele está com novas amigos pelos ventos do Sul?
No percam mais um capítulo do Recanto do Vento....a mais demorada estorinha que se leu na net (Internet)....
Tchan tchan tchan tchan
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21 dezembro 2009

RECANTO DO VENTO

Texto: Gutemberg Cruz
Ilustração: Estúdio Cedraz

Primeiro capítulo:

Era uma vez um garoto solitário que morava no alto de um a colina. Todos os dias, ao anoitecer, ele colocava uma cadeira na varanda da casa para apreciar as estrelas no céu que brilhavam muito. Muitas vezes, o calor era tanto que ele era obrigado a colocar uma rede na varanda para dormir. Certa noite, ao olhar demoradamente para as estrelas, percebeu uma pequena e mais brilhante de todas e resolveu dar-lhe o nome de Soninha. A partir desse dia, todas as noites ele sentava na varanda da casa para conversar com sua nova amiga, a estrelinha Soninha. Assim, ele não se sentia mais sozinho.





Na manhã seguinte, o garoto acordou mais disposto e abriu a janela do seu quarto, o calor suave do Sol daquele dia de verão soprou em seu rosto, e ele agradeceu. Olhou devagarinho para o Sol e batizou-o de Luis (o luminoso). O Sol com seu olhar bondoso espalhou seu ar quente para todos os seres vivos daquela localidade.
Uma noite, no meio do sono, o garoto sonhou com a estrela Soninha. Ela dizia em seu sonho:




- Guto, não fique sozinho, olhe em sua volta a natureza, os pássaros, as árvores, as flores e os frutos. Conheça cada um deles. E quando estiver com muita solidão, chame o vento para brincar com você.




No dia seguinte, Guto acordou disposto a brincar com alguém e lembrou-se do sonho. Resolveu experimentar gritando pelo vento:


- Vento. Venha até aqui!




Ele gritava, mas nada aconteceu.


- Ventinho, venha logo! E nada. Até que ele ficou aborrecido e entrou em sua casa fechando todas as portas e janelas. Foi aí que uma camada de ar aquecida pelo calor do sol se dilatou, tornou-se mais leve e subiu a colina. Outra camada de ar frio também foi aquecida e subiu. Assim se formaram as correntes de ar e sopraram a casa de Guto. Mesmo assim, ele resistiu e não abriu a porta.



Logo em seguida, uma brisa soprou com suavidade a porta. Guto nada respondeu. Outro vento soprou com brandura, e o menino não respondeu. Em seguida, o ciclone formou corrente de ar em espiral e bateu com force a porta. Nada, o menino não respondia. Até que chegou um pequeno furacão, vento fortíssimo, que movia com velocidade, entrou pelo buraco da fechadura e disse:


-Eu sou Arthurzinho, vamos brincar?



O menino surpreso respondeu:



- Você fala, que legal!



- Claro, bobo, você espera o que de mim?



Guto então abriu as portas e janelas e saiu correndo para o jardim de braços abertos a cantar e dançar.



- Agora tenho mais um amiguinho. Depois da estrela Soninha, e do Sol Luis, tenho um garoto levado, o Arthurzinho.



Gritou para que todos ouvissem do alto da colina. Como o lugar era distante, ninguém ouviu o grito do garoto que alegremente corria em volta do vento que deva muitas piruetas e levantava todas as folhas secas do chão.





A noite chegou rapidamente, e o menino foi contar à estrelinha tudo o que lhe aconteceu. A estrelinha sorrindo disse que era para ele não se sentir sozinho durante o dia. O menino agradeceu. No dia seguinte, um bem-te-vi o visitou pela manhã. Assentou-se no peitoril da janela e se pôs a dar bicadas na janela. Guto abriu, deu bom dia e ofereceu biscoitos ao pássaro para seu café matinal. Em seguida, foi molhar as plantar que estavam no sol. Passaram-se as horas, e nada do seu vento amigo Arthurzinho aparecer. Resolveu chamar de outra forma. Pelo canto de um poeta Caymmi, que dizia: “Vamos chamar o vento/ vento que dá na vela/vela que leva o barco/barco que leva a gente/gente que leva o peixe/peixe que dá dinheiro, Curimã...''. Era um canto belo, meio tristonho.




Mas nada do vento aparecer. O garoto Guto passou o dia todo a chamar o vento, até que cansado começou a chorar. A noite veio surgindo, e as estrelas no céu aparecendo. Soninha, vendo o menino tão triste, disse para ele:



- Não fique assim triste. O vento Arthur foi para o outro lado do mundo alegrar outro garoto triste. Afinal, ele tem que estar em diversas partes do mundo, levando alegria. Quando ele não puder aparecer, e a saudade apertar dentro da gente, lembre-se da memória. É lá que ficam guardadas as coisas que amamos e que não estão próximas no momento que queremos. Como disse a escritora Adelia Prado: “aquilo que a memória ama fica eterno”. Na alma da gente, as coisas ficam eternas porque ela, a memória, é o lugar do amor. E o amor não suporta que as coisas amadas sejam engolidas pelo tempo.



- As coisas que existem no mundo interior, ou seja, no mundo da memória, aparecem refletidas no espelho da fantasia. A fantasia é o espelho da alma. Os sonhos, por exemplo, são imagens do mundo de dentro. Reflexos da alma. Quando estiver com saudade do vento Arthurzinho, pense nos bons momentos que passaram juntos. Observe a natureza em volta e sinta o perfume das flores, o gosto das frutas, observe bem a forma e as cores das flores, veja as montanhas distastes, aproveite a água das cachoeiras, se não tiver cachoeira imagine as águas do chuveiro caindo em sua pele, sinta tudo isso e lembre desse vento que está em todas as coisas boas.



E foi assim que o menino Guto não chorou a falta do vento. Quando ficava triste, recordava os momentos que passaram juntos e as historinhas que ouvia e que também contavam juntos. De vez em quando, uma lágrima escapava, escorrendo em seus olhos; ele limpava rapidamente, corria em volta da casa para lembrar de todas as brincadeiras, das cantinas de rodas, do castelo de areia, das bolas de sabão subindo ao céu e de muitas outras. E ele aprendeu que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele momento, e que não importa o quanto seu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa disso. O importante agora é caminhar com pensamento positivo e lembrar das coisas boas. Um dia, bem próximo, o vento Arthurzinho, a estrela Soninha e o sol Luis vão estar junto.



Ah! havia esquecido do mar. Não lembra daquele sujeito forte que trazia ondas para nos divertir. Sim, o Odemar, ele continua firme. E para não assustar ninguém com suas ondas bravas, separou um cantinho no lado da casa, fez uma piscina para que todos, quando se encontrassem de novo, mergulhassem em suas águas calmas e tranquilas.



E todos viveram felizes para sempre.



Fim? Não, o vento Arthurzinho vai continuar com a historinha...

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

18 dezembro 2009

Música & Poesia

Todos os Verbos (Marcelo Jeneci Zélia Duncan)

Errar é útil
Sofrer é chato
Chorar é triste
Sorrir é rápido
Não ver é fácil
Trair é tátil
Olhar é móvel
Falar é mágico
Calar é tático
Desfazer é árduo
Esperar é sábio
Refazer é ótimo
Amar é profundo
E nele sempre cabem de vez
Todos os verbos do mundo
Abraçar é quente
Beijar é chama
Pensar é ser humano
Fantasiar também
Nascer é dar partida
Viver é ser alguém
Saudade é despedida
Morrer um dia vem
Mas amar é profundo
E nele sempre cabem de vez
Todos os verbos do mundo.




Segunda Elegia, Terceira Sede (Fabricio Carpinejar)

Ser inteiro custa caro.
Endividei-me por não me dividir.
Atrás da aparência, há uma reserva de indigência,
a volúpia dos restos.



Parto em expedição às provas de que vivi.
E escavo boletins, cartas e álbuns
- o retrocesso da minha letra ao garrancho.



O passado tem sentido se permanecer desorganizado.
A verdade ordenada é uma mentira.


O musgo envaidece as relíquias. Os dedos retiram as teias,
assisto à revoada de insetos das ciladas.
Fujo da claridade, refulge a poeira.
O par de joelhos na imobilidade de um rochedo.



Reviso o testamento, alisando a textura
como um gramático da seda.
Desvendo o que presta pelo som do corte.



O que ansiava achar não acho
e esbarro em objetos despossuídos de lógica
que me encontram antes de qualquer pretensão.



O que fiz cabe numa caixa de sapatos.



Colecionava talhos de madeira, bonecos
adornados com a ponta miúda do canivete.
Lá estava um dos sobreviventes, desfocado,
vizinho das medalhas escolares
e dos parafusos condoídos de ferrugem.



Um auto-retrato não seria tão fidedigno.
Eu era aquela frincha de chão florido, casca e húmus.



Quantas foram as miudezas que não combinavam
com o conjunto e, na falta de harmonia,
abandonei no depósito da infância?


E se faltou confiança para restaurá-las ao convívio,
faltou coragem para excluí-las em definitivo.


Somos o desperdício do que estocamos.
Não aprendemos a desaprender.
Não doamos nada, nem a palavra passamos adiante.


O porão tem vida própria e respira
o que jogamos fora.
O que refugamos na ceia volta a nos mastigar.


Tudo pode fermentar: o forro, os passos, o odor do braço.
Tudo pode nascer sem o mérito do grito,
como um murmúrio ou estalar de um abraço.


Tudo pode nascer, ainda que abafado.
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17 dezembro 2009

Dicionário poético

Como assíduo leitor de livros sobre cinema, música, quadrinhos, artes plásticas, filosofia e sociologia, confesso que poucas vezes abro o dicionário. Agora parece que mudei. Estou apaixonado por um dicionário. “Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento”, livro de Adriana Falcão traz preciosidades poéticas, reflexivas, bom mesmo. Leitura agradável, Falcão parece que aprisionou as palavras que o vento soprou para ela e agora está soltando, uma por uma, de A a Z.
Vou selecionar algumas para que o leitor possa apreciar oi trabalho dela:

Abandono – quando uma jangada parte e você fica.
Bondade - aquilo que sai do coração quando a torneira está aberta.
Calendário – Onde moram os dias.
Desculpa – Palavra que pretende ser um beijo.
Escuridão – o resto da noite, de alguém recortar as estrelas.
Fotografia – Um pedaço de papel que guarda um pedaço de vida nele.
Gula – quando chocolate é mais importante que espelho.
Horizonte – linha que serve para evitar que o céu e o mar se misturem.
Imaginação – todo filme que passa na cabeça da gente.
Juventude – os primeiros capítulos da pessoa.
Lealdade – qualidade de cachorro que nem todas as pessoas têm.
Manhã – o prelúdio do dia.
Nome – Toda palavra que já tem dono.
Óbvio – não precisa explicar.
Poeta – quem nasceu com talento para pôr do sol.
Querer – quando o olho do desejo brilha.
Razão – quando o juízo aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Sonho – um outro você que fica acordado enquanto você dorme.

Ternura – amor com recheio de goiaba.
Universo – um só verso que contém toda a poesia desse mundo.
Virgula – a respiração da idéia.
– única palavra do dicionário das aves traduzida para o português.
Zíper – fecho que precisa de um bom motivo para ser aberto.
Adriana recolheu todas essas palavras e muitas outras e colocou neste precioso dicionário. A cada página, essas palavras soltas vão direto para a alma da gente. Ela estreou com o romance “A Máquina”. Depois veio a experiência no teatro com o musical “Cambaio”, parceria de Chico Buarque e Edu Lobo. Ela publica crônicas na revista Veja Rio, uma delas transformada no infanto-juvenil “Mania de Explicação”, sucesso de público.
Emoções, sentimentos e palavras estão no livro “Mania de Explicação”, a história de uma menina que tinha a mania de explicar o mundo. Nele, a menina explica que “saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue” e que “lembrança é quando, mesmo sem autorização, o seu pensamento reapresenta um capítulo”.
Falcão escreve roteiros para programas de TV, como “A Grande Família”, “Comédia da Vida Privada” e “O Auto da Compadecida”, da Globo. Outro sucesso da escritora e roteirista é o realismo mágico de um casal de adolescentes chamado “Luna Clara e Apolo Onze”, onde cria personagens tão extravagantes quanto Aventura e Doravante e que mistura amor adulto, amor juvenil, paciência, sorte, enganos e desenganos. Uma prosa gostosa de se ler, com jeito de criança pedindo bala. Sua prosa é talentosa.
Outra obra de Adriana Falcão é “O Doido da Garrafa”, coletânea de textos preparados para a edição carioca do suplemento de serviço da revista Veja no Rio de Janeiro. Suas crônicas são leves e livres, preparadas com esmero de uma artesã que sabe trabalhar o vernáculo com descontração e beleza. “A sala do coração tem muitas janelas e duas portas. A que dá para dentro e a que dá para fora. A que dá para dentro está sempre aberta. A que dá para fora vive trancada”, escreveu. Como um falcão, Adriana tem pleno domínio da palavra, do texto simples, belo, romântico. Quando se abre um livro de Adriana Falcão as portas e janelas da alma se abrem também e as palavras começam a circular em nossas mentes e corações. É uma boa companhia.(Esse artigo foi publicado há dois anos e volto a republicar a pedidos)

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16 dezembro 2009

Mergulhe nessa terceira onda (2)

Para o estudioso Stuart Hall, o deslocamento do sujeito foi provocado por cinco rupturas nos discursos do conhecimento moderno. Marx, Freud, Saussure, Foucault e o feminismo foram fundamentais para a descentralização do sujeito enquanto identidade.

O pensamento Marxista reinterpretada na década de 60 tirou o homem do centro do sistema teórico.

A descoberta do inconsciente por Freud que arrasa a idéia do homem como ser provido de identidade fixa e unificadora.

O terceiro descentramento está associado ao trabalho desenvolvido de Ferdinand de Saussure. Ele argumentava que nós não somos em nenhum sentido, os autores das afirmações que fazemos ou dos significados que nos expressamos na língua. A língua é um sistema social e não individual. Ela pré-existe a nós. O trabalho de Ferdinand de Saussure diz que utilizamos a língua segundo padrões estabelecidos para nos posicionarmos de acordo com propostas pré-existentes.

O filósofo e historiador francês Foucault destacou o poder disciplinar onde as novas instituições coletivas de grande escala regulam, vigiam as atividades modernas.

E o último pensamento advém do feminismo que junto com outros movimentos de sua época promoveram transformações sociais importantes para a conceituação de identidade.

Assim a chamada “crise de identidade” pode ser entendida, segundo Stuart Hall, como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social. Ou seja, as velhas identidades, fixas, que na pré-modernidade serviram como representações estáveis e referência que os indivíduos, estão em declínio. Novas identidades vêm surgindo e, como conseqüência, ocorre a fragmentação do sujeito moderno.

Segundo os estudiosos, favoráveis a essa teoria, as identidades modernas estão entrando em colapso, transformando, “descentrando”, deslocando não só o sujeito, mas os parâmetros de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que antes forneciam localizações em nossa sociedade.

Tais transformações abalam a idéia que temos de nós mesmo como sujeitos integrados, afetam nossas identidades pessoais. É o “eu” dissolvido e, ao mesmo tempo, exilado no todo – já que se extingue o sentimento de pertencer à sociedade – talvez, mais significativa ainda, seja a “perda de um ´sentido de si´.” da própria identidade. Há um duplo deslocamento: tanto do sujeito em relação à sociedade e à cultura, quanto a si próprio.

E o sujeito moderno está se tornando fragmentado. Composto não só de uma, mas de várias identidades, que podem vir a lutar entre si. A identidade é transformada de acordo com as representações dos sistemas culturais. Nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. Assumimos diferentes identidades em diferentes ocasiões ao redor de um eu, não mais, fixo, estável ou permanente. Devido à multiplicação dos sistemas de significação e representação cultural, nos confrontamos com múltiplas possibilidades de identificação.

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15 dezembro 2009

Mergulhe nessa terceira onda (1)

Terceira onda, modernidade tardia e pós modernidade foram as denominações de estudiosos a sociedade pós-industrial. Para Alvin Toffler, as mudanças ocorridas na sociedade se processam como ondas do mar. E três grandes ondas são as responsáveis pelas transformações que alteraram a vida em sociedade, o modo de trabalho e produção, a política e o comportamento humano ao longo dos séculos. O que distingue uma onda de outra é um sistema diferente de criar riqueza. A alteração da forma de produção de riqueza é acompanhada de profundas mudanças sociais, culturais, políticas, filosóficas, institucionais.

A primeira onda foi a sociedade nômade para a sociedade agrícola. O domínio do solo transformou a civilização, que, além de extrair o seu sustento, passou a fixar-se nele. As famílias tornaram-se multi-geracionais e trabalhavam juntas, consumindo o que produziam. Na primeira onda a forma de criar riqueza era cultivando a terra. Os meios de produção de riqueza eram, portanto, a terra, alguns implementos agrícolas (a tecnologia incipiente da época), os insumos básicos (sementes), e o trabalho do ser humano (e de animais), que fornecia toda a energia que era necessária para o processo produtivo. Do ser humano se esperava apenas que tivesse um mínimo de conhecimento sobre quando e como plantar e colher e a força física para trabalhar.

A segunda onda assolou o mundo no século 18 com a Revolução Industrial, que transformou o modo de vida com que as pessoas deixassem o campo para viverem nos centros urbanos e trabalharem nas fábricas. Na segunda onda, a forma de criar riqueza passou a ser a manufatura industrial e o comércio de bens. Os meios de produção de riqueza se alteraram. A terra deixou de ser tão importante, mas, por outro lado, prédios (fábricas), equipamentos, energia para tocar os equipamentos, matéria prima, o trabalho do ser humano, e, naturalmente o capital (dada a necessidade de grandes investimentos iniciais) passaram a assumir um papel essencial enquanto meios de produção. Do ser humano passou a se esperar que pudesse entender ordens e instruções, que fosse disciplinado e que, na maioria dos casos, tivesse força física para trabalhar. Essa nova forma de produção de riquezas também trouxe profundas transformações sociais, culturais, políticas, filosóficas, institucionais, etc., em relação ao que existia na civilização predominantemente agrícola. Nós todos conhecemos bem as características desta civilização industrial, porque nascemos nela e, em grande parte, ainda continuamos a viver nela.

A terceira onda se iniciou na segunda metade do século 20 e tem como propulsores o advento do conhecimento – ou a Revolução da Informação – e a globalização entre outros inúmeros fatores que se relacionam nessa cadeia de mudanças. É a terceira onda que caracteriza a transição para a pós-modernidade. Na terceira onda, a principal inovação está no fato de que o conhecimento passou a ser, não um meio adicional de produção de riquezas, mas, sim, o meio dominante. Na medida em que ele se faz presente, é possível reduzir a participação de todos os outros meios no processo de produção. O conhecimento, na verdade, se tornou o substituto último de todos os outros meios de produção. Na guerra, por exemplo, um centímetro quadrado de silício, na forma de um chip programado, pode substituir uma tonelada de urânio. O conhecimento se tornou ingrediente indispensável de armamentos inteligentes, que são programáveis para atingir alvos específicos e selecionados. Para derrotar o inimigo, freqüentemente basta destruir seu sistema de informações.

CHAVE

E na informação e no conhecimento que está a chave da reorganização mundial. Assim os valores pós-modernos afetam a vida em velocidade. Segundo Martin-Barbero, a pós-modernidade é uma nova maneira de estar no mundo e afeta o sentido do convívio social. Na sociedade na qual a linguagem multimídia impera, vivemos a simulação. A sociedade pós-moderna deseja viver o presente, fazer do hoje o mundo ideal. E assim morrem as grandes utopias e, em seu lugar, entra a performance.

O resultado disso é uma crise de identidade vivida pelo sujeito pós-moderno, que, por ser plural (não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente), não sabe qual é o seu lugar no mundo. Ele busca entender qual o seu lugar na nova sociedade porque as transformações ocasionadas com a onda de mudança “estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a idéia que temos de nós próprios como sujeitos integrados”, informa Stuart Hall em sua obra “A identidade cultural na pós-modernidade”.

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14 dezembro 2009

O que é necessário saber sobre mundialização e cultura (4)

A cartografia do consumo mundial independe das realidades nacionais. Aos consumidores são propostos (ou impostos) uma gama extensa, mas uniforme de bens semelhantes, produzidos e distribuídos em grande escala. O processo de mundialização se acelera na Europa, nivelando-o com os Estados Unidos. A tríade (Estados Unidos, União Européia e Japão) apresenta um núcleo hegemônico de produção cujo mercado segmentados apresentam demandas relativamente homogêneas.

O livro “Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização”, de Nestor Garcia Canclíni, trata do significado de cada um desses papéis em meio às mudanças culturais que alteram a relação entre o público e o privado e entre o local e o global. “Os atos pelos quais consumimos são algo mais do que simples exercícios de gostos, caprichos e compras irrefletidas, tal como costumam ser explorados pelas pesquisas de mercado”, declara Canclini. O autor critica o modelo neoliberal de globalização, em que as decisões políticas e econômicas são tomadas em função do consumo imediato, enquanto nos países da periferia a população encontra-se em condições pouco ou nada favoráveis de trabalho e sem memória histórica. Como a globalização incorpora, dentro de cada nação, diferentes nações e setores, a sua relação com as culturas locais e regionais não está somente no sentido de homogeneíza-las, pois as diferenças são convertidas em desigualdades. A globalização – em sua pretensão democrática e plural – se dá de forma seletiva, pois os direitos são desiguais e os objetos de consumo se restringem às elites.

LEMA

Pense global, aja localmente. É o lema das grandes corporações. O local não está necessariamente em contradição com o global, pelo contrário, encontram-se interligados. A globalização se realiza através da diferenciação. Há um nivelamento cultural (a padronização se vincula apenas a alguns segmentos sociais), preservando as diferenças entre os diversos níveis de vida. Um mundo nivelado não é um mundo homogêneo. A modernidade não é apenas um modo de ser, ela é também ideológico. Conjunto de valores que hierarquiza os indivíduos, ocultando as diferenças-desigualdades de uma modernidade que se quer global.

“Os jovens vivem hoje a emergência das novas sensibilidades, dotadas de uma especial empatia com a cultura tecnológica, que vai da informação absorvida pelo adolescente em sua relação com a televisão à facilidade para entrar e mover-se na complexidade das redes informáticas. Diante da distância e da prevenção com que grande parte dos adultos sente e resiste a essa nova cultura – que desvaloriza e torna obsoletos muitos de seus saberes e destrezas -, os jovens experimentam uma empatia cognitiva feita de uma grande facilidade na relação com as tecnologias audiovisuais e informáticas e de uma cumplicidade expressiva; com seus relatos e imagens, suas sonoridades, fragmentações e velocidades, nos quais eles encontram seu idioma e seu ritmo. Pois diante das culturas letradas, ligadas à língua e ao território, as eletrônicas, audiovisuais, musicais ultrapassam essa adstrição, produzindo novas comunidades que respondem a novos modos de perceber e de narrar a identidade. Estamos diante de novas identidades, de temporalidades menos largas, mais precárias, mas também mis flexíveis, capazes de amalgamar e de conviver com ingredientes de universos culturais muito diversos”. É o que escreveu Jesús Martin Barbero no artigo “Globalização comunicacional e transformação cultural”, incluído no livro Por uma outra comunicação.

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11 dezembro 2009

O que é necessário saber sobre mundialização e cultura (3)

A indústria fonográfica mundial é dominada por algumas grandes firmas – Bertelsmann Music Group, EMI, Poly Gram, Sony, Virgen, Warner Music. Esta tendência para a concentração, se expandiu na área cinematográfica, televisiva, envolvendo ainda a produção de vídeos, videogames, livros e periódicos. As recentes megafusões entre as firmas Transnacionais New Corporation inclui o New York Post, Chicago-Sun-Times, Boston Herald American, The Economist, South China, Morning Post, Metromedia, e Fox.

A Time Warner Inc concentra atividades na área jornalística (Time, Life, Fortune, People) cinematográfica (Warner), televisão a cabo (American Television, Communication Corporation), entre outros. Assim, concentração significa controle. E as consequências disso são graves, pois as agências transnacionais são instâncias mundiais de cultura, sendo responsáveis pela definição de padrões de legitimidade social.

A revolução digital mescla texto, som, e imagem. Co a unificação dessas três culturas estão surgindo firmas, empresas que tem a vocação de administrar todo o conteúdo das diferentes esferas. A Time Warner se fundiu com a América On Line. O grupo Time (e sua revista Time), o cinema Warner com a tevê Warner e o canal, a cabo Warner ou ainda com a CNM e a AOL (portal de entrada na Internet). Tudo para o poder global onde a informação hoje é acelerada, instantânea, feita de impressões, sensações. E já que a informação tende a ser cada vez mais gratuita, grandes firmas midiáticas presenteiam informação. Mas o quer essa empresa midiática vende, na verdade, é o número de consumidores que possui para seus anunciantes.

As maneiras de pensar, distintas da ideologia de mercado, dos valores de uma cultura internacional-popular, encontram um espaço reduzido, previamente demarcado, para se manifestarem. A oligopolização, longe de favorecer o pluralismo, reforça um sistema de crenças, integrando todos a uma ordem coercitiva.

HOMOGENEIZADO

O mundo está cada vez mais idêntico? As necessidades e os desejos humanos se encontram irremediavelmente homogeneizados. E para realçar as particularidades de cada lugar, a Coca Cola reduziu o tamanho de suas garrafas, ajustando às geladeiras do mercado espanhol; as calças jeans no Brasil são mais apertadas, realçando as curvas femininas; os japoneses sabem que os europeus tendem a adquirir aparelhos estereofônicos fisicamente pequenos, de alto desempenho, mas que podem ser escondidos num armário, enquanto os americanos preferem, grandes alto-falantes. Assim o específico supera o genérico.

A Walt Disney Co. fechou este ano de 2009 um acordo para comprar a Marvel Entertainment Inc. em troca de pagamento em dinheiro e ações no valor de quatro bilhões de dólares. Homem-Aranha, Homem de Ferro, X-Men, o elenco de mais de 5.000 personagens da Marvel inclui o Capitão América, o Quarteto Fantástico, Thor, entre outros. Disney e Marvel anunciaram que os acionistas da Marvel receberão 30 dólares por título em dinheiro e aproximadamente 0,745 de ação da Disney por cada ação da Marvel.

A Disney, por exemplo, responde não só por gibis do Tio Patinhas, pelos parques de diversão e pelas animações da Pixar. Ela engloba também o canal ABC (de Lost e Desperate Housewives), um dos líderes em audiência nos EUA, as produtoras de cinema Touchstone e Miramax, canais de TV a cabo como Jetix e The History Channel, a editora Hyperion Books e a maior parte da ESPN.

A DC Comics, também faz parte de um conglomerado, a Time Warner, que – por acaso ou não – disputa diariamente com a Disney a posição de maior do mundo. Time Warner, novamente, não é só Superman e Pernalonga, mas a America Online, os canais HBO (de Família Soprano e True Blood), The CW (de 90210 e Smallville), Cartoon Network, uma parte da CNN, a revista Time e muita, mas muita coisa.

Cada vez mais ocorre uma homogeneização através de países, mas ocorre também, no interior desses países, uma segmentação. Diferença e similaridade se combinam. As pessoas são diferentes e são iguais. As similaridades as tornam humanas, as diferenças lhes dão um caráter individual.

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