Para muitos
artistas e críticos,
a Bahia vive hoje
o simulacro de democratização.
Se o artista precisada ajuda do governo
mas não compatibiliza
com seus discursos,
ele precisa assinar o
termo invisível da operação
neutralizadora da crítica.
Deve-se aceitar tudo
a contragosto. Ou
melhor, degustar mesmo
com sabor amargo. Assim,
o discurso que despolitiza
os artistas dissolve sua
adesão revolucionária de
rebeldia em política
de adesão e, assim,
a política em imoral
e a moral em
arte. Fica o dito
não dito,
e “tudo bem'
na indústria cultural.
O autoritarismo
político no mercado
cultural transforma
as ameaças em discurso
adesivo e tudo
vira um carnaval.
Nesse procedimento formal
e mecanismo de distinção
denominado arte interage
com a maioria sob
as regras daquelas que
costumavam ser os
mais eficazes comunicadores:
as indústrias culturais,
hoje transformada em
vazio.
Os artistas
e escritores como Octavio
Paz e Jorge Luis
Borges que maios contribuíram
para a independência
e profissionalização do
campo cultural fizeram da
crítica ao Estado
e ao mercado eixos
de sua argumentação.
“Hoje,
a arte
é uma
prisão”
Para que
a arte possa ter
autonomia absoluta é
preciso estar reinserida
em movimentos sociais amplos.
Os experimentos dos
projetos pessoais,
soluções estilísticas,
reflexões precisam articular
com a história,
a cultura popular, preocupações
construtivistas, utopias de
massas.
“Hoje,
a arte é uma
prisão”escreveu em 1976
o arquiteto e artistas
argentino Horacio Zabala.
E ele afirma, com
Foucault, que a
prisão é uma “invenção',
uma técnica de identificação
e enquadramento dos
indivíduos, de seus
gestos, sua atividade
e sua energia. Como
a prisão, esse mundo
é “um sistema fechado,
isolado e separado”,
uma totalidade que limita
a liberdade excluindo
e negando, onde tudo
sufoca, da qual
não é possível subtrair-se
mediante “a própria
imaginação forçada”.
(Horacio Zabala, Öggi,
l'Arte è uma Carcere”,
em 2.Russo (ed), Ogio
l'Arte é uma Carcere?,
Bologn, II Mulino,
1982, pp.85-103). Frente
à impossibilidade de
construir atos, para
evitar cair em ritos,
a arte escolhe ser
gesto.
A prisão
como último laboratório.
Não há outras saídas
senão a submissão
ao mercado, a ironia
transgressora, a busca
marginal de obras
solitárias e a
recriação do passado.
Temos no Brasil mais
histórias da literatura
que das artes visuais.
Mais sobre literatura
das elites que sobre
manifestações equivalentes
das camadas populares.
É preciso
que artistas sejam capazes
de articular movimentos
e código culturais
de diferentes procedências.
Mostrar que é
preciso fundir as
heranças culturais
de uma sociedade,
a reflexão crítica sobre
seu sentido contemporâneo
e os requisitos
comunicacionais da difusão
maciça.
Teatralização
do poder
O estudioso
argentino Néstor Garcia
Canclini em sua
obra Culturas Híbridas ao
analisar a teatralização
do poder informa que
o patrimônio existe como
força política na medida
em que é teatralizada:
em comemorações, monumentos
e museus. A teatralização
do patrimônio é o
esforço para simular
que há uma origem,
uma substância fundadora,
em relação a qual
deveríamos atuar hoje.
Essa é a base
das políticas culturais
autoritárias. O mundo
é um palco, mas
o que deve ser
representado já está
prescrito. As práticas
e os objetos valiosos
se encontram catalizados
em um repertório
fixo. Ser culto implica
conhecer esse repertório
de bens simbólicos
e intervir corretamente
nos rituais que a
reproduzem.
A política
autoritária é um
teatro monótomo. As relações
entre governo e povo
consistem na encenação do
que supõe ser o
patrimônio definitivo
da nação. Lugares e
praças, palácios e
igrejas, servem de
palco para representar
o destino nacional,
traçado desde a
origem dos tempos. Os
políticos e os
sacerdotes são os
atores vicários desse drama.
“Hoje
sabemos que toda
politica é feita,
em parte, com recursos
teatrais: as inaugurações
do que não se
sabe se vai ter
fundos para funcionar,
as promessas do que
não se pode cumprir,
p reconhecimento público
dos direitos que serão
negados em privado”
(p.163).
O estudioso
não é contra as cerimônias
comemorativas de acontecimentos
fundadores mas aexcessiva ritualização
– com um único paradigma,
usado dogmaticamente – condiciona
seus praticantes para
que se comportem
de maneira uniforme em
contextos idênticos
e incapacita para agir
quando as perguntas
são diferentes e s
elementos da ação
estão articulados de
outra maneira.
Políticas culturais
menos eficazes são as
que se aferram ao
arcaico (pertence
ao passado) e ignoram
o emergente (novos valores),
porque não conseguem
articular a recuperação
da densidade histórico
com os significados
recentes gerados pelas
práticas inovadoras
na produção e no
consumo.
Em outro
tempo havia o mito
da originalidade, tanto
na arte de elites
quanto na popular. Desde
o célebre texto de
Benjamin de 1936
(Walter Benjamin,
A Obra de Arte
na Época de sua
Reprodutividade Técnica) analisa-se
com a reprodutividade
técnica de pintura,
da fotografia e do
cinema atrofia “a aura”
das obras
artísticas, essa “manifestação
irrepetível de uma
distância” que é
a existência de uma
obra única, em um
só lugar, ao que
se vai em peregrinação
para contemplá-la. Quando
os quadros de Berni,
Szyslo ou Tomayo se
multiplicam em livros,
revistas e televisores,
a imagem original é
transformada em repetição
em massa.
O problema
da autenticidade e
unicidade da obra
muda seu sentido. Advertimos
então, com Benjamin,
que “o autêntico”
é uma invenção moderna
e transitória: “A
imagem de uma Virgem
medieval não era
autêntica no tempo
em que foi feita;
foi se tornando ao
longo dos séculos seguintes,
e mais exuberantemente
que nunca o século
passado”. De
outro lado,torna-se evidente
que a mudança atual
não é só efeito
das novas tecnologias,
mas uma tendência
histórica global: “Aproximar
espacial e humanamente
as coisas é uma
aspiração das massas
atuais”.
---------------------------------------------------
ATENÇÃO:
Nenhum comentário:
Postar um comentário