Na juventude
conheci a bibliotecária Denise Tavares, tão dedicada na tarefa de cuidar dos pequenos esua biblioteca para aumentar ainda mais o hábito de leitura. E para ajudar em suas tarefas, ministrei diversas palestras sobre histórias em quadrinhos no local, uma vez que tinha fundado um clube de historias em quadrinhos com os amigos do bairro. O clube realizava exposições de personagens de quadrinhos, palestras para mostrar como o leitor de quadrinhos pode criar hábitos de leitura e, mais tarde, passar a ler os grandes romances. E Denise Tavares dava a maior força e acreditava no poder dos quadrinhos para o hábito da leitura. Ela era uma das poucos na época, pois a maioria criticava os gibis.
O professor
Adroaldo Ribeiro Costa também era um dos que defendia a HQ, tanto que ele passou a ser o nosso presidente de honra. Fizemos uma exposição no Instituto Educacional Isaías Alves (ICEIA) e um debate com todos que acusavam e defendia os gibis. Um sucesso.
No debate
conseguimos vencer fácil tais argumentos preconceituosos de que quadrinhos era coisa só para crianças, ou porque só tinha fantasia, ou mesmo violência etc. E se fosse como eles afirmavam teríamos que acabar com os contos de fadas, a literatura infantil, os jornais diários e a tevê porque nesses veículos há fantasia tão necessária a criançada, a violência quotidiano que não pode ser desassociada da realidade. E o que vemos hoje são crianças que não tem oportunidade de sonhar, de fantasiar sua infância, de viver seu tempo.
LEITURA
Na minha
adolescência li Hermann Hesse (1877-1962), escritor alemão que depositou no fim dos anos 60, do movimento hippie e das culturas alternativas. Seus livros Sidarta, O Lobo da Estepe, Demian entre outros foram decisivos em minha formação. Verdadeiro artesão da linguagem, ele transmite suas ideias filosóficas místicas marcando a geração da contracultura dos anos 70, bem diferente da profunda e modificada intelectualidade de seu amigo Thomas Mann.
Na minha
época cultuava-se o professor, ou seja, eles eram respeitados e valorizados. Na escolamodelo Centro Educacional Carneiro Ribeiro, Escola Parque, tive a felicidade de conhecer grandes mestres que ensinaram lições essenciais de vida. O professor era um educador. E a minha professora de Português, Emilia que me ensinou a amar os livros, a leitura e eu me aprofundava em Érico Veríssimo (e seus romances magistrais), Monteiro Lobato (com suas narrativas geniais), Malba Tahan (e suas lendas orientais), José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado e tantos outros, os poemas de Carlos Drummond de Andrade, Mário Quitana e Cecília Meireles, os contos de Anibal Machado, Machado de Assis entre outros alimentavam minha alma juvenil. Claro que eu li gibis, e muitos, misturado aos livros, tudo trans-formador, híbrido, mutante.
Na juventude
não posso esquecer o universo exuberante do escritor Colombiano Gabriel Garcia Marquez em Cem Anos de Solidão. A narrativa da mística cidade de Macondo e seus habitantes quase desmemoriado e de comportamento anacrônico capaz de deixar um rastro de borboletas amarelas. Era o realismo mágico que sempre me fascinou (e que veio a mim dos quadrinhos), uma forma de protesto que escapava à censura e com Márquez conheci o peruano Mário Vargas Llosa, o cubano Aleijo Carpentier e os argentinos Júlio Cortazár (que inclusive flertou com as histórias em quadrinhos) e Jorge Luís Borges. Também me fascinou, na época, Encontro Marcado, de Fernando Sabino,
É uma
pena que no Brasil, e pior ainda, na Bahia, os escritores não tem boas oportunidades de mostrar seu trabalho. A leitura, e ainda mais a leitura de literatura, não faz parte do cotidiano das pessoas.
E na
religião a mensagem
de Cristo revolucionou o mundo grego e romano ao unir as duas pontas, trazendo a fé para o plano da história. A vida humana está cercada ou oprimida por três tipos de medo que
nos impedem de ter uma vida boa – medos sociais, medos psíquicos (fobias) e medo da morte. A religião oriental prepara todos para a hora da morte. A ocidental não, teme cada vez mais.
Todas as
grandes filosofias são doutrinas de salvação sem Deus. Prometem que poderão se salvar por conta própria e por meio da razão. As religiões prometem que poderemos alcançar a salvação, mas mediante um Outro (Deus) e mediante a fé (e não pela lucidez da razão). Para alcançar a serenidade, é preciso conseguir vencer os medos e podemos alcançá-la com nossas próprias forças.
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