Benjamin ataca a ideologia do progresso em todos os seus componentes: o evolucionismo darwinista, o determinismo de tipo científico natural, o otimismo cego e a convicção de “nadar no sentido da corrente” (o desenvolvimento técnico). Em uma palavra, a crença confortável em um progresso automático, contínuo, infinito, fundado na acumulação quantitativa, no desenvolvimento das forças produtivas e no crescimento da dominação sobre a natureza.
As classes revolucionárias estão conscientes, no momento da ação, de “romper o contínuo da história”. A interrupção revolucionária é, portanto, a resposta de Benjamin às ameaças que faz pesar sobre a espécie humana a perseguição da tempestade maléfica chamada Progresso.
Com Benjamin aprendemos que cultura é a partir de meados do século 20 toda ela como que transformada em um documento e, mais ainda, ela passa a ser lida como testemunho da barbárie. Sua teoria da história e da cultura descortina o passado e suas ruínas, sobre as quais construímos nosso presente. Seu projeto de historiografia calcada no colecionismo (que tem por princípio o arrancar de seus objetos do falso contexto para inseri-lo dentro de uma nova ordem comandada pelos interesses de cada presente) e, por outro lado, inspirado no trabalho do catador (que se volta para o esquecido e considerado inútil) ainda hoje é estudado.
Para Benjamin, enquanto as classes dominantes rodeiam-se de uma cultura e uma história que as legitimam e as glorificam – na unidade ideológica dos slogans nação, ordem e progresso – cabe aos derrotados rememorar as fraturas revolucionárias. “Escovar a história a contrapelo” significa não permitir que a tradição dos oprimidos seja esquecida e, com ela, num resgate consciente, alimentar o presente de suas forças liberadoras.
MEMÓRIAS - Dois ensaios de Walter Benjamin tratam da memória: “Experiência e pobreza”, de 1933 e “O narrador”, escrito entre 1928 e 1935. Ambos ensaios partem daquilo que o pensador chama de perda ou de declínio da experiência, isto é, da experiência no sentido forte e substancial do termo, a experiência que repousa na possibilidade de uma tradição compartilhada por uma comunidade humana, tradição retomada e transformada, a cada geração, na continuidade (duração) de uma palavra transmitida de pai para filho.
Essa perda de experiência acarreta uma outra: o das formas tradicionais de narrativa, que têm sua fonte nessa memória comum e nesse transmissibilidade. Com seu diagnóstico, Benjamin reúne reflexões acerca da memória traumática, da experiência em forma de choque, conceito chave de sua análise da lírica de Baudelaire e das práticas dos surrealistas.
Já no curto texto “Experiência e pobreza”, o filósofo insiste nas mutações que a pobreza da experiência acarreta para as artes contemporâneas. Não mais se trata de reconfortar ou consolar os homens pela edificação de uma beleza ilusória. Contra uma estética da harmonia, Benjamin defende as provocações das vanguardas que, como é o caso das propostas surrealistas, produziam “curtir circuitos iluminadores”, isto é, criavam situações que permitiam uma espécie de conscientização da barbárie coletiva.
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