Jornais e
revistas anteriores
a 1800 tiveram vida
precária, limitados
pelos altos custos das
assinaturase pelos
métodos primitivos
de produção e distribuição.
Tudo isso mudou dramaticamente
após a década de
1870. Entre invenções
e aperfeiçoamentos, o
telégrafo, a máquina
de escrever, o elevador
de passageiros, e
a luz elétrica mudaram
o trabalho e a
vida de muitos. Anúncios
apareciam nas revistas.
Os jornais publicavam
edições dominicais.
Letreiros, pôsteres e
cartazes apelavam ao
público em ônibus,
paredes, cercas e
laterais de celeiros.
Laboratórios farmacêuticos
distribuíam milhões de
almanaques ilustrados.
Em poucas palavras,
abundavam os impressos
e periódicos ilustrados,
de anedotários, anúncios,
livretos musicais e
cartões de namorados
a postais e cartões
comerciais, muitos dos
quais com caricaturas
e desenhos satíricos
humorísticos que descreviam
figuras simbólicas
como o Tio Sam
e a Srta. Liberdade,
burros e elefantes
e personagens raciais,
étnicas e de
imigrantes.
A parada
etno imigrante era liderada
por Sambo, Paddy e
Bridget, negros com
máscaras de melancia
e cômicos e irascíveis
irlandeses, homens e
mulheres. Hans, o
holandês ou alemão
seca cerveja, o trançado
João Chinês e o
gesticulante judeu Abie,
e outros estereótipos
de imigrantes e representativos
das personagens profissionais
e regionais não estavam
distantes.
O imigrante
enfrentou obstáculos
difíceis para a
assimilação e consequente
progresso ao nível
da classe média. A
língua estranha, novos costumes
e frequente má acolhida
foram alguns desses obstáculos,
além da barreira da
cor. Judeus, morávios,
húngaros, brancos sulistas,
negros, porto riquenhos,
mexicanos ou cubanos
deixaram suas casas
ao ver as promessas
de uma condição econômica
social mais avançada.
Mas a vida desses
imigrantes nos Estados
Unidos está repleta de
frustrações múltiplas
e sutis.
Católicos irlandeses
e alemães foram vítimas
de sátiras gráficas mais
antigas. Depois, os
imigrantes da Europa
Ocidental e Oriental
eram representados como
alienígenas, ou seja,
mais ameaçadores aos
valores e padrões
americanos do que
os católicos. As caricaturas
gráficas dos irlandeses
no popular semanário
humorístico americano
da era dourada (cerca
de 1870/1890), Puck
(1876/1918) se destacavam,
além de outros alvos
da sátira e humor
que incluíam maçonaria,
voto feminino, divórcio,
inflação, socialismo,
anarquismo, alimentos
adulterados e sacerdotes
anti evolucionistas.
Paddy e
Bridget (um operário
e uma doméstica),
irlandeses de baixa
classe social, eram o
produtoprincipal
das piadas e charges
irlandesas de Puck.
Seus tipos eram ignorante
e trabalhadores de
serviço pesado, dados
a bebidas e excessos
emocionais, simpatizantes
de briga ou pequenos
furtos. Paddy era
caracterizado como um
tipo humorístico, emocionalmente
instável, ignorante,
sujo, supersticioso, infantil,
violento e vingativo,
“uma invenção da velha
imaginação vitoriana”
(Anglo-Saxon and Celts,
New York, NY, 1968,
p.52). Naquela época era
natural e altamente
sensível ao potencial
negativo e até
destrutivo do estereótipo
étnico.
Para John
e Selma Appel, “o
estereótipo foi uma
leve reminiscência das
lutas por vezes dolorosas
dos irlandês-americanos em
busca de trabalho e
estabilidade, e de
sua presença em massa
nas ocupações de menor
qualificação profissional,
operárias ou domésticas”
(APPEL, John e
Selma. Comics. Da imigração
na América. SP, Ed.
Perspectiva, 1994, p.90).
“Durante a era
ourada e por algum
tempo depois, caricaturas
de negros, judeus, holandeses
e irlandeses eram lugar-comum
na imprensa e no
palco. O estereotipo
étnico se expressava
num dialeto cômico e
prontamente reconhecido,
era grosseiro, ébrio ou
imbecil” (APPEL, op.cit.,p.91).
Essas imagens
eram apresentadas em
romances, no palco,
em semanários cômicos e,
como apontou o professor
Oscar Handlin, caricaturas
do homem real. Uma
das funções da caricatura
era “enquadrar os indivíduos
em grupos distintos”.
(Race and Nationality
in American Life, Garden
City, NY, 1957, p.72).
E essa sempre foi
a função do estereotipo.
No fim
do século XIX e
início do século XX
estereotipo étnicos e
raciais estavam altamente
visíveis na imprensa,
majoritariamente cômicos e
satíricos (alguns claramente
escabrosos), tornaram-se
lugares-comuns na música,
no palco e nos
periódicos em expansão
num Estados Unidos carregado
de tensões sociais e
preconceitos raciais, étnicos
e religiosos. Havia
uma versão romantizada
da América como o
paraíso de milhões
de imigrantes, e
da Srta. Liberdade
e do Tio Sam
entronizados como as
personificações dos ideais
americanos em toda
espécie de material
impresso na época.
Essa iconografia sancionou
as máculas etnorraciais
que chocam o observador
moderno.
Após a
década de 1920, a
América fechou suas
portas com base nas
descriminatórias e racialmente
inspiradas leis de
quotas de imigração.
A contribuição das
imagens desses imigrantes
formaram as tendências
anti-semitas na sociedade
americana. É bom
lembrar que os
estereótipos etnorraciais
americanos são complexos,
e nem sempre podem
ser reduzidas a simples
noções de preconceito,
carência social, deficiência
de personalidade ou
xenofobia. Alguns estereótipos
se originaram do choque
dos valores culturais,
os temores e inseguranças
dos americanos natos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário