Há 45 anos, no dia 6 de julho,
morria Louis Armstrong, o músico mais conhecido da história do jazz. Como
trompetista, Armstrong encontra poucos rivais entre os artistas de jazz, sendo
considerado, também, o maior vocalista de todos os tempos, ao lado de Billie
Holiday. Sua carreira decolou mesmo a partir de 1924, quando se tornou solista
da Fletcher Henderson Orchestra. A melhor parte das suas obras foi produzida
antes de 1940.
Iniciada nas primeiras décadas do
século, quando os conjuntos de jazz começavam, a florescer nos bares de
Storyville, a carreira prodigiosa de Louis Armstrong coincide com a própria
evolução do jazz, música de raízes populares que nasceu num cantinho da América
e conquistou o mundo, graças à sua linguagem universal. Armstrong, cuja vida e
música se confundem com a história do próprio jazz, teve a sorte de nascer
precisamente no começo do século, quando o jazz dava também seus primeiros
vagidos.
Daniel Louis Armstrong nasceu em
Nova Orleans no dia 04 de julho de 1900. Nasceu no coração das
favelas negras.
Sua boca grande e o seu sorriso largo granjearam-lhe o apelido de “boca de
saco”, mais tarde abreviado para “boca de cartucheira”. Desde a tenra infância,
era atraído irresistivelmente para a música que vinha das ruas e das tabernas
da cidade.
Ele tinha uma base de música
religiosa negra. Dançava, cantava e assobiava com os dedos para imitar uma
clarineta. Cantava com os olhos fechados e a boca escancarada. Por incrível que
pareça, era tenor, pois só muito mais tarde foi que
desenvolveu seu timbre
grave e rascante. Aos 15 anos conseguiu seu primeiro emprego profissional,
tocando num trio de bar e não parou mais. Ele podia tocar e sustentar notas
agudas durante mais tempo do que qualquer músico da região e gostava de usar um
“vibrato” de controle exótico. Mais importante ainda, começara a compor e a
inventar trechos improvisados, ao mesmo tempo profundos e líricos, que se
tornaram característicos. A fama de Louis Armstrong se espalhara e já era uma
lenda. Quando se juntou a Joe “King” Oliver em Chicago, 1922, com sua Credle
Jazz Band, Armstrong tornou-se o primeiro solista de jazz a conquistar fama
mundial.
Passou também a introduzir os
“scats”, sons ininteligíveis, um amontoado de sílabas sem sentido que lhe dava
a liberdade de usar sua voz como trompete. “Mas o que torna a arte de Armstrong
tão notável?” perguntou o historiador e crítico James Lincoln Collier, e
respondeu: “Primeiro, há o seu domínio do instrumento. Seu tom é quente e rico,
como o mel, em todos os registros. Seu toque é um dos mais fortes e claros
entre os trompetistas do jazz. Enquanto muitos instrumentistas de metais no
jazz têm um estilo cheio de ligaduras e efeitos de língua, Armstrong sempre
introduziu uma nota instantaneamente afiada como a lâmina de uma navalha. Seu
vibrato é amplo, mas mais lento quer o vibrato ligeiramente nervoso de Oliver e
dos músicos de Nova Orleans”.
Na carreira e na contribuição de
Louis Armstrong, o canto ocupou lugar tão importante quanto o som de seu
pistão. Ao longo de sua vida ele gravou com vocalistas como Billie Holiday,
Bing Crosby, Ella Fitzgerald, com o duo folclórico dinamarquês Nina and
Frederick e em orquestras dirigidas por notabilidades como Sy Oliver, Benny
Carter, Gordon Jenkins e Russ Garcia. Fez gravações de grupos pequenos com
Oscar Peterson e Duke Ellington. Apareceu em diversos filmes e a sua gravação
da canção que deu título ao seu último filme, “Hello Dolly”, fez dele uma
grande estrela para toda uma nova geração de ouvintes.
Louis Armstrong deixou-nos no dia
06 de julho de 1971, dois anos após ter festejado seu 71º aniversário em
companhia de alguns amigos e de ter tocado uma última vez o trompete. Com ele,
desaparece não somente uma vida pitoresca e lendária a serviço da música simples,
calorosa e universal de sua cidade natal, Nova Orleans, mas também um artista
único, criador e improvisador de uma música original.
“Louis Armostrong é um grandioso
cronópio”, disse certa vez o escritor Julio Cortazar. Cronópio é o efeito do
jazz sobre as pessoas: é uma coisa para ser sentida e não explicada por meio de
palavras. “Quando pego o pistão, tenho a impressão de agarrar o mundo. Eu sinto
isso tanto hoje como nos velhos tempos em Nova Orleans”. Essa era sua sensação
de músico. Ele que não perdeu de vista, em tudo que fez, a essência de sua
música, ou seja, sua fundamentação verdadeiramente popular. Armstrong foi o
homem que, praticamente sozinho, alterou o destino de toda a música popular no
século XX.
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