Quem conhece a Bahia e tem a
oportunidade de presenciar suas manifestações culturais sabe como nosso Estado
é rico. Berço da cultura brasileira, a Bahia recebeu as mais diversas
influências, tornando-se um lugar único, onde cores, músicas, danças, folclore,
história, lendas, crenças e vivências compõem a origem do povo baiano. Cada
município, cada região possuem suas expressões culturais mais marcantes, e que
quase sempre tem haver com a vida de fé e força da população nativa. Conhecer
cada uma dessas revelações de cultura é o mesmo que mergulhar dentro de si
mesmo, e o que é melhor, encontrar-se mais belo, criativo e encantador.
A festa do Bumba-meu-boi é uma
tradição que se mantém desde o século XVIII. O enredo da festa resgata uma
história típica das relações sociais e econômicas da região durante o período
colonial, marcadas pela monocultura, criação extensiva de gado e escravidão. Em
uma fazenda de gado, o escravo Francisco mata um boi de estimação de seu senhor
para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, a escrava Catirina, que deseja
comer língua de boi. Quando descobre o sumiço do animal, o senhor fica furioso
e, após investigar entre seus escravos e índios, descobre o autor do crime e
obriga Francisco a trazer o boi de volta. Pajés e curandeiros são convocados
para salvar o escravo e, quando o boi ressuscita urrando, todos participam de
uma enorme festa para comemorar o milagre.
Na Bahia, esta manifestação
cultural reina absoluta em quase toda parte do Estado. No entanto, Cachoeira,
Camamu, Canavieiras, Conde, Cruz das Almas, Ibotirama, Juazeiro, Inhambupe,
Jequié, Monte Santo, Santo Antônio de Jesus, São Félix, Prado, Jiquiriçá,
Itacaré, Nova Viscosa e Porto Seguro são algumas das cidades que mais mantém
viva esta que é uma das maiores heranças seculares da cultura popular baiana,
onde um boi é a principal atração. O bailado, marcado por tambores, pandeiro,
zabumba e maracás e entoado por cantigas, fazem o boi dançar freneticamente,
esbanjando cores e vitalidade.
“SOU EU, SOU EU, SOU EU MACULELÊ,
SOU EU...” - Outra grande expressão popular da cultura da Bahia é o maculelê.
Trazida pelos africanos, esta dança era mais uma forma de luta contra os
horrores da escravidão. Enquanto os negros dançavam com os cepos de cana no
meio do canavial, cantavam músicas que evidenciavam o ódio ao cativeiro. Porém,
eles as cantavam nos dialetos africanos para que os feitores não entendessem. O
maculelê era uma maneira de esconder os perigos das porretadas desta dança. Aos
golpes e investidas dos feitores, os negros se defendiam com largas cruzadas de
pernas e fortes porretadas que atingiam principalmente a cabeça ou as pernas do
agressor.
Além dos golpes, os escravos
pulavam de um lado para o outro dificultando ainda mais que fossem pegos.
Atualmente o maculelê é encenado com bastões de madeira. Essa dança de forte
declaração dramática é praticada somente por homens que dançam em grupo,
batendo os bastões no ritmo dos atabaques e ao som de cânticos em linguagem
popular ou em dialetos africanos. A área de maior incidência do maculelê é a
região de Santo Amaro, onde a dança é realizada em homenagem ao dia de Nossa
Senhora da Purificação, padroeira do município, bem como no mês de maio durante
os festejos pela Abolição da Escravatura, uma tradição mantida há mais de 100
anos na cidade.
“XÔ XUÁ, CADA MACACO NO SEU
GALHO...” - Mas, se Santo Amaro abriga o maculelê, também resguarda com igual
beleza o samba de roda. Forma mais popular e autêntica do samba brasileiro, o
samba de roda é tido como a primeira forma do samba atual, era dançado pelos
escravos nas senzalas durante suas poucas horas de descanso.Tradição milenar do
recôncavo baiano, esta forte expressão popular é parte visceral de municípios
como Cipó, Candeias e Cachoeira durante os festejos juninos e da Boa Morte. Em
São Félix, Muritiba, Conceição do Almeida e Santo Amaro, o samba de roda é
destaque na festa de Nossa Senhora da Purificação. São Francisco do Conde,
Feira de Santana, Itacaré e Conceição do Almeida celebram o samba de raiz na
festa de 2 de Julho. Acompanhado por atabaques, ganzá, reco-reco, viola e
violão, o solista entoa
cantigas, seguido em coro pelo grupo a dançar. Ligado
também ao culto de orixás e caboclos, à capoeira e às comidas à base de dendê, o
samba de roda teve início por volta de 1860, como forma de preservação da
cultura dos negros africanos escravizados no Brasil.
A influência portuguesa, além da
língua falada e cantada, fica por conta da introdução da viola e do pandeiro.
Essa manifestação concorre ao título de Obra-Prima do Patrimônio Oral e
Imaterial da Humanidade. Presente no trabalho de renomados compositores como
Dorival Caymmi, João Gilberto e Caetano Veloso, esse misto de música, dança,
poesia e festa se revela de duas formas especiais: o samba chula e o samba
corrido. A chula, uma forma de poesia, é declamada pelo solista enquanto o
grupo escuta atento, só se rendendo aos encantos da dança após o término do
pronunciamento, quando um participante por vez adentra o meio da roda ao som da
batucada regida por palmas. Já no corrido, o samba toma conta da roda ao mesmo
tempo em que dois solistas e o coral se alternam no canto.
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