A prática
da “história oral” remonta
à Grécia antiga, quando
a narração era a
arte de contar histórias
eo poeta era
o “mestre da verdade”,
como Hesíodo e Heródoto.
Através da própria
história, a arte
de morrer perde aos
poucos seu caráter épico
e poético – esgotando
as formas tradicionais
de comunicação e
marcando o fim
da narração por uma
nova escrita.
A memória
se esvazia, se fragiliza
nesse abismo entre a
prática ancestral
de narrar e a
técnica moderna de
imprimir, ela se
precariza nessa relação
de ruptura, nessa inadequação
entre “contar uma experiência”
e “fazer história”.
A educação
nas sociedades antigas se
ministrava essencialmente
na oralidade, informa o
historiador Georges Duby
em sua obra “Escrever...Para
quê? Para quem?”(Lisboa,
Portugal, Edições 70,
1975, p.79). Para a
Russel Means, liderança
indígena americana,
em uma entrevista,
disse detestar escrever.
Ela afirmou que a
escrita “resume o
conceito europeu do
pensamento legítimo:
o que é escrito
tem uma importância
que é negada ao
falado. A minha
cultura, a cultura
lakota, tem tradição
oral e, portanto,
eu usualmente rejeito escrever.
Um dos meios de
que se vale o
mundo dos brancos para
destruir as culturas
dos povos não europeus
e impor uma abstração
à relação falada de
um povo. Por isso,
o que você lê
aqui não é o
que escrevi. É o
que eu disse e
outra pessoa escreveu.
Permito que assim
seja porque me parece
que a única via
de comunicação com
o mundo dos homens
são as folhas mortas
e secas dos livros”.
(Means, R. Marxismo
e as tradições
indígenas. In: Religião
e Sociedade. Rio de
Janeiro. ISER, 1981,
p.49).
Ao colocar
a oralidade em contraposição
à escrita, estamos buscando
reinstalar a voz
do lugar ondefoi,
de certa forma, expulsa
ou – conforme Paul Zunthor
– abafada por uma
“mentalidade escritural”.
A voz, segundo este
autor, entendida como expressão
privilegiada da poesia,
propiciará o retorno
ao poder encantatório
da palavra. Não em
propiciará o retorno
ao poder encantatório
da palavra. Não em
sua forma original,
mítica, mas nos
termos da modernidade,
ou seja, em series
radiofônicas, televisivas
e nas revistas em
quadrinhos. E aposta
que esta voz que
“moderniza-se pouco a
pouco (…) atestará
um dia, em plena
sociedade do
ter, a permanência
de uma sociedade
de ser”(Zumthor,
Paul. A letra e
a voz. São Paulo,
Companhia das Letras,
1993).
A oposição
entre escrita e oralidade
determina o empobrecimento
de ambas. Viñao Frago
afirma que o “baixo
nível de domínio e
uso da leitura e
escrita é consequência
– não só, mas em
boa parte – do não
reconhecimento e estimulação
da oralidade, de não
se assentar sobre ela
a alfabetização, a
linguagem escrita.
Além
disso, esta dissociação
é causa da progressiva
perda do ouvido, da
escuta e, por isto,
da riqueza, vivacidade
e precisão da fala”.
(Frago, Antonio Viñao.
Alfabetização na sociedade
e na História.
Porto Alegre. Artes Médicas,
1993, p.21).
Os seres
mais antigos contam que
quando Oxalá (orixá que
representa o ar)
veio a esse mundo,
criou os seres humanos,.
E para cada ser
humano criou uma árvore.
As árvores carregam o
princípio da ancestralidade,
representam os ancestrais
e são elas que
estabelecem a dinâmica
da relação entre os
seres humanos e a
natureza.
Oxalá está
relacionado à cor branca.
O axe, sangue branco,
caracterizado por substâncias
mineraiscomo o
giz, metais brancos, como
prata e chumbo, pela
seiva da palmeira igi-opa,
pelo algodão, pelo sêmen,
pelos ossos e pela
cuva.
Pela chuva-sêmen
que fertiliza e fecunda
a terra regenerando-a
e proporcionando o
brotar das sementes.
Apresenta representações
simbólicas de progenitora,
capacidade de gerar
filhos, de expandir
a descendência, multiplicação
dos seres tanto no
aiye como no orun.
Nessa estética
do sagrado, as árvores
são as responsáveis
pela purificação do
ar para que os
seres humanos tenham plenitude
de vida.
O poeta
baiano Waly Salomão (1943/2003)
aboliu categorias como poesia
e prosa, fala e
texto, coloquial e erudito
para buscar a ponto
de liga alquímica
– amálgama de oral
e de escrita.
Na
sua bricolagem semiótica
ele apresentou uma dicção
confessional, de inflexão
babilaque.
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