17 setembro 2010

Manifesto da Nona Arte (3)

Uma análise dos quadrinhos através das suas inúmeras relações com a arte contemporânea. Manifesto onde procura mostrar que a história-em-quadrinhos é uma das únicas artes atualmente vivas – a nona – ao lado do cinema, da fotografia e da pintura. Texto de Gutemberg Cruz publicado no jornal Correio da Bahia – Caderno Cultura – 07 de Abril de 1980. Página 1.

MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS - A influência que o cinema exerce não é só em relação a outras artes como também em relação à existência humana e ao espectador. Em primeiro lugar, ele proporciona a imagem plural, a visão envolvente, a resultante de ângulos diversos. Em segundo lugar, a imagem em movimento, a sequência inevitável, a ideia de continuidade. As artes plásticas, sobretudo a pintura, a escultura e a arquitetura, devem ter aberto horizontes novos à visão humana no que respeita à apreciação daquelas manifestações artísticas, na oscilação entre o todo e a parte, entre o fixo e o móvel entre o perfil e o espaço.


A literatura, que lhe tem fornecido esplendido material de motivação, sente também que, acima da palavra, existe a substância humana, levando o escritor a mergulho na introspecção ou fugas na tessitura de palavras por suas emanações semânticas e estéticas. Edgar Morin recorda que “O Vermelho e o Negro”, de Stendhal, se tornou um filme adaptado aos padrões comerciais e que desse filme nasceu “O Vermelho e o Negro” folhetim em quadrinhos publicado num diário, atraindo milhares de leitores.

Se, como vemos, a leitura em quadrinhos apresenta sérias analogias com o cinema, parece ainda mais evidente que elas existem com relação ao desenho e à pintura. Para muitos, existe mais que simples afinidade entre a pintura e a escultura de Miguel Ângela e o Tarzn inspirado por Burne Hogarth.


Mas é na direção das artes figurativas e não na arte clássica que são encontradas as afinidades, em particular com a Pop Art e o movimento surrealista. Os artistas da Pop Art achavam que a HQ era uma necessidade sociológica. Eles procuravam utilizar os objetos de consumo de massa para suas obras. Lichtenstein perguntou: “Por que achar que um monte ou uma árvore é mais belo do que uma bomba de gasolina? Porque estamos condicionados a pensar dese modo. Estou chamando a atenção para a qualidade abstrata das imagens banais”. A partir daí o quadrinho passou a ser estudado seriamente. A cultura e a arte, antes restritas a uma pequena camada social, através desse poderoso veículo foram postos ao alcance do grande público. Pertencem à Pop Art os que tomam a comunicação e o consumo de massa como tema. Coube à Pop revelar ao homem dos anos 60 o mundo em que ele próprio estava mergulhado.


“As histórias em quadrinhos são o melhor tipo de arte em produção na América. Muita gente não acredita nisso por causa de uma lavagem cerebral que levou a maioria a pensar que nada desenhado a caneta ou lápis, em formas de tiras, pode ser arte. Mas se você desenhar a mesma coisa em formato gigante e a óleo, pronto, o negócio vira arte. Puro esnobismo. Um trabalho artístico é um trabalho artístico, quaisquer que sejam as formas e o material empregado” (Al Capp, criador de Ferdinando).

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