Na quarta-feira, dia 15, das 8:30h às 12h, oficina sobre “Do desenho a animação: processo e técnicas” ministrada por José Vieira. Pela tare, das 14h às 16h, palestra sobre “Humor gráfico na Bahia: trajetória e perspectivas” por Gutemberg Cruz. E das 16h às 18h, palestra sobre “O papel do cartunista em um veículo de mídia”, por Cau Gomez. E para os aficcionados nos trabalhos de Lage, vale conferir o site:wwwheliolage.com.br.
ENTELINHAS - Os caricaturistas e chargistas são responsáveis pelas entrelinhas da história oficial impressa, traçadas no dia-a-dia com a atualidade de um editorial e a potência de uma bomba. Uma parte importante do pensamento brasileiro está no traço desses humoristas. Afinal, a caricatura, a charge e o desenho de humor, mesmo sendo frequentemente esquecidos, são sempre indício seguro do pensamento e da cultura de uma época.
O desenho de humor é uma parte narrativa e descritiva da arte do nosso tempo. Ele é necessário para a crítica social, para fixar os novos hábitos e costumes e para demonstrar com vigor mais imediato as novas ideias. O humor é um elemento de subversão. Essa condição permite que na charge o autor possa exercer sua condição de ambivalência. Ela não é um instrumento unilateral. O desenhista pode exercitar várias ideias e valores em um mesmo espaço gráfico.
Com o cerceamento que se faz da charge, a ação do artista fica mais difícil. O chargista acaba se tornando um mero reprodutor, através do traço, de uma ideia que não é dele. Então se desloca parte do processo de criação para um conjunto de outros atores que busca cercear essa perspectiva mais lúdica, mais de resistência que a charge pode constituir. Por isso, a charge deixou de ser esse instrumento tão valorizado. Importantes veículos que sempre tiveram chargistas em seus quadros funcionais hoje priorizam a foto. Os programas de computador podem ajudar a detonar esss profissionais.
A charge é uma crítica política na qual o artista demonstra através de seus traços sua visão em relação a determinados temas, utilizando recursos como a sátira. Como o desenho é uma linguagem mais acessível que muitos textos, seu alcance chega a ser maior do que um editorial. A palavra charge é oriunda do francês charger e pode ser traduzida por exagero. Este tipo de humor foi criado no início do século XIX na França e nasceu com caráter político: inspirado por oposição a governos, seus adeptos queriam se expressar de forma ao mesmo tempo ácida e sutil.
Temidos, muitas vezes pela repercussão de seus trabalhos, os chargistas foram muitas vezes censurados pelo poder, mas ao longo do tempo angariaram enorme popularidade na sociedade. Prova disso são os desenhos expostos nos Salões de Humor, onde predomina esta categoria.
A popularização do humor gráfico aconteceu com o desenvolvimento da imprensa, onde os artistas encontraram espaço para desenvolver um novo tipo de arte, com uma linguagem, narrativa e elementos próprios. Sendo um documento da história e dos costumes de uma determinada época, a caricatura foi a primeira a utilizar o humor gráfico como crítica da sociedade, logo nos fins do século XVIII, com a descoberta da litografia.
Primeiramente as caricaturas eram publicadas em pranchas avulsas. Depois veio a inovação ao colocar os desenhos junto aos textos. A novidade se alastrou e outros meios passaram a usar este recurso: A Marmota Fluminense, O Brasil Ilustrado, Semana Ilustrada, Revista Ilustrada, O Diabo Coxo, entre outros.
A Bahia não ficou atrás. No período de 1880 a 1900, o Estado publicava mais de 50 periódicos humorísticos de pequeno formato e curta duração. Entre eles estavam O Faísca, O Satanaz, A Troça, O Neto do Diabo, O Papagaio, Foia dos Rocêro e D.Ratão. Eram jornais satíricos, panfletários, bem humorados, coisa que a Bahia sempre soube fazer.
No decorrer do tempo, a charge ganhou destaque e status de coluna de opinião desenhada, com espaço garantido nas primeiras páginas dos grandes jornais, em tablóides de sindicatos ou jornais de bairro. Por abordar fatos cotidianos extremamente direcionados à vida local ou de um público específico, não sofreu o impacto da globalização, onde grandes empresas distribuem trabalhos de artistas internacionais a vários veículos de comunicação a um preço baixo.
Existe uma relação de leitura que se estabelece entre jornalistas, fontes e leitores, e também entre chargista e leitor. Quando ia desenhar, Lage se colocava no lugar do leitor e se questionava sobre o que gostaria de ver em seus desenhos. A charge assim pega o leitor no susto, em relação aos desenhos, ao relatar os fatos de forma divertida e informativa e não com temas óbvios. Dessa forma, pode-se constatar que notícia e charge nascem da troca da realidade compreensível e dos sentimentos que permitem ao ser humano entender um fato através da leitura, seja de textos ou de uma ilustração.
Para se fazer humor é preciso cumplicidade com o público, um código. Esse código cultural e emocional tem característica universal e possui também particularidades locais. No mundo todo as pessoas podem rir das mesmas coisas, mas nem sempre pelos mesmos motivos. Alguns cartunistas conseguem com seu trabalho captar mais o espírito de uma época do que se limitar ao registro do fato do dia. Neste caso, não tem mais charge política, mas a crítica de costumes e ela adquire uma característica mais duradoura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário