Eleger como objeto de estudos o
semanário baiano A Coisa, lançado em 1897, já é, em si, um desafio instigante
para o pesquisador, que se depara com uma modalidade de manifestação
comunicativa condensadora de múltiplas informações, cuja interpretação aciona
necessariamente o conhecimento de um conjunto de dados e fatos contemporâneos
ao momento específico em que se instaura a imprensa humorística no país. Tulio
Henrique Pereira enfrentou o desafio de forma competente e perspicaz no recorte
feito de um objeto com poucos estudos a respeito, mas o estudioso não se
limitou à explicitação dessas correlações discursivas, pois enriquece sua
análise com observações pertinentes e ilustrações importantes. Mostra que, na
sua construção interna, o desenho de humor é bivocal, porque é carnavalesca, no
sentido de Bakhtem. Ele informa e opina sobre o seu tema por meio da
representação de um mundo às avessas, aguçando, pelo própria inversão de
valores sociais.
Todo o processo de pesquisa que culminou
com a escrita da tese de doutorado intitulada Que Coisa é essa, YôYô? (Cor e raça na imprensa ilustrada da
Bahia –
1897-1904) defendida na Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais,
através do Instituto de História, se baseia a respeito das identidades e o
apagamento de pessoas negras nas pinturas da cidade, principalmente o semanário
A Coisa que surgiu em 1897 e encerrou em 1904. “Ao longo dos seis anos de sua
publicação A Coisa fez circular um conjunto com mais de 2431 imagens visuais e
textuais sobre o negro”, informa Tulio.
Doutorando em História no Programa de
História e Cultura da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com Mestrado em
Memória: Linguagem e Sociedade pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(UESB), e graduação em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Desenvolve pesquisa acadêmica em temas relacionados à Identidade; Identidades
Étnicas; História da Pele e do Corpo Negro no Brasil; Iconografia; Literatura
do Séc. XIX; Arte-Cultura; Memória e Representação. É, também, autor de
literatura.
A Coisa
No dia 30 de agosto de 1897 começou a
circular em Salvador o jornal A Coisa. Periódico de circulação semanal que se
denomina crítico, satírico, humorístico e ilustrado, de pequeno formato.
Manteve-se em circulação até outubro de 1904, contabilizando oito anos de
registro, mas apenas seis de circulação efetiva.
Segundo o pesquisador, as lutas por
independência e liberdade de imprensa provocaram cisões e enfatizaram as
diferenças políticas das correntes ideológicas entre liberais e conservadores.
O Nordeste, especialmente a Bahia e Pernambuco teriam sido cenários das
primeiras manifestações dessa imprensa ilustrada autêntica ou autônoma. A Coisa
faz parte do segundo momento no qual a nova imprensa tentou novo fôlego,
tensionada pela luta abolicionista e o advento da Primeira República.
De 1865 até 1911 foram lançados 34
títulos de periódicos dentro da capital baiana, denominados ilustrados r
críticos. Após o lançamento d´A Coisa (1897-1904) surgiram na capital da Bahia,
15 títulos de periódicos autodenominado ilustrador e críticos, 19 números a
menos e com duração de vida mais curta em comparação ao periódico que antecedeu
ao lançamento d ´A Coisa.
Acredita o estudioso que o decréscimo de
jornais lançados em Salvador com a chegada da década de 1900 está relacionado
com a mudança de governo e as reformas urbanísticas, e os olhos voltados para o
progresso que o Rio de Janeiro, capital da República, e São Paulo
representavam, muitos homes de letras se mudara da Bahia para essas regiões.
Mas quais as tipografias e a imprensa já havia se estabelecido profissionalmente
e de forma numérica.
Com a instalação da Corte Imperial na
cidade do Rio de Janeiro e, posteriormente, do centro administrativo da
República, Salvador perderá imediatamente socioeconômico e também deixava de
ser o expoente cultural do Brasil. A imprensa baiana do século XIX, e do Brasil
como um todo, foi marcado pelo uso do anonimato de muitos dos seus
colaboradores. Muitos das vezes, o pseudônimo servia como marxa de
identificação de um estilo.
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