Os estereótipos são manifestações das mais antigas em nossa cultura, estão nos contos de fadas , nas narrativas populares, nas canções da Idade Média. Provém dos rituais, dos mitos, das belas construções verdadeiramente originais (rupturas): comparações e metáforas, que, utilizadas pela primeira vez, caíram no gosto do popular (e da ideologia). À medida que são repetidas, tornaram-se frases feitas, que nos vem ao espírito ao primeiro pensamento, as quais é preciso evitar empregar e, sobretudo, esforçar-se por não crer nelas, ou pelo menos, desconfiar delas. É na leitura do discurso midiático (no seu pior e no seu melhor) que o semiólogo francês Roland Barthes(1915-1980) alerta: “em cada signo dorme este monstro: um estereótipo) (BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 1988, p.15)
O pesquisador
espanhol radicado na
Colômbia, Jesús Martin-Barbero
(2003) cita as histórias
em quadrinhos norte americanas
das primeiras décadas do
século XX como exemplo,
ao mesmo tempo, de
ruptura e continuidade:
“A ruptura, na ´marca
registrada´ firmada pelos
syndicates, que midiatizam
o trabalho dos autores
até estereotipar em
último grau os personagens,
simplificar ao máximo
os argumentos e baratear
o traço do desenho[...].
No entanto, há continuidade
na produção de um
folclore que busca
no antigo o anonimato,
a repetição e a
interpretação ao inconsciente
coletivo que ´vive´na
figuro dos heróis e
na linguagem de adágios
e provérbios, nas
facilidades de memorização
e na transposição
da narrativa para a
cotidianidade que se
vive (BARBERO, 2003, p.208).
O professor
de História da Arte,
argentino, radicado no
México, Néstor García
Canclini ao falar
de culturas híbridas,
denomina os quadrinhos
“gênero impuro”,
com a capacidade
de transitar entre a
imagem e a palavra,
entre o erudito e
o popular, reunindo características
do artesanal e da
produção de massa.
O autor aponta para
a necessidade de
novos instrumentos que
deem conta de fenômeno
como as migrações,
o desemprego e os
mercados informais
(CANCLINI, 2000).
As artes
se relacionam umas com
as outras, de uma
forma desterritorializada, o
que amplifica seu potencial
de comunicação e
conhecimento. E é
dessa barreira “oblíqua”,
enviesada, que as
práticas culturais
atuam no desenvolvimento
político. Traduzidas
em imagens, as lutas
cotidianas ganham formas
e podem germinar a
partir de metáforas
usuais, posturais
e ações diferenciadas
(CANCLINI, 2000).
Já o
teórico indiano Home
Bhabha (1998) a cultura
deve ser interpretada
como estratégia de sobrevivência.
A partir dos discursos
pós- coloniais marcados pela
questão da diáspora,
do exílio e dos
deslocamentos, Bhabha discute
a troca de experiências
entre culturas diversas que,
por diferentes motivos, passam
a coexistir, desencadeando
um movimento de construção
e circulação de significados.
O híbrido, não é
algo concreto, mas é
um processo, em constante
estado de ajuste, simultaneamente
negando e afirmando
a semelhança com aquilo
que o gerou.
É no
século XX que se
desenvolve a filosofia
do bem estar, motivando-se
os indivíduos a consumir
o que se produz.
Como consequência inevitável
da era tecnológica
surge um tipo de
cultura que se
chamará inicialmente
cultura de massa.
Segundo Morin, numa
optica sociológica, o
termo cultura aparece como
resultado de uma
mistura entre razão
e emoção, que vai
“estruturar”, “orientar”,
“construir”, “operar”,
“suprir”. Seu
tempo de ação se
estende entre o
real e o imaginário,
numa simbiose do instintivo
com o representativo.
Seu código ultrapassa
o simples objetivo.
O termo massa expressa
uma ideia de multiplicação
ou de difusão maciça.
“As histórias em
quadrinhos – escreveram Waldomiro Vergueiro e Nobuyoshi Chinem no livro
Histórias em Quadrinhos e Práticas Educativas – retratam a sociedade em que são
produzidas, apresentando e disseminando a visão ali dominante, ou seja, aquele
que tem maior possibilidade de ser bem recebida pelos leitores. Nesse processo,
gêneros, etnias e outros elementos sociais são simplificados, muitas vezes pela
utilização de estereótipos que auxiliam no processo de atingir maior
entendimento ou empatia. Ao mesmo tempo, a forma como a representação dos
diversos segmentos da sociedade é realizada nas histórias em quadrinhos não é absolutamente
estática. Ela recebe, no decorrer do tempo, influências da própria sociedade,
num mecanismo de retroalimentação saudável e necessário à sobrevivência do
meio”.
Referências:
APPEL, John
e Selma. Comics. Da
imigração na America.
São Paulo: Editora Perspectiva,
1994
BARBAREO, J.M.
Dos meios às Mediações.
Rio de Janeiro: UFRJ,
2003.
BARTHES, Roland.
Mitologias. São Paulo:
Difel, 1985
--------------,
Roland. Aula. São
Paulo: Cultrix, 1988
BHABHA, Home.
O Local da Cultura.
Belo Horizonte: UFMG, 1998
CANCLINI. Nestor
García. Culturas Híbridas:
estratégia para entrar
e sair da modernidade.
São Paulo: Editora da
USP, 2000.
ECO, Umberto.
Apocalípticos e Integrados.
São Paulo: Perspectiva,
2001
FONSECA, Joaquim
da. Caricatura. A
imagem gráfica do humor.
Porto Alegre: Artes e
Ofícios, 1999
HANDLIN, Oscar.
Race and Nationality
in American Life, Garden
City, NY, 1957
MORIN, Edgar.
Cultura de massas
no século XX. O
espírito do tempo.
Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1977
VERGUEIRO, Waldomiro, CHINEN,
Nobuyoshi. Histórias em Quadrinhos e Práticas Educativas. Vol.II (os gibis
estão na escola, e agora?). São Paulo. Criativo, 2015.
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