Antigamente a palavra valia muito quando
se fazia algum tipo de negócio. Não se precisava de
promissória, recibos ou
qualquer outro tipo de documento. A palavra era um dos maiores bens que se
tinha. Quarenta anos depois a palavra não vale mais nada. Evolução ou
retrocesso? O que aconteceu com os costumes, o caráter, a ética de cada um?
Parece que “aquele jeitinho brasileiro”, de levar vantagem em tudo, ficou
impregnado no país. É só olhar em volta e observar que muita gente pensa em
arranjar carteira de trabalho com informações falsas para enganar a
previdência. Outros resolvem tirar a carteira de motorista subornando o
funcionário do Departamento Estadual de Trânsito que anda insatisfeito com seu
salário. E os que furam a fila do banco porque tem amigo no caixa e assim acha
que tem direito acima dos demais.
Essa escalada de corrupção parece
indicar a disseminação social de um comportamento sem ética que está afetando o
relacionamento entre as pessoas, condicionando-as a querer levar vantagens.
Isso tudo tem ocorrido porque a sociedade atual incentiva pessoas a uma busca
frenética de "ter" cada vez mais, em detrimento do "ser",
com valores de vida distorcidos, valorizando somente o "ter cada vez mais
vantagens" sobre os outros (bens financeiros, em especial, bens materiais,
etc.) não importando se para isso, elas precisem agir de modo desonesto,
utilizando meios escusos e pouco éticos ou lícitos. Em outras palavras, parece
ser a disseminação de que "ser desonesto, conseguindo vantagens, é ter
mais valor, é ser mais esperto do que os outros".
Onde estão os valores? Um bom exemplo
está na profissão de advocacia que são os homens da lei, lutam pelo que é
justo. Pois bem, um deles (só para citar um e tem milhares) que foi pego em
flagrante levando aparelhos de telefone celular para traficantes de uma facção
criminosa. Sim, os traficantes estão cada vez mais contratando advogados para
defendê-los e muitos servem para levar e trazer recados para outros
traficantes.
Na área médica não está muito diferente.
No sul do país foi descoberta uma gangue de médicos que fraudava cirurgias com
próteses em pacientes que necessitavam deste tipo de aparelho. O material usado
por esses médicos era de quinta categoria. Os empresários querendo ampliar suas
contas falsificam produtos diariamente para lançar no mercado. Sejam
brinquedos, perfumes, roupas, sapatos e uma série de itens, inclusive remédios.
Da classe política a situação é bem
pior. Basta lembrar de Collor, Hidelbrando Pascoal, PC Farias, Maluf e os nomes
são milhares, encheria toda uma edição de jornal. A imprensa também não fica de
fora e o caso da Veja com a relação de Cuba com Lula e o suposto jabá no caso
iPond/Maria Rita é só um exemplo. O que está acontecendo, onde está a conduta
desses profissionais? Foi para o ralo.
O coordenador do Núcleo de Estudos de
Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Evandro Vieira
Ouriques, apresentou ao público os conceitos do método de gestão da mente
sustentável contra a Lei Gerson. Segundo ele, “do ponto de vista histórico, o
estado mental da corrupção e da impunidade foi criado pela dupla colonização
que construiu o Brasil, pois em verdade nossa sujeição colonial portuguesa foi
escrita em inglês. Ou seja, desta forma nós fomos marcados no passado por um
absenteísmo por parte da figura do colonizador (um ausente presente, o inglês,
e um presente ausente, o português), absenteísmo ainda marcante no Brasil e em
sua dificuldade - compreensível porém inquietante - de exercer os direitos que
não conquistou, pois tanto a Independência quanto a República, por exemplo,
foram concedidas pela classe dirigente”.
“Para construirmos uma sociedade
sustentável precisamos muito mais do que as lutas operárias e proletárias.
Muito mais do que o desenvolvimento capitalista. Precisamos saber dosar a
componente capitalista de nossa economia psíquica com a componente solidária
que nos move e funda. Quando se fala de Responsabilidade Social, está se
falando do amor e identificação por aquele que se nomeia de Outro. Um fenômeno
biológico que não requer justificação: o amor é um encaixe dinâmico recíproco
espontâneo, um acontecimento que acontece ou não acontece. Precisamos ponderar
nossas decisões em prol da Responsabilidade Social e da Sustentabilidade
levando em conta que é o que chamamos de Natureza que está nos levando a
modificar nossos valores. Ainda bem, pois somente assim podemos ter o
reconhecimento e a gratidão de nossos descendentes. Por termos deixado, de
fato, uma herança que poderá ser usufruída”.
É preciso conhecer mais profundamente
esse pessoal que pretende entrar na política, por exemplo (ou mesmo um médico
que você deseja se consultar, um advogado, empresário etc). Investigue se o
passado deles é de bom caráter, se tem postura transparente, a origem de seus
bens, sua plataforma de trabalho. Pesquise caso contrário vai se arrepender
mais tarde. “O princípio dos princípios é o respeito da consciência, o amor da
verdade”, já dizia Rui Barbosa. (Texto escrito em 2006)
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