18 julho 2012

Negritude baiana em Jubiabá


É ele o estivador/Seu suingue é um suor/Ô, ô//Toda nega faz amor com ele, ô, ô/Toda branca tem maior tensão, ô, ô/Arêre tem confusão na pele/Tem Jubiabá seu protetor//Toda nega faz amor com ele, ô, ô/Toda branca tem maior tensão,ô, ô/Arêre de confusão na pele/Tem Jubiabá seu protetor//Jubiabá, baba, baba, babalaô/Jubiabá/Bauduíno guerreira/Jubuabá, baba, baba, babalaô/Jubiabá/É de canto e de samba//Jubuabá, baba, baba, babalaô//Jubiabá/É comum no coração//Jubuabá, baba, baba, babalaô/Jubiabá/Luta pela divisão//Baba, baba, baba, baba, baba, ba, ba, ba/Jubuabá, baba, baba, babalaô/Jubiabá//Na boca do mangue é rei/Despediu-se um grande amor//Uma bala cega sem destino, ô,ô/Foi no peito do trabalho,ô,ô/Este era o sonho do menino/Bauduíno sempre vencedor/Retrata o cotidiano das classes populares na cidade de Salvador, na Bahia, sob a ótica de Antônio Balduíno” (Jubiabá, de Gerônimo)

Quarto livro publicado por Jorge Amado, Jubiabá (1935) narra a história de um dos primeiros heróis negros da literatura brasileira. Foi com a leitura dessa obra que trouxe para a Bahia o jornalista, desenhista e pintor Carybé e também o fotógrafo e etnólogo francês Pierre Verger. E é com o título de “Carybé, Verger & Jorge – Obás da Bahia” que o jornalista José de Jesus Barreto vai lançar ainda este ano o livro sobre o tema pela Solisluna Editora.

Jubiabá conta a história do negro Antônio Balduíno, descendente de escravos e nascido e criado no morro do capa-negro, um dos refúgios na periferia de Salvador onde os negros se abrigaram após a abolição da escravatura e a posterior falta de apoio político. Ali, convive com os homens mais respeitados do lugar, como o violeiro Zé Camarão e o pai-de-santo Jubiabá. Ainda criança, Baldo deseja que sua história seja cantada num ABC, composição popular em louvor de heróis e santos.

Negro Balduíno, belo negro baldo/Filho malcriado de uma velha tia/Via com seus olhos de menino esperto/Luzes onde luzes não havia//Cresce, vira um forte, evita a morte breve/Leve, gira o pé na capoeira, luta/Bruta como a pedra, sua vida inteira/Cheira a manga-espada e maresia//Tinha a guia que lhe deu Jubiabá/Que lhe deu Jubiabá/A guia//Trava com o destino uma batalha cega/Pega da navalha e retalha a barriga/Fofa, tão inchada e cheia de lombriga/Da monstra miséria da Bahia//Leva uma trombada do amor cigano/Entra pelo cano do esgoto e pula/Chula na quadrilha da festa junina/Todo santo de vida vadia//Tinha a guia que lhe deu Jubiabá/Que lhe deu Jubiabá/A guia//Alva como algodão e tão macia/Como algo bom pra lhe estancar o sangue/Como álcool pra desinfetar-lhe o corte/Como cura para a hemorragia//Moça Lindinalva, morta, vira fardo/Carga para os ombros, suor para o rosto/Luta no labor, novo sabor, labuta/Feito a mão e não mais por magia//Tinha a guia que lhe deu Jubiabá/Que lhe deu Jubiabá/A guia//Negro Balduíno, belo negro baldo/Saldo de uma conta da história crua/Rua, pé descalço, liberdade nua/Um rei para o reino da alegria//Tinha a guia que lhe deu Jubiabá/Que lhe deu Jubiabá/A guia” (Jubiabá, Gilberto Gil).

O mundo ao qual Balduíno pertence é recheado de histórias de seu povo, tanto dos seus ascendentes quanto dos homens que viveram ali: saveireiros, jagunços, sertanejos, operários, que se dão ao seu conhecimento pelas vozes narrativas dessas pessoas mais velhas: pai Jubiabá, Zé Camarão, Mestre Manuel, tia Luísa.

Ao longo do romance, acompanhamos as diferentes fases de sua vida: menino pobre que vivia nas ruas cometendo pequenos delitos, agregado na casa de um comendador, malandro, boxeador, trabalhador nas plantações de fumo, artista de circo e estivador.


O homem tem dois olhares/Um enxerga, e o outro que vê/Um enxerga, e o outro que vê/Tem o olho da maldade/E o olho da piedade/Tem que ter/Olho bem grande/Pra poder sobreviver/Jubiabá, Ô Jubiabá/Faz o feitiço bem feito/Pra minha nega voltar/No morro do Capa Negro/Quero lhe cambonear//Se secar o olho da maldade/O homem vai sofrer/Sem entender, a ruindade do mundo/Que o seu lado bom vai ver/E sem seu olho da piedade/Vai fazer gente sofrer, magoar, ferir/Sem refletir, e bem mais cedo/Vai desencarnar, subir/É a lei de Jubiabá/Ô Jubiabá/Faz o feitiço bem feito/Pra minha nega voltar/No morro do Capa-Negro/Quero lhe cambonear//Quero meus olhos abertos/Quero bem longe enxergar/Vendo o errado e o certo/Posso diferenciar/No morro do Capa-Negro/Quero lhe cambonear/Jubiabá, Ô Jubiabá/Faz o feitiço bem feito/Pra minha nega voltar” (Jubiabá, Martinho da Vila)


O personagem que dá nome ao romance é o mentor do negrinho Balduíno. Jubiabá era conhecido pelo povo do morro do Capa Negro como feiticeiro. O pai-de-santo era respeitado no morro porque curava doenças, fazia rezas, afastava demônios, dizia conceitos, rezava em nagô. A presença do pai Jubiabá na vida de Antônio Balduíno foi de extrema importância para sua formação, já que o menino era órfão, vivia com a tia Luísa, e o teve como guia espiritual por toda a vida.

A intenção central da obra, além da visão romanesca da vida popular, é sugerir o lento amadurecimento do protagonista, rumo à consciência política. É um romance característico do "realismo socialista", com alguns ingredientes sensuais e apimentados do cenário baiano.

Jorge Amado mostra as contradições entre o mundo do trabalho, o conflito racial, a ideologia, a luta e, de outro lado, a cultura popular, o universo das festas, o sincretismo religioso, a miscigenação e a sensualidade vão marcar toda a sua produção. Qualificado de magnífico por Albert Camus, Jubiabá foi adaptado para o cinema (por Nelson Pereira dos Santos), o teatro, o rádio, quadrinhos e a televisão.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente!