Ao longo dos seis anos de sua produção e
circulação A Coisa fez circular um conjunto com mais de
2431 imagens visuais e
textuais sobre o negro. Há coleções físicas d’A Coisa na biblioteca do IGHB,
coleção não microfilmada com algumas poucas edições aleatórias, correspondentes
ao período de 1897 a 1900. A coleção disponibilizada no setor de periódicos
raros da BPEB é a que contém maior número de edições e exemplares regulares,
correspondentes aos anos de 1897 a 1904. Nesta coleção que também não está
digitalizada, nem microfilmada, e se encontra em acelerado processo de
degradação, foram observadas, lidas e fotografadas 172 edições que somaram 712
páginas, sendo cerca de 2300 (dois mil e trezentos) fragmentos de textos e 131
imagens visuais.
Os periódicos baianos pareciam se
espelhar nos periódicos ilustrados produzidos no Rio de Janeiro. Embora A Coisa
tenha mantido imagens de pequeno tamanho inseridas no interior de suas quatro
páginas, ao longo dos anos as suas características físicas passaram a acompanhar
aquilo que parecia uma tendência no Rio de Janeiro com O Mequetrefe (18751893)
e a Revista Ilustrada (1876-1898), jornais que resguardavam a página de capa e
a contracapa para inserção de imagens em grandes dimensões, sendo suas páginas
internas preenchidas com textos.
Em seu segundo ano A Coisa começou a se
adequar a estes padrões já adotados pelo jornal baiano ilustrado A Malagueta
(1897-1898), de propriedade do redator e caricaturista baiano Arthur Arezio da
Fonseca. A partir da entrevista realizada com o professor Luis Guilherme Pontes
Tavares, descobrimos que o gravurista Arthur Arezio da Fonseca foi o diretor de
criação d’A Malagueta, e talvez o possível realizador das suas gravuras. A
partir daí desvendar as tramas, nomes, e histórias dos sujeitos responsáveis
por compor as páginas do semanário
A Coisa nos levou a uma aventura
arqueológica em que também encontramos os comunicadores e pesquisadores da
imprensa, Nelson Varón Cadena, e Gutemberg Cruz, o último responsável por nos
apresentar o nome do gravurista Fortunato Soares dos Santos, responsável pela
produção de litografias no ilustrado baiano O Faisca, e citado por Gutemberg
como o responsável pelas imagens presentes n’A Malagueta. Essas pistas nos
levaram ao Acervo de Memória e Documentação Clemente Mariani (AMEDOC), na
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), da cidade de Cachoeira.
A partir d’O Faisca concluímos que os
primeiros periódicos baianos pareciam o desdobramento das produções portuguesas
do século XIX. Encontramos no livro Jornais e Revistas Portuguesas do século
XIX vários indícios dessa influência, quando percebemos que os nomes dos periódicos ilustrados na Bahia
reproduziam os títulos já publicados em terras portuguesas.
Arthur Arezio é identificado por seu biógrafo,
Guilherme Tavares, como negro, convidado a integrar a associação de amigos
colaboradores na produção de textos e gravuras d’A Coisa, o que visivelmente
acarretou numa grande mudança e valoração no uso e visibilidade das imagens
inseridas na capa do periódico nos anos subsequentes a sua entrada enquanto
colaborador.
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