29 junho 2016

Olhar de quem veio de longe (02)



XILOGRAVURAS - O artista alemão - gravador, escultor, pintor, ilustrador, poeta, escritor, cineastaeprofessor - naturalizado brasileiro Karl Heinz Hansen (1915-1978) chegou ao Brasil em 1950 e viveu em São Paulo. Em 1955 ele se mudou para Salvador. Em 1957, ilustra a publicação Flor de São Miguel, com textos de Jorge Amado, Vinicius de Moraes e de sua autoria. No ano seguinte realiza ilustrações para Navio Negreiro, de Castro Alves. Retorna à Alemanha em 1959, permanecendo até 1963, enquanto trabalha no ateliê de gravura fundado por ele mesmo no castelo Tittmoning. Vive na Etiópia entre 1963 e 1966, onde ajuda a estabelecer a Escola de Belas Artes da cidade de Addis Abeba. Retorna a Salvador e naturaliza-se, adotando o nome artístico de Hansen Bahia. Em 1959, retornou à Alemanha, onde ficou até 1967, quando foi para a Etiópia. Em 1966 ele voltou à Bahia, de onde não saiu mais, sempre retratando sua gente e vida.



Torna-se professor de artes gráficas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 1967. Muda-se para São Félix, Bahia, em 1970, e reside até seu falecimento, em 1978. Dois anos antes de sua morte, doa em testamento sua produção artística para a cidade de Cachoeira, Bahia, onde é criada a Fundação Hansen Bahia, que recebe seu acervo artístico de xilogravuras, matrizes, livros, pinturas, prensas e ferramentas de trabalho.Quando começou sua carreira de xilogravador quase no susto, o autodidata Hansen talvez não imaginasse que se tornaria um dos grandes mestres da técnica.

AMBIENTAL - O artista e ativista ambiental Frans Krajcberg viajou por quase todo o País documentando cenas de agressões à natureza. Em 2003 ele fez uma proposta ao governo baiano de construir um museu ecológico mas não recebeu resposta. A obra do ativista (cidadão baiano desde 2008) se restabeleceu no refúgio das baleias jubartes, onde vive desde 1971 e mantém o seu ateliê no Sítio Natura, no município de Nova Viçosa. Chegou ali o convite do amigo e arquiteto Zanine Caldas, que o ajudou a construir a habitação: uma casa, a sete metros do chão, no alto de um tronco de pequi com 2,60 metros de diâmetro. À época Zanine sonhava em transformar Nova Viçosa em uma capital cultural e a sua utopia chegou a reunir nomes como os de Chico Buarque, Oscar Niemeyer e Dorival Caymmi.

No sítio, uma área de 1,2 km², um resquício de Mata Atlântica e de manguezal, o artista plantou mais de dez mil mudas de espécies nativas. O litoral do município é procurado, anualmente, no inverno, por baleias-jubarte. No sítio, dois pavilhões projetados pelo arquiteto Jaime Cupertino, abrigam atualmente mais de trezentas obras do artista. Futuramente, com mais cinco construções projetadas, ali se constituirá o museu que levará o nome do artista.

POPULAR - Aos 39 anos de idade, Dimitri Ganzelevitch, francês nascido no Marrocos, comascendência russa, abandonou sua residência em Portugal, onde comandava uma loja de confecções e duas galerias de arte, e veio morar no Brasil. Era 1975. Escolheu como lar o Centro Histórico de Salvador, na Bahia, onde deixou de lado as roupas e passou a trabalhar exclusivamente com o comércio de obras de arte, um universo do qual fazia parte desde os tempos de estudante em escolas de arte de Londres e Paris.


Inicialmente dedicando-se à arte acadêmica e erudita, foi na arte popular que Ganzelevitch descobriua riqueza da criação humana, e se destacou entre os outros marchands de Salvador. Após um tempo frequentando a elite soteropolitana, lutando para se fixar em um mercado bastante incipiente, decidiu mergulhar de vez na cultura popular e se transformou numa espécie de garimpeiro de novos artistas. Hoje, possui uma das maiores coleções pessoais de arte popular do país. Entre obras de todos os cantos do mundo, frutos de constantes viagens, destacam-se peças de brasileiros anônimos ou praticamente desconhecidos. São quadros, esculturas, adornos, tapeçarias e móveis provenientes dos mais diversos pontos do país, ou simplesmente tábuas borradas de tinta, que em breve farão parte da Casa-Museu Solar Santo Antônio, projeto que Ganzelevitch elaborou para deixar de ser marchand e lidar com a arte apenas como colecionador.

Um comentário:

Dimitri Ganzelevitch disse...

Minha casa foi declarada "Casa-Museu" pelo ministério da Cultura em 2008. Nem por isso recebo qualquer ajuda técnica e muito menos financeira...