31 março 2022

Curiosidade dos quadrinhos (11) Paladino precursor

 


O Pantera Negra foi o primeiro super herói negro. Quando ele surgiu nos quadrinhos, a Guerra Fria fazia a sociedade viver com o medo de um possível conflito nuclear e, de ambos os lados da Cortina-de-Ferro, uma intensa disputa tecnológica fazia a ciência avançar. Nos Estados Unidos, o movimento dos direitos civis protagonizado pelos negros confrontava um racismo (ainda) não superado pelo país. Em julho de 1966, o personagem criado por Stan Lee (roteiro) e Jack Kirby (arte) fez sua estreia na revista Fantastic Four #52: ele aparece na capa como "o sensacional Pantera Negra!". No enredo, o super-herói surpreende o Quarteto Fantástico ao presenteá-lo com uma nave e um convite para conhecer Wakanda, o país da África Oriental que ele comanda como rei. O verdadeiro nome do super-herói é T'Challa. Em Wakanda, uma nação fictícia, tradições tribais e tecnologia futurista tanto convivem em paz quanto se complementam como partes de uma só sociedade. O país desenvolveu-se a partir de seu principal recurso, o vibranium, também fictício. Ao estrear naquele gibi do Quarteto Fantástico, o Pantera Negra se tornou o primeiro super-herói mainstream negro. No início dos anos 1960, a Marvel apostava em personagens como o Quarteto, X-Men e Homem-Aranha para tentar sair de uma má fase financeira. Enquanto isso, os quadrinhos viviam a icônica Era de Prata, em que artistas como Lee e Kirby transformaram os super-heróis em figuras complexas, que vivem conflitos em alguma medida próximos da realidade dos leitores.

30 março 2022

Curiosidade dos quadrinhos (10) Os Jetsons anteciparam as tecnologias

 

Os Jetsons, desenho animado produzido pela Hanna-Barbera foi exibido originalmente entre 1962 e 1963. Muitas tecnologias apresentadas se tornaram realidade – ou quase – e que foram previstas pelos Jetsons: Rosie, a empregada, é um robô e robôs eram usados regularmente na série para completar as tarefas diárias, como cozinhar e limpar e ajudar os personagens a se vestir. Atualmente já existem robôs que pode andar, falar e interagir com os humanos. Em um dos episódios, um rico empresário utiliza sua cama de bronzeamento pessoal.  As verdadeiras camas de bronzeamento pessoais foram introduzidas em 1978 – mais de uma década depois da exibição deste episódio. Passear na lua não era grande coisa, e em um dos episódios o pequeno Elroy vai para lá em uma viagem de escoteiros. Atualmente empresas estão trabalhando para começar a oferecer “voos suborbitais”; já a NASA é parceira da SpaceX, de Elon Musk, para missões comerciais. Há também um porto espacial no Novo México que recebe turistas que desejam ir ao espaço. 

 


De acordo com o desenho, no futuro nós não dirigiríamos em estradas, mas no ar – em pequenos carros aéreos com painel de visão em formato de bolha. Atualmente diversos engenheiros vêm tentando chegar lá por várias décadas, e como a Popular Mechanics relatou, estamos mais perto do que nunca. Um dos últimos modelos do gênero que foi produzido é o Terrafugia Transition, que pode chegar até a 62 mph na estrada, com as rodas traseiras impulsionadas horizontalmente por um motor de quatro cilindros Rotax 100-hp. Em vez de simples telefonemas, os personagens eram regularmente vistos usando um “videochat”, seja Jane falando com sua família ou George recebendo uma ligação indesejada do Sr. Spacely. Nesta área, já superamos as expectativas dos Jetsons. Ferramentas de vídeo chat, tais como Skype, WhatsApp, Google Voice, FaceTime e Logitech são regularmente utilizadas para negócios e em casa. E o melhor: sua utilização não se limita a um único monitor, mas pode também ser usado a partir de dispositivos móveis. Para muitos, seria difícil imaginar a vida sem ver colegas e entes queridos falando com você em tempo real.

 


George decidiu que, com a ajuda da ciência, ele criaria outro George para ir ao trabalho enquanto ele próprio ficaria em casa relaxando. Foi na época dos Jetsons que a clonagem humana passou a ser debatida como uma possibilidade real, e várias leis ao redor do mundo baniram a prática. Cães e ovelhas foram clonados e há muito interesse em trazer de volta à vida, a partir de células intactas, animais extintos, como o mamute.

 

29 março 2022

Curiosidade dos quadrinhos (09) Primeiro herói mascarado dos quadrinhos: The Clock

 

The Clock (O Relógio, no Brasil Gongo) foi criado pelo cartunista George Brenner, aparecendo pela primeira vez em duas HQs da revista Comics Magazine: a Funny Pages de sexta edição e a Funny Picture Stories de primeira edição, as duas lançadas em novembro de 1936. Suas primeiras aparições foram em duas páginas, com pouco espaço para desenvolvimento de personagens, a identidade secreta do personagem acabou sendo divulgada como o pouco conhecido Brian O’Brien, um membro de uma organização, um homem rico e de alta sociedade.

 


O personagem pode ser uma “conexão perdida” entre os heróis da polpa e dos quadrinhos. Um hipnotizador com um covil subterrâneo secreto, seu traje minimalista como um mestre do disfarce era um terno e uma máscara de três peças. O The Clock sempre utilizou uma série de dispositivos (incluindo uma bizarra bengala, onde sua cabeça é tão tecnológica se torna um projétil e um pino de diamante que dispara gás lacrimogêneo), e costumava deixar um cartão com um mostrador de relógio e “O relógio bateu”.

 

Em 1940,  The Clock passou a ser editado pela Quality Comics. The Clock é considerado o primeiro herói mascarado dos quadrinhos tendo surgido meses antes do Fantasma, com um detalhe, sua publicação foi nos chamados comics (revista em quadrinhos)  e o FANTASMA era nas strips (tiras publicadas em jornais).

 

28 março 2022

Curiosidade dos quadrinhos (08) Primeiro herói fantasiado dos quadrinhos

 

O Fantasma foi um dos primeiros heróis fantasiados dos comics e que mesmo sem ter superpoderes é considerado um super-herói. Sua saga, embasada na mitologia da imortalidade, por manter uma tradição de 4 séculos de pai para filho, faz dele um personagem distinto, um justiceiro impossível de ser vencido.

 


O Fantasma (The Phantom), primeiro herói mascarado que estreou nos jornais norte americanos em 17 de fevereiro de 1936, em tiras diárias, ganhando três anos depois (maio de 1939) a sua página dominical. Tido pelos nativos como imortal, na verdade o Fantasma cede o lugar ao seu sucessor quando se aposenta, e o uniforme é passado de pai para filho por gerações sucessivas. O mistério que ronda o personagem parece ter sido um dos principais fatores do seu sucesso. Embora todos os leitores saibam que ele se chama Kit Walker, seu rosto jamais foi mostrado. Mesmo quando o Fantasma esconde a fantasia e se disfarça para  “percorrer as ruas da cidade como um homem qualquer”, sua aparência é ainda mais misteriosa, com chapéu, capote e óculos escuros. Um personagem meio fantástico, mascarado, dominando as selvas de Bengala com a ajuda dos pigmeus do experiente Guran, morando na caverna da Caveira, contando também com a solidariedade de Capeto, o cão-lobo, e de Herói, o cavalo. Depois, o Fantasma teria a amizade de Diana Palmer, a moça da sociedade que encontra nele, e no seu mistério, o que convém às garotas fascinadas pelos príncipes encantados.

27 março 2022

Curiosidade dos quadrinhos (07) DC mata Lanterna Verde

 

Uma popular versão do Lanterna Verde morreu nos quadrinhos da DC. Trata-se de Guy Gardner. Ele morre em uma história em quadrinhos chamada The Human Target #6, março de 2022. Roteiro de Tom King e arte de Greg Smallwood, a nova série da DC Comics Black Label, The Human Target

Ele é congelado por Gelo antes de levar um soco de Christopher Chance, também conhecido como Alvo Humano. O soco faz com que a cabeça de Guy Gardner se parta em vários pedaços. Obviamente, essa morte não deve ser permanente. Os heróis estão sempre morrendo e retornando nas histórias em quadrinhos. A atitude dos personagens diante dessa morte, talvez, seja por que não é de hoje que Guy Gardner causa polêmicas no universo DC. Pelo contrário, conhecido como o mais problemático dos Lanternas Verdes, ele já foi apontado como machista, violento, folgado e sem noção.



Lanterna Verde é uma série em quadrinhos da DC Comics. Alan Scott, o primeiro Lanterna Verde humano, surgiu em 1940, em All-American Comics #16, pelas mãos de Martin Nodell e Bill Finger. O super-herói da chamada Era de Ouro dos Quadrinhos, porém, foi reformulado em 1959, em Showcase #22, por Julius Schwartz, John Broome e Gil Kane como um novo personagem com o mesmo nome. O Lanterna Verde da Era de Prata, membro fundador da Liga da Justiça, é Hal Jordan, um piloto de testes escolhido por um alienígena moribundo, Abin Sur, para tornar-se o defensor do setor espacial 2814, que inclui a Terra, tornando-se um dos membros da Tropa dos Lanternas Verdes.

Durante a decadência dos heróis nos anos 1990, Hal Jordan, o então mais querido de todos os Lanternas Verdes, tornou-se o vilão Parallax e dizimou a Tropa dos Lanternas Verdes. Geoff Johns não somente trouxe Hal dos mortos, como também restaurou sua reputação e criou uma nova mitologia para os Lanternas Verde e várias outras tropas que dividem as emoções e as cores do universo. Entre 2004 e 2005, Lanterna Verde: Renascimento se tornou o carro-chefe da DC Comics e liderou mudanças importantes em toda a editora.

 

26 março 2022

Curiosidade dos quadrinhos (06) Pioneira na sensualidade

 


A criação de Max Fleischer, Betty Boop (1931) começou com desenho animado e, com a repercussão, virou quadrinhos. Uma das pioneiras da introdução do sexo na área. A sensual dançarina de cabaré surgiu como uma cadela. Mais tarde ela reapareceu com formas humanas. Com jeito provocante, sempre com as pernas de fora, deixando aparecer uma cinta-liga charmosa, Betty tinha uma imagem que se espelhava nas divas daquela década. A fama chegou de vez quando ela apareceu em "Boop-Oop-a Doop-Girl", de Helen Kane. A partir daí a garota entrou para a história, participando de mais de cem animações. O rosto angelical era moldado da estrela Helen Kane (que processou o autor) e o corpo de Mae West. A censura, entretanto, podaria o ar sensual de Betty. Em 1934, o novo Código de Produção impediu que ela continuasse exibindo seus decotes e roupas insinuantes, "em nome da moral". Eram tempos de Disney, com seus personagens felizes, fofos e divertidos. Os produtores mudaram a aparência de Betty, vestindo-a até o pescoço. Mas não deixaram de fora o contorno de seus seios sob as malhas colantes. A personagem também ganhou um namorado, Fearless Fred, que a acompanhava em situações mais comportadas.

25 março 2022

Curiosidade dos quadrinhos (05) Primeiro detetive

 

Em Chicago, EUA (1931), uma pesquisa de opinião pública revelou que, no auge da crise econômica americana, os leitores mais se familiarizavam com astros do cinema, depois com os gangsters e em terceiro lugar com ídolos esportivos, e não sem razão, utilizando essa preferência popular, a história em quadrinhos, em plena efervescência, criava um dos seus mais conhecidos e consumidos personagens.  No dia 12 de outubro, segunda-feira, no New York News, Chester Gould lança DICK TRACY, um policial cujo tema de fundo é a vingança. Com Tracy estrearam nas HQs o sangue e a violência.

 


Com seu nascimento, através dos traços fortes de Chester Gould, nascia, também, nos quadrinhos, o modelo para a historieta policial que, mais tarde, teria uma sucessão de seguidores.  Nesse ano o gangsterismo nos EUA atuava livremente, estimulado pela desagregação social causada pela Lei Seca, que proibia aos cidadãos direito de beber quando quiserem. Era a depressão de 1929. Em 1931 Al Capone era condenado por sonegação de Imposto de Renda.

 

O crime e a incompetência da polícia eram assuntos comuns ao povo americano. Gould cria um policial que reconquista o respeito do público pela lei. O sangue e a violência estreavam na HQ. As situações dramáticas se sucediam, extremamente realísticas em seu estilo de grande farsa. Balas calibre 38 esburacavam cabeças e mutilavam corpos. Aos delinquentes era destinado o fim mais horrível. Tracy se torna o justiceiro sem alma. Isso, porém, sem nunca sair de seus limites de policial - pois, se algumas vezes a lei se mostra incapaz de punir em toda a sua extensão um crime horrível, a mão do destino intervém através de Chester Gould com extrema crueldade.

 


Dick Tracy surgiu quando corria a época do proibicionismo, do gangsterismo organizado, da corrupção, do “não” ao poder constituído. E o público exigia uma força policial, de características burguesas, que pudesse - ao menos nos quadrinhos - responder à violência com violência. Nesse ano o gangsterismo nos EUA atuava livremente, estimulado pela desagregação social causada pela Lei Seca, que proibia aos cidadãos o democrático direito de beber quando quisessem, e pela depressão econômica de 1929. Exatamente em 31, Al Capone era condenado por sonegação do Imposto de Renda.

 

Chicago era a mais conturbada cidade da época. Foi quando Chester Gould, residente em Chicago, teve a ideia de que se a polícia não conseguia pegar os gangsters, ele criaria um sujeito que o fizesse. Um policial que reconquistasse o respeito do público pela lei. E Gould criou o personagem Plainclothes Tracy (plaiclothers: roupa comum, gíria policial civil), enviando-o ao Capitão Joe Paterson, diretor do Chicago Tribune New York News Syndicate. Peterson conhecia bem a Chester desde 1921, e havia recusado diversas ideias de Gould para historieta. Desta vez telegrafou de Nova Iorque dizendo que aceitava a tira, achando, porém, o nome grande demais, sugeriu que fosse mudado para Dick Tracy, já que Dick, além de ser diminutivo de Richard, na gíria popular também significava detetive. Dick Tracy aponta para uma narrativa enxuta, sem maiores arroubos formais, mas sempre precisa. Os quadrinhos apresentaram seu primeiro detetive, com uma galeria criativa de vilões. Influenciou os cineastas Alain Resnais e Jean Luc Godard.

 

24 março 2022

Curiosidade dos quadrinhos (04) Primeiro personagem de quadrinhos a envelhecer

 

Em 1918, os automóveis estavam tornando-se uma mania nos EUA. Buscando aproveitar essa onda, em 24 de novembro desse ano, Frank King lançou a tira em quadrinhos Gasoline Alley, protagonizada por Walt Wallet, para a página de quadrinhos dominicais do jornal Chicago Tribune. As histórias giravam em torno dos amigos Walt, Doc, Avery e Bill conversando sobre automóveis. Até aí, seria uma tira normal de quadrinhos da época. A grande virada, porém, veio em 14 de fevereiro de 1921, quando, buscando atrair o público feminino para sua tira (uma sugestão do editor Joseph Patterson), Frank King introduziu um bebê na história.

 


Walt é acordado pela campainha em uma manhã e, ao abrir a porta, depara-se com um bebê abandonado na frente de sua casa. Ele, um solteirão, adota o bebê, dando-lhe o nome de Skeezix, e a partir desse momento a tira passa a acompanhar o desenvolvimento do bebê em tempo real, tornando-se mais uma narrativa da vida de uma família tipicamente americana do que comentários sobre automóveis. Skeezix passa a ser o primeiro personagem de quadrinhos a não se manter imutável com o tempo, envelhecendo junto com seus leitores, assim como passa a ocorrer com os demais personagens da tira.

 


Skeezix teve diversas aventuras em sua infância, tornou-se um adolescente, começou a trabalhar, lutou na Segunda Guerra Mundial, casou-se com Nina, teve dois filhos, passou pela crise da meia-idade e se aposentou. Walt também envelheceu, casou-se, teve um filho, adotou outra menina, se aposentou e ficou viúvo. E os leitores acompanharam tudo isso na tira.

 

23 março 2022

Curiosidade dos quadrinhos (03) Exposição pioneira de quadrinhos

 


A primeira exposição de quadrinhos do mundo foi realizada em São Paulo em 18 de junho de 1951. Na época, havia campanhas contra os quadrinhos no país, apoiadas por professores, pais de crianças e padres. Além de não ser considerada uma forma de arte, a história em quadrinhos era pivô de uma disputa dos jornais Última Hora e Tribuna de Imprensa contra O Globo. Isso porque a publicação de Roberto Marinho vinha acumulando uma fortuna devido aos quadrinhos que não recusava publicar. A Expo Internacional de Quadrinhos, organizada pela Associação Brasileira de Imprensa, foi uma tentativa de conter o preconceito contra esse tipo de arte. Hoje, São Paulo consta em enciclopédias da França, Itália, Estados Unidos e Espanha como a primeira cidade do mundo a promover os quadrinhos de forma didática.

 

 

22 março 2022

Curiosidade dos quadrinhos (02) O que é Linha Clara?

 


A Linha Clara é um estilo de desenhar e pintar quadrinhos que tem origem em antigos autores franceses como Joseph Porphyre Pinchon, o criador de Bécassine, e Alain Saint Ogan, o idealizador dos personagens Zig e Puce. A Ligne Claire consiste em um tipo de grafismo que é caracterizado pelo uso de chapadas, com pouco ou nenhum sombreamento, e pela utilização de cenários extremamente detalhados e realistas. Os autores que se dedicam a esse segmento também gostam de ambientar suas histórias, geralmente nos anos 1930, 1940 e 1950, dando um caráter retrô a este tipo de quadrinho.

 


O belga Hergé, o pai de Tintin, é um de seus maiores representantes. Outros artistas que tem este tipo de visual em suas obras: Edgar Pierre Jacobs, Daniel Torres, Yves Chaland, Ted Benoît, René Sterne, Chantal de Spiegeleer, Stanilslas, Bob de Moor, Serge Clerc, Floc’h, Jacques Martin, Theo Van Den Boogaard, Willy Vandersteen, Jooste Swarte, Daniel Torres e muitos outros. Suas origens geográficas se dividem entre França, Bélgica, Holanda e Espanha. De tudo o que citamos, Bécassine talvez seja a referência mais antiga de Ligne Claire conhecida.

 

21 março 2022

Curiosidade dos quadrinhos (01) Primeira protagonista dos quadrinhos

 

Bécassine foi considerada a primeira heroína dos quadrinhos e sua imagem se disseminou em filmes, bonecos, desenhos animados, chaveiros e outros. Ela apareceu em 2 de fevereiro de 1905, nas páginas de La Semaine de Suzette, e sua autoria foi durante muito tempo creditada a dois homens, Maurice Languereau e Jean-Pierre Pichon. No entanto, só mais tarde descobriu-se que Bécassine foi criada por uma mulher, a romancista Jacqueline Rivière, primeira editora-chefe de La Semaine de Suzette e desenhada por Joseph Pinchon. Editora-chefe de La Semaine de Suzette, Jacqueline Rivière criou Bécassine para preencher uma brecha deixada na revista devido a um erro cometido por um dos funcionários. Rivière concebeu a personagem e assinou sua HQ de estreia como roteirista. No entanto, logo em seguida Joseph Pinchon assumiu sozinho as HQs de Bécassine, seguido depois por outros artistas, homens, que passam a ser os únicos a receberem os créditos pela criação e produção da personagem. Mesmo obras mais atualizadas sobre a história dos quadrinhos na França ainda omitem o nome de Rivière, dando crédito à criação de Bécassine apenas a Pinchon. Inicialmente a personagem possuía um estereótipo da criada burra que vinha do interior. Como a revista era direcionada às meninas conservadoras de Paris e devido a época em que era publicada isso não foi muito questionado. Seu nome deriva de uma ave migratória de caça e é também uma forma de dizer “tolo” em francês.

 


Em 1913 a personagem ganhou novos contornos, cores e um novo roteirista. Ainda com seu pequeno nariz e sem ter sua boca geralmente desenhada e sempre acompanhada do seu guarda-chuva, Bécassine se tornou uma figura mais simpática e de bom senso. Nas histórias pilotou avião, praticou esportes e até se alistou na Cruz-Vermelha. Sendo admirada por muitos, inclusive os franceses. Desse período até 1950, Bécassine teve 27 volumes sendo que apenas 2 foram desenhados por outro artista que não Pinchon. Após sua morte em 1953, a série continuou nas mãos de outros artistas, como Jean Trubert. A personagem também teve seu momento de crise e só se recuperou após uma cantora francesa (Chantal Goya) dedicar uma música a ela. Intitulada “Bécassine, c’est ma cousine” (Becaasine, ela é minha prima) o hit vendeu mais de três milhões de cópias em 1979.

 


SURGIDA EM 1905, A PERSONAGEM BÉCASSINE ESTÁ NA ORIGEM DA LINHA CLARA, ESTILO DE HQS QUE TEM TINTIN COMO SEU MAIOR REPRESENTANTE

20 março 2022

Outono: estação da nostalgia

 

No outono (começa hoje, dia 20 de março e termina dia 21 de junho) os dias ficam mais curtos e mais frios, anoitece mais cedo. Depois de tanto calor nada como uma brisa fresca. Sinal que o outono está chegando. As folhas de muitas árvores, arbustos e outras plantas começam a pintar-se de muitas cores: amarelo, castanho e vermelho. Todas vão cair ao longo dos meses de março, abril, maio e junho e cobrir o chão dos parques e das ruas, formando tapetes coloridos. As frutas, já amadurecidas, também começam a cair no chão.

 


Esta é a época das grandes colheitas. Isto por que os países do hemisfério sul precisam se preparar para o inverno que vem chegando. É necessário armazenar bastante comida para que nada possa faltar. O outono é a natureza a envelhecer. Diz-se que uma pessoa está no “outono da vida” quando a sua idade se aproxima da velhice. É tempo de hortência, azaleia, flor de maio e margarida.

 

Quando o verão passa para o outono, a energia da terra se transforma em metal. Nessa fase a energia começa novamente a se condensar, se contrair, voltar-se para dentro para acumular e se armazenar, assim como armazenamos nossos alimentos no outono, para sobreviver no inverno. É a fase de liberar tudo que está gasto como as folhas das árvores que caem para poupar a essência, que é então armazenada para suportar a fase não produtiva da água, do inverno. Se nesta fase não houver bastante energia para contrair, não haverá força suficiente para passar o inverno e o próximo ciclo da madeira primavera será fraco. A energia do metal controla o pulmão, que extrai a energia essencial e expele as toxinas do sangue e do intestino grosso, que elimina a sujeira pesada enquanto retêm e recicla toda a água do organismo.

 


A cor da fase metal é o branco, que dá origem a todas as cores, cor da pureza e da essência, relacionada com a espiritualidade. O outono é a estação da introspecção e da meditação, de reciclar sentimentos antigos, apegos externos e o excesso de emoções adquiridas durante o verão, assim como as árvores se livram das folhas secas e buscam os nutrientes de suas raízes. Se resistirmos a esta energia e ficarmos aprisionados no passado podemos criar estados de melancolia, de tristeza e de depressão que se manifestam em dificuldades respiratórias, dores nas costas, problemas de pele e baixa resistência a doenças. Assim como o metal é a energia refinada extraída da terra e lapidada pelo fogo, o outono é a estação onde devemos extrair aprendizagens das atividades e experiências do verão, transformando-as na quietude e sabedoria do inverno.

 

O outono chega e, com ele a brisa que nos percorre o corpo ainda quente, vamos aos poucos começar a acalmar depois de tanta energia consumida no verão. As primeiras folhas caem no chão, sabemos que agora começa a época de acalmar de novo, de voltar a pôr os pés no chão ao mesmo tempo que vamos saboreando e recordando as emoções que acabamos de sentir no pico do verão. Procuramos o melhor aconchego, descansando um pouco pra que as forças regressem para um novo ciclo. Estamos no momento de reflexão e relaxamento após o êxtase, estamos a saborear tudo o que vivemos e a incorporar em nós o que aprendemos. É o fim de um ciclo e o preparar um novo ciclo. Um ciclo se encerra e outro vai começar.

 


No outono, as folhas de muitas plantas caem, porque aqui se completa seu ciclo de vida. Como esta estação antecede ao inverno, alguns animais já se previnem hibernando, enquanto outros constroem esconderijos. A temperatura começa a cair, e a paisagem adquire um tom ocre. É a estação da nostalgia. Os resíduos do verão ainda passeiam por entre as cores e os comportamentos, mas o aconchego do inverno já espreita e, timidamente vai se tomando o seu espaço.

 

O amor no outono se reveste de sinais: sorrisos repentinos, olhar de devaneio, suspiros de veludo, taquicardia, calafrios no estômago, sonhos acordados e uma sensação de estar em outra galáxia. O sentimento nessa estação da vida possui os mesmos idênticos sintomas de qualquer outra época porque ele não tem idade. Quando o amor acontece, desperta o melhor de cada ser, sublima o que estava encerrado a sete chaves, abre janelas, areja todos os cantos da alma, sacode poeiras e dá sentido a todas as coisas. Ele é soberano e sábio. Escolhe seus parceiros e lhes oferece a chance da felicidade. O amor outonal é conquista, é direito adquirido, é superação, é serenidade. (Texto escrito em 2006)

 

14 março 2022

50 anos sem Cosme de Farias

 

Há 50 anos, no dia 14 de março de 1972 morria um dos maiores opositores da ditadura instalada em 1º de abril de 1964, Cosme de Farias. Ele ficou conhecido como “Advogado dos Pobres” e “considerado o último grande rábula do país”. Popularizado pela combatividade, liderou a luta pela extinção do analfabetismo, desde 1914. Sua Carta de ABC era o símbolo da famosa Liga Baiana contra o Analfabetismo. Advogado provisionado, ou rábula, fez história nos tribunais baianos, ao ganhar a maioria das causas em defesa dos pobres da Bahia. Diz-se que foi o recordista mundial em impetração de habeas corpus.

 

Batizado de “pai dos pobres” pelo povo baiano, Cosme de Farias (1875-1972) atuou como jornalista em vários periódicos; foi funcionário público; destacou-se como rábula (advogado sem diploma de Bacharel), poeta, militante de causas como o combate ao analfabetismo e à carestia; cumpriu quatro mandatos como vereador e cinco como deputado estadual. Testemunha e muitas vezes protagonista dos principais fatos das primeiras décadas da República, buscou a mudança do destino de centenas de pessoas através de ações na Liga Baiana contra o Analfabetismo e em outros movimentos sociais, organizações da sociedade civil e manifestações públicas. Responsável pela publicação de milhares de Cartas do ABC e pela manutenção de centenas de escolas públicas de ensino fundamental para adultos e crianças, muitos anos antes da criação de programas governamentais, a exemplo do Movimento Brasileiro pela Alfabetização (Mobral).


 

Pregava e atuava pela escolarização, por melhores salários e condições de trabalho, e contra os preços de gêneros de primeira necessidade. Por sua benemerência, ganhou de presente a patente de Major R-2 da Guarda Nacional, mesmo sem nunca ter empunhado armas. A figura peculiar de Cosme de Farias inspirou o escritor Jorge Amado a criar o major Damião de Souza, em seu livro Tenda dos Milagres. Cosme de Farias sustentou, fundou, manteve escolas primárias, cuidou dos loucos, escreveu nos jornais pedindo auxílio para as campanhas sociais e de caridade. Hoje, Cosme de Farias é nome de plenário na Câmara Municipal e de bairro em Salvador.

 

 

Major sem nunca ter servido as Forças Armadas e advogado sem diploma de Bacharel (rábula), mesmo sem ter concluído o curso primário, Cosme de Farias foi deputado e vereador por vários mandatos. Sua luta foi pioneira conta o analfabetismo na Bahia e preocupação com as causas sociais.

 


Conhecido como o último rábula (profissional do Direito que não tem formação universitária) da Bahia, defendia sempre os menos favorecidos, como bicheiros e prostitutas. A figura peculiar de Cosme de Farias inspirou o escritor Jorge Amado a criar o major Damião de Souza, em seu livro Tenda dos Milagres.

 

 

Ele foi o responsável pela inauguração da primeira escola pública para educação de adultos. Cosme de Farias sustentou, fundou, manteve escolas primárias, cuidou dos loucos, escreveu nos jornais pedindo auxílio para as campanhas sociais e de caridade. Hoje, Cosme de Farias é nome de plenário na Câmara Municipal e de bairro em Salvador.