05 março 2015

Crise de identidade



Nesta sociedade tudo se desmonta rapidamente. Tudo é temporário. Nossas instituições, quadros de referências, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades auto-evidentes.

No passado tudo isso se fazia lentamente para ser novamente se enraizado. Agora as coisas todas tendem a permanecer em fluxo, voláteis. E em todos os aspectos a vida humana foi afetada quando se vive a cada momento sem que a perspectiva de longo prazo tenha mais sentido.

Jean Paul Sartre aconselhou seus discípulos a terem um projeto de vida, a decidir o que queriam ser e, a partir daí, implementar esse programa consistentemente, passo a passo, hora a hora. A ter identidade fixa. Hoje, nesse mundo fluído, tal decisão é suicídio.

Se na época da modernidade solida (o passado recente), quem entrasse como aprendiz nas fábricas da Ford iria com toda probabilidade ter ali uma longa carreira, hoje em dia, quem trabalha para grandes corporações de computadores por um salário cem vezes maior não tem ideia do que poderá lhe acontecer dali a meio ano. Antes uma das maiores ameaças da existência humana era a fome e para neutralizá-la mesmo o alimento. Os riscos de hoje são de outra ordem como por exemplo a deterioração das condições climáticas, os níveis de radiação e poluição, a diminuição das matérias-primas e fontes de energias não renováveis, os processos de globalização sem controle político ou ético.

Se a antiga condição de emprego poderia destruir a criatividade humana (habilidades), mas construía a vida humana que podia ser planejada. O patrão dependia do empregado e vice versa. Hoje nada disso existe. A maioria das pessoas não pode planejar seu futuro por muito tempo. E é dessa forma, a sociedade líquida, que o renomado sociólogo Zygmunt Bauman compreende a complexidade e diversidade da vida humana.

Identidade nacional

A busca de uma identidade nacional aconteceu na cultura brasileira durante o século XX. Poeta e artistas encontraram nossa originalidade na ideia de um brasileirismo afetivo e gentil. Isso é recorrente no luso tropicalismo de Gilberto Freyre com homem cordial de Sérgio Buarque de Hollanda, do macunaísmo de Mário de Andrade à civilização gazosa de Darcy Ribeiro, do populismo carinhoso de Jorge Amado aos malandros e heróis de Roberto da Matta.

A ditadura militar destruiu esse mito do estilo brasileiro. E começaram a desenvolver uma cultura de dublagem. Em vez de produzir, começavam a reproduzir. E descobriram que o inferno, além dos outros, somos nós mesmos. E aí é preciso se reinventar.

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