A Bahia
é singular, plural, positiva
e negativa, preta, branca,
cinza, multicor. Terra do
samba de roda, pagode,
arrocha, axé, rock,
reggae, pop, música
instrumental, carnaval,
São João, Natal, do
profissional ao experimental.
Mas a Bahia não
pode esquecer que muitos
dos seus filhos vieram
de fora, a exemplo
do antropólogo francês
Pierre Verger, do artista
plástico argentino
Carybé, do músico
suíço Walter Smetak, do
artista plástico argentino
Carybé, do caricaturista
português Raymundo Aguiar
(K-Lunga), do educador
português Agostinho
da Silva, do artista
plástico polonês Frans
Krajcberg, do franco-marroquino
Dimitri Ganzelevitch, da dançarina e
coreógrafa polonesa Yanka Rudzka e tantos
outros.
A Bahia
é um estado d´alma.
Cada um a carrega
vida afora à sua
maneira. Cada um
tem a sua Bahia.
Para uns são as
festas populares sagradas e
profanas, para outros,
o perfume dos cacaueiros
da infância ou do
sabor das frutas tropicais.
E outros ainda a
terra da costa clara,
banhada por um
mar amigo que inspira
canções. O lugar
onde se está é
onde o mundo nasce.
O seu povo, plural
na sua etnia e
singular nas suas
manifestações. Assim conhecer
a Bahia é usar
os sentidos. De corpo
e da alma.
FATUMBI -
O fotógrafo, etnólogo,
antropólogo e babalaê
Pierre Verger
(1902-1996) desembarcou
em Salvador em 1946
e fez reportagens
sobre o candomblé,
impressionando-se com a
cultura dos descendentes
dos africanos. Mais tarde,
envolvido com os
rituais afros, foi
consagrado a Xangô
e recebeu o título
de babalaô Fatumbi – o
renascido, na Africa,
em 1952. Seu amor
às coisas e gentes
da Bahia foi amplamente
documentado nas obras
50 Anos de Fotografia,
Fluxo e Refluxo do
Tráfico de Escravos
entre o Golfo de
Benin e a Bahia
de Todos os Santos
– dos Séculos XVII a
XIX, Notícias da Bahia
– 1950, Ewê – o
uso das Plantas na
Sociedade Iorubá, entre
outras.
Etnólogo autodidata,
ele conseguiu o título
de doutor terceiro ciclo
da Universidade de
Sorbone e ensinou
na Universidade de
Badã na África. Foi
professor da Faculdade
de Filosofia e Ciências
Humanas da Ufba.
Toda sua obra de
mais de cem livros
e 65 mil negativos,
uma biblioteca com quase
três mil volumes, um
catálogo de 3,5
mil plantas e mais
de cem horas de
gravações em iorubá,
estão à disposição
de estudiosos e pesquisadores
na fundação que leva
seu nome em sua
casa, no Alto do
Corrupio, Vasco da
Gama.
DESENHANDO - O
baiano Carybé (1911-
1997), que por acidente
nasceu na Argentina,
foi desenhista, gravador,
pintor, ceramista,
escultor, historiador,
jornalista, pesquisador,
escritor. Em 1938
aportou em Salvador.
Deslumbrado, quis ficar.
Não foi possível.
Mas o desejo de
pintar a magia do
povo baiano, os rituais
do candomblé e as
belas paisagens da terra
dos orixás falava alto
em seu coração. Depois
de ter viajado demoradamente
pela América do Sul,
desenhando e expondo,
voltou em 1950 e
fixou para sempre na
Bahia.
Chegou de
vez à terra da
mestiçagem, do candomblé
e das puxadas de
rede que retratou em
seus quadros. Aceitou um
convite de Anísio
Teixeira, no governo
de Otávio Mangabeira,
para desenhar a Bahia.
Através da arte
(desenho, aquarelas,
aguadas, óleos, talhas,
painéis, livros) e
através da ação
pessoal numa participação
cotidiana e criadora
na vida popular baiana,
tornou-se um dos
cidadãos mais eminente
da urbe. Em sua
obra, ele registrou
de maneira expressiva
os rituais do candomblé
e valorizou as tradições
trazidas da África
pelos negros.
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