13 setembro 2010

TRAÇO LIVRE

O artista que domina o traço “nasce caricaturista, vira desenhista e morre pintor”. Esta observação do cartunista Mendez (1907-1996) se aplicará, sem esforço, a Columbano, Toulouse-Lautrec, Daumier, Di Cavalcanti. E também a toda a estirpe dos desenhistas brasileiros que desde o início do século XX aperfeiçoaram a crítica de costumes, espetaram as figuras políticas, coloriram o cotidiano; e que, como J. Carlos (o traço mais fino e florido dos anos 20 e 30), e Lage (no período de 1969 a 2006) criaram um universo de beleza gráfica único e permanente. Bem mais permanente do que as figuras políticas por eles glosadas.


CARICATURA - Chama-se caricatura todo desenho que acentua detalhes ridículos. O desenho caricatural constitui um gênero de cunho satírico, mas não obrigatoriamente cômico. A caricatura é a reprodução gráfica de uma pessoa, animal ou coisa, de uma cena ou episódio, exagerando-se certos aspectos com intenção satírica, burlesca ou crítica. A princípio considerada mero divertimento, a caricatura tornou-se importante atividade artística. Entre seus cultores incluem-se diversos nomes significativos na história das artes visuais: Bosch, Quentin Metsys, Leonardo da Vinci, Arcimboldo, Jacques Callot, Goya, Ensor, George Grosz entre outros. Dos três gêneros gráficos (caricatura, cartum e charge), a caricatura é a mais ousada, pois mexe nas superfícies anatômicas do sujeito real para reproduzi-la em profundidade.


CARTUM - O cartum, gênero criado pelos ingleses, caracteriza-se basicamente por seu aspecto anedótico. Compõe-se geralmente de um desenho e pode vir acompanhado ou não de palavras. Do cartum em sequência surgiu a história em quadrinhos. O cartum provoca ao mesmo tempo o riso e a reflexão. Não visa, de imediato, o particular, mas antes o sujeito coletivo como medida de quantidade. Dos três gêneros gráficos o cartum é o mais livre e criativo, e também o mais anárquico, porque explora e vai fundo no delírio de ser, como fonte de consciência individual e como objeto de comportamento social


CHARGE - A charge provoca reflexão e crítica social. Sua proposta não é registrar o real, mas signifícá-lo. Produz verdade através de personagem que carecem de veracidade, e registra a história a partir do que a história não registra. Dos três gêneros gráficos, a charge é a mais sofisticada, pois conta e resume histórias reais de modo e maneiras convincentemente irreais.


A caricatura já era conhecida dos egípcios (o museu de Turim guarda um papiro que retrata o faraó Ramsés II com orelhas de burro), gregos (pinturas em vasos) e romanos (afrescos de Pompéia e Herculano). Dela se utilizaram arquitetos e escultores românicos e góticos nas fachadas e capitéis das catedrais, e com ela miniaturistas preencheram as margens de centenas de manuscritos, mesmo de alguns acentuadamente religiosos. Como arte independente, porém, a caricatura é fruto da Renascença, devendo-se a Annibale Carracci o primeiro exemplar do gênero, hoje no museu de Estocolmo: um desenho que representa um casal de cantores italianos, feito em 1600.


Caricatura no Brasil


No Brasil a caricatura chegou através da palavra, no caso, de um baiano de Salvador, Frei Vicente, que no século XVI criticava erros e desmando de toda a ordem. Depois, veio o poeta Gregório de Mattos.


São de 1837 os primeiros desenhos críticos de que se tem notícia no Brasil. De volta da Europa, onde estudou com Debret, Manuel Araújo Porto Alegre (o Barão de Santo Ângelo), fez contra o jornalista Justiniano José da Rocha suas primeiras caricaturas. Tendo sido um jornalista liberal, Justiniano aceitou dirigir um jornal oficial com o salário anual de Cr$ 3 mil 600. Esses desenhos apareciam, como na Europa, em prancha. Somente em 1844, surge o primeiro jornal em que a caricatura é incorporada ao texto, A Lanterna Mágica.

Mas foi a Careta, fundada em 1908, a revista de humor de vida mais longa. Foi editada durante 52 anos. Em seguida vem O Malho, nas bancas 50 anos.


O traço, no entanto, ganhou substância entre os anos de 1910 e 1930, quando o trio dessa arte no Brasil, fortificado e reconhecido, foi formado com os nomes de J. Carlos (1894-1950), Raul Pederneiras (1874-1953) e K. Lixto (1877-1957). De lá para cá, o desenho de humor vem sobrevivendo como pode, participando sempre e eminentemente política.


Mas, o verdadeiro iniciador da caricatura no Brasil foi Manuel de Araújo Porto Alegre, que publicou a primeira caricatura no Jornal do Comércio de 14 de dezembro de 1837: uma sátira ao jornalista Justiniano José da Rocha, inimigo do artista.

O primeiro periódico a imprimir caricaturas foi a Lanterna Mágica, publicado no Rio de Janeiro entre 1844 e 1845. Ao lado das caricaturas soltas, vendidas separadamente em papelarias, surgem publicações como O Caricaturista, que sucedeu ao Sete de Abril, todas de vida efêmera. Mais importância teriam a Marmota Fluminense (1849) e o Charivari Nacional (1862). Na Vida Fluminense (1868) colaboraria desde o primeiro número Ângelo Agostini, um dos maiores caricaturistas brasileiros do século XIX. Em 1875, o pintor português Rafael Bordalo Pinheiro fixa-se no Rio e passa a colaborar com caricaturas em O Mosquito e em outras publicações do gênero.


A caricatura política declinou em 1937, com a implantação do Estado Novo, que instaurou a censura prévia. A Segunda Guerra Mundial, porém, deu ensejo a sátiras notáveis contra os regimes totalitários, da parte de J. Carlos, Belmonte, Téo, Andrès Guevara e Augusto Rodrigues. Entre fins da década de 1940 e início de 1950, surgem Hilde Weber na charge política, Péricles (criador da figura do Amigo da Onça), e o humor popular de Carlos Estêvão. Sobressai nesse período o humorista Millôr Fernandes, que abriu caminho para o aparecimento, nos anos 60 e 70, de caricaturistas como Ziraldo (Ziraldo Alves Pinto), Borjalo, Fortuna, Jaguar, Claudius, Appe, Lan, e Henfil. Na década de 1980 e 1990 sobressaíram-se Luís Fernando Veríssimo, Miguel Paiva e Chico Caruso. Tem muito mais artistas que possivelmente falaremos mais adiante.



De 01 de setembro a 03 de outubro na Caixa Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro. Tel. 3421-4200) será aberta a Mostra de charges, caricaturas, cartuns e tiras de Hélio Lage. A mostra é aberta de terça a domingo, das 09 às 18h, curadoria de Nildão, produção cultural de Alice Lacerda, com o apoio da TV E e patrocínio da Caixa. Além da exposição, haverá palestra e debates no mesmo local. Dia 14, das 8:30 às 12h está programada uma oficina “A caricatura como forma de expressão artística”, apresentada por Paulo Setúbal. No mesmo dia pela tarde, das 14h às 16h, palestra de Nildão sobre “O Processo criativo do humor gráfico: o cartum.”. E das 16h às 18h, palestra sobre “Vida e obra de Hélio Lage” pelo professor Washington Filho.

Na quarta-feira, dia 15, das 8:30h às 12h, oficina sobre “Do desenho a animação: processo e técnicas” ministrada por José Vieira. Pela tare, das 14h às 16h, palestra sobre “Humor gráfico na Bahia: trajetória e perspectivas” por Gutemberg Cruz. E das 16h às 18h, palestra sobre “O papel do cartunista em um veículo de mídia”, por Cau Gomez. E para os aficcionados nos trabalhos de Lage, vale conferir o site:wwwheliolage.com.br.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

3 comentários:

Acessibilidade- Uma Questão de Honra disse...

Adorei o Blog, muito legal, continue assim, criativo, desafiador, crítico e com muito humor, é o melhor da vida!
Parabéns!

Acessibilidade- Uma Questão de Honra disse...

Veja também meu Blog:
http://www.blogger.com/edit-profile.g
Abçs!

Anônimo disse...

Filho duma p****