28 setembro 2010

Druuna decide destino dos sobreviventes da tragédia nuclear (2)

Paolo Serpieri antes de criar a heroína lasciva Druuna, fez desenhos para a Larrousse e ilustrações para a Bíblia Sagrada. Mas ganhou dinheiro e fama com os pecados de Druuna, com quem contracena, em algumas histórias sob seu traço, como o personagem Doc. Lançado no Brasil pela Heavy Metal, Druuna é uma das personagens mais excitantes do mundo dos quadrinhos eróticos. Paolo Serpieri é considerado um dos maiores artistas do gênero, com erotismo na dose certa e detalhes enlouquecedores.


Serpieri é um apologista da forma feminina, que não poupa elogios às mulheres brasileiras. Em uma breve visita a Belo Horizonte (MG) em 1997, Serpieri foi um dos principais convidados da 3ª Bienal Internacional de Quadrinhos. Na ocasião, em uma entrevista, ele informou: “Nos anos 70, eu trabalhava com quadrinhos de faroeste e pensava que meu desenho não tinha muito a ver com a ficção científica. Eu tinha resistência ao desenho geométrico, certinho, tecnológico da FC. Mas a fantasia e a ficção dos quadrinhos publicados na Metal Hurlant me fascinavam muito. Como eu ainda tinha muitas histórias para contar com o faroeste, comecei a fundir este gênero com a fantasia. Só depois, nos anos 80, eu cheguei à ficção científica. Fiquei muito impressionado com Alien e Blade Runner de Ridley Scott; aí comecei a fazer uma história em que aparece a deterioração do mundo tecnológico. Quando comecei a desenhar essa história não pensei numa personagem protagonista, mas foi aí que surgiu a Druuna”.


E disse mais: “Enquanto personagem, Druuna surgiu como minha concepção de uma mulher sensual. Ela representa o erotismo e a sensualidade. Mas é como se ela fosse uma mulher que você poderia encontrar, ela é viva, atual, palpável. É como se você pudesse tocá-la, por isso utilizo essa plasticidade nos desenhos e nas formas. Eu a inseri em um mundo em decomposição para criar um contraste entre um corpo perfeito de mulher, que remete à vida e prazer, e o ambiente em decomposição. Em suas histórias, Druuna também aparece em um mundo onírico, realizando uma fuga, da morte e da dor, através do prazer. Meu trabalho responde a uma necessidade pessoal”.


Sobre a questão da relação entre o erotismo e a pornografia ele foi categórico: “Eu penso que a pornografia é a representação do ato sexual. Tanto pode ser chata quanto pode ser excitante. Não entendo quando as pessoas se escandalizam com a representação do ato sexual, que é algo belo. Por sua vez, o erotismo pode ser muito fascinante. Há toda uma série de situações e elementos que se referem ao ato sexual. Chamo de erotismo um olhar de uma bela mulher, um vestido transparente, o movimento dos seios. Para alguns o erotismo é nobre e a pornografia é vulgar; muitas vezes isso é hipocrisia de quem tem medo do prazer. Vou dizer algo perigoso: o erotismo é muito hipócrita e parece muito nobre pois se pensa que o ato sexual é algo vulgar”.


“A qualidade e a impressionante uniformidade do traço que Serpiere conseguiu preservar no decorrer de quase duas décadas de produção das aventuras de Druuna o ajudaram a formatar o hiper-realismo quase fotográfico que ele buscou para os personagens de suas histórias. Foram o resultado do esforço de um artista obstinado em alcançar sempre a perfeição” (...) “Nenhum personagem do cinema ou das histórias em quadrinhos em todos os tempos reuniu tantos atributos físicos juntos quanto Druuna. Tudo isso, à primeira vista, levou a uma leitura superficial da heroína e, não raro, preconceituosa, feita muitas vezes a partir de princípios morais. Inclusive de um bom número de críticos, que a transformaram num clichê erótico. E dos moralistas, que sempre tiveram muito que se sentir incomodados com ela – tanto que suas histórias continuam inéditas em muitos países da Europa, Ásia e América”, escreveu o jornalista e pesquisador Gonçalo Júnior sobre o estilo do artista no seu livro “Tentação à Italiana, um perfil dos mestres do erotismo contemporâneo”, lançado pela Ópera Graphica Editora em 2005.


E concluiu: “Do ponto de vista cultural, para os italianos, Druuna tem uma outra importância visual: a de resgatar, historicamente, as formas cheias das grandes deusas do cinema, antenadas pelo pioneirismo do furacão Brigitte Bardot e, mais adiante, com Barbarella, interpretada no cinema por Jane Fonda -, ambas filmadas por Roger Vadim. Serpieri deu aos homens italianos o velho prazer de olhar para uma bela bunda sem correr o risco da indiscrição ou de um torcicolo. Druuna quase sempre salta da folha de papel a partir de um talento excepcional de um anatomista que a faz próximo do tridimensional, como se ela estivesse fora do papel. E, assim, arrasta a todos para o mundo dos sonhos que idealizou. O mundo de Druuna”.

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