A Bahia que pensávamos conhecer (como lembrou bem o economista Armando
Avena) e cuja
liderança econômica estava solidamente centrada o setor
industrial (gerava 48% do PIB, tendo a indústria de transformação 35% desse
percentual) era uma ficção. A verdadeira Bahia é um Estado terciário,
fortemente vinculado ao setor de serviços, que gera 60% do Produto Interno
Bruto, enquanto a indústria de transformação detém apenas 16% do produto. Essa
é a Bahia que está a merecer uma ampla discussão sobre suas prioridades, planos
e projetos sobre seu futuro.
A Bahia é o terceiro Estado brasileiro com o maior número de
parlamentares donos de emissoras de rádio e televisão. O que se convencionou
chamar de “coronelismo eletrônico”, ou seja, utilização pelo político de uma
concessão estatal para usar veículo de comunicação para influenciar a opinião
pública. Apenas Minas Gerais (16) e São Paulo (11) estão à frente da Bahia.
Paraná e Piauí, como nove, vão na sequência. Na Bahia, 65 emissoras (radio e
TV) estão nas mãos de políticos no exercício de cargo elegível.
A nossa faixa litorânea, geograficamente privilegiada, passou por um
processo de ocupação
desordenada com as barracas de praia. Os governantes
buscaram enfrentar a favelização da nossa orla, tão prejudicial ao turismo e à
geração de emprego e renda da cidade. A prefeitura investiu no Programa de
Requalificação da Orla de Salvador. Retirou a publicidade irregular, e dos
entulhos da praia. Falta retirar as barracas irregulares para a liberação das
praias para os banhistas contemplar as belezas dos nossos 51 quilômetros do
litoral em sua plenitude.
Precisamos cuidar melhor das nossas paisagens, manter limpa as ruas,
monumentos e patrimônios culturais. Revitalizar os locais que envelhecem ou
deterioram, como é o caso das igrejas centenárias da capital, ou mesmo a Lagoa
do Abaeté que está abandonada. É preciso melhorar setores como o trânsito e a
segurança para que os turistas circulem confortavelmente. É preciso também que
os órgãos do setor de turismo façam campanhas para que os moradores de Salvador
compreendam a importância do turismo. A cidade tem potencial para aumentar o
número de turistas, que devem ser bem tratados.
É preciso melhorar a paisagem de Salvador. Há um grande número de imóveis
inacabados que a
deixa muito feio.
Muitos sem reboco dão um aspecto de
favelização permanente.
Esses imóveis muitas vezes são construídos sem projeto
urbanístico, mostrando um empobrecimento visual por falta de variações
arquitetônicas.
“A
impressão que eu tenho de Salvador é uma cidade devastada pela `alegria`. Você
pode fazer tudo, lutar contra um esquema onde a impressão que temos é a de que
todo mundo está contra você, parar o seu trabalho como eu parei durante dez
dias consecutivos na Pinacoteca; se dedicar mais de um ano ao projeto; manter
contatos com fotógrafos que liberaram os royalties das obras para viajar com
seguro insignificante; ter a compreensão do diretor da Pinacoteca, Marcelo
Araújo, de abraçar o projeto, trazer sete exposições, reunir dez artistas, além
de Pierre Verger, que foi uma parceria com a Fundação homônima. A sensação que
eu tenho é a de não ter provocado nenhum tipo de reflexão para a cidade. Será
que, na próxima edição, teremos que alugar Naomi Campbel para `dar visibilidade
internacional` para o Agosto, como foi feito no último Carnaval? Miss Campbel
subiu no trio elétrico para `simbolizar` uma harmonia entre as nossas questões
de perda de memória e as questões afrodescendentes. Cicatrizes não se curam com
`simbolismos`.”. Esse foi o desabafo do curador Diógenes Moura para a revista
Muito (07/09/2008, pags 14 a 17) que
sofreu com a falta de apoio oficial, do setor privado e a mídia para dar
visibilidade às exposições do Museu de Arte Moderna de Salvador ( MAM) - num
estado que tem servir de ícone para o Brasil, haja vista ser a capital cultural
do país. "Precisa-se oxigenar o olhar da Bahia, por isso a necessidade de
trazer gente de fora".
A Bahia é um lugar para amar e
odiar com a mesma intensidade. Pode ser mãe e também madrasta.
Nas duas vezes que a arquiteta e
curadora italiana Lina Bo Bardi esteve em Salvador, defendeu o resgate da “alma
popular” da cidade e a valorização dos artesãos. Ela via a arte popular não
como folclore, mas uma realidade criativa. A cidade não entendeu com o resgate
da dessemelhante e triste Bahia antiga e continuou cada vez mais
descaracterizada culturalmente.
A 85ª edição da Muito traz na
capa o artista visual e curador Emanoel Araújo. Ele foi o responsável pela
criação do Museu Afro Brasil, em São Paulo, além de ter devolvido aos
paulistanos a Pinacoteca do Estado de São Paulo, um dos mais importantes
centros de arte do País. Crítico feroz
da política cultural brasileira, Emanoel Araújo não esconde o descontentamento
com a Bahia de hoje. Para ele, tudo aqui se transformou em folclore. “A Bahia
não precisa dessa folclorização que estereotipa tudo, da baiana de acarajé aos
capoeiristas. Acabou a arte aqui. Onde está a memória de Genaro de Carvalho, de
Jenner Augusto, de Mario Cravo? A Bahia trata mal seus artistas”.
(Esse texto foi escrito em 2008 e não mudou nada de lá até aqui
.......................................
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