15 setembro 2010

Manifesto da Nona Arte (1)

Uma análise dos quadrinhos através das suas inúmeras relações com a arte contemporânea. Manifesto onde procura mostrar que a história-em-quadrinhos é uma das únicas artes atualmente vivas – a nona – ao lado do cinema, da fotografia e da pintura. Texto de Gutemberg Cruz publicado no jornal Correio da Bahia – Caderno Cultura – 07 de Abril de 1980. Página 1.

Ao iniciar um artigo sobre estética das histórias em quadrinhos, deve-se considerar a correlação entre a arte dos quadrinhos e a arte em geral e encerrar o quadrinho primeiro como apenas um dos membros de uma grande família. Como a maior parte dos conceitos fecundos, a arte tem sido tão variadamente definida quanto os autores que sobre ela escreveram. E essa multiplicidade de concepções é bem vinda, desde que não as adotemos com excessiva rigidez ou exclusividade, pois cada descrição irá iluminar um aspecto diferente da questão e acrescentar nossos conhecimentos.


A arte na sua acepção mais ampla, dos gregos, dos latinos e dos alemães, dava ideia de perícia, de habilidade adquirida em paciente exercício e voltada para um fim definido, fosse esse fim estético, ético ou utilitário. Arte não é só técnica e habilidade. Em sentido geral é uma das formas com que se exprime o espírito humano. Em sentido restrito é a expressão consciente do belo. A estética moderna, ao analisar uma obra de arte, prefere substituir a palavra “belo” pelo “expressivo” uma vez que não existe um padrão único de beleza. Expressivo é o que tem alguma mensagem, um sentimento superior e potente, expresso por meio de formas adequadas.


AS BELAS ARTES - O homem, por várias maneiras, busca afirmar-se no meio ambiente, quer seja o domínio, pelas técnicas; a comunicação, pelas artes; a especulação, pela filosofia; o conhecimento, pela ciência e a fé, pela religião. Cada qual corresponde a uma dimensão específica de inteligência e sensibilidade. Pode coexistir na mesma pessoa, graças ao desenvolvimento harmonioso de todas as suas faculdades. Integram a mesma comunidade, e sua interpretação é a interpretação de uma cultura. A arte, sobretudo, revela no contexto cultural a relação estreita entre a criação e o meio social, que lhe empresta a mais pura autenticidade. Capta e revela. E, esta é uma das características das belas artes que subdividem-se em três: Artes Estáticas, Arts Dinâmicas e Artes Mistas.


Artes Estáticas – ditas tradicionalmente plásticas – são as artes que se caracterizam pelo extensividade, ocupação de “espaço”. Não contam com o tempo como elemento estrutural. Artes Estáticas são manifestações estéticas correlacionadas intimamente com a forma e o volume. Seus principais gêneros são: A Arquitetura, a Escultura e a Pintura.


Artes Dinâmicas – ditas tradicionalmente rítmicas – são as artes que se deixam medir pelo ritmo, que é a sucessão “temporal” de diferentes intensidades sonoras ou visuais. Ocupam o tempo. São elas: a Música, a Dança e a Literatura. Mistas são as artes estáticas e dinâmicas ao mesmo tempo. Ocupam o espaço (estáticas) e o tempo (dinâmicas). São elas: o Cinema, o Teatro e a História em Quadrinhos.


A história-em-quadrinhos é uma das artes – pois o cinema também e, além da música – que pode ser compreendida imediatamente no mundo inteiro, sem necessidade de qualquer explicação. É, de fato, possível a um leitor entender a mensagem de uma história, em compreender nenhuma das palavras dos diálogos. Se um desenho vale por mil palavras, um desenho acompanhado por três ou quatro frases bem escolhidas vale por dez mil palavras.


O alfabeto técnico e sensual da imagem, seus símbolos, sua gramática e seus códigos são ainda pouco conhecidos. É necessário aprender a ler uma história em quadrinhos (HQ), a decifrar o sentido das imagens tal como se decifra o sentido das palavras e dos conceitos, a compreender as sutilezas da linguagem quadrinhográfica. Por outro lado, o sentido das imagens pode ser controverso, tal e qual o das palavras, e poderá se dizer que cada história tem tantas possibilidades de interpretação quantos forem os leitores.

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Até o dia 03 de outubro na Caixa Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro. Tel. 3421-4200) está aberta a mostra de charges, caricaturas, cartuns e tiras de Hélio Lage. A mostra é aberta de terça a domingo, das 09 às 18h, curadoria de Nildão, produção cultural de Alice Lacerda, com o apoio da TV E e patrocínio da Caixa. Além da exposição, haverá palestra e debates no mesmo local. Hoje, quarta-feira, dia 15, das 8:30h às 12h, oficina sobre “Do desenho a animação: processo e técnicas” ministrada por José Vieira. Pela tarde, das 14h às 16h, palestra sobre “Humor gráfico na Bahia: trajetória e perspectivas” por Gutemberg Cruz. E das 16h às 18h, palestra sobre “O papel do cartunista em um veículo de mídia”, por Cau Gomez. E para os aficcionados nos trabalhos de Lage, vale conferir o site:wwwheliolage.com.br.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

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