Assim o
autor (Pierre Bourdieu que morreu há 10 anos) se dedicou a
relacionar os gostos de cada classe com seu capital escolar
(determinado pelos diplomas) e com sua origem. Para ele, quanto mais
anos de estudo, mais uma pessoa se distancia do gosto popular, para
adquirir um gosto legítimo em relação à música. Não só ela
passa a apreciar mais compositores menos populares como também o
conhecimento do nome de compositores aumenta substancialmente. O
gosto musical, ainda mais que outros, sofre uma variação a depender
da diferença de anos de estudo, visto que este é um dos campos do
conhecimento considerado mais legítimo. As áreas também são
hierarquizadas. Por exemplo, o conhecimento de música clássica e de
pintura é um conhecimento legítimo, o conhecimento sobre jazz e
histórias em quadrinhos, em vias de legitimação.
Diplomas
escolares asseguram a nobreza cultural, valorizando o capital
cultural de uma classe mais alta e estigmatizando aquele de uma
classe mais baixa. Assim, a escola influencia não só nos gostos
ligados ao mundo escolar, mas em toda a vida cultural de uma pessoa.
E não só influencia como também garante competências culturais
muito maiores do que as ensinadas na escola.
Há
alguns postos – segundo Bourdieu – ligados à origem social do
que ao capital escolar, como no caso de mobília e vestuário, muito
mais relacionados a percepções vindas desde a infância do que a
aprendizagem nos livros escolares. A escola tende a referendar o
capital herdado pela classe alta. Portanto, parte do capital de
pessoas da classe média ou de frações mais baixas da classe alta
nunca vem a ser aprovado pela cultura legítima. Nesse contexto,
muitos buscam domínios diferentes de investimento cultural, domínios
menos legítimos, como o jazz.
POSIÇÕES
As
disputas por posições hierarquizam, igualmente, as oportunidades
estatutárias das classes em matéria de valores e concepções
políticas. Isso leva a crer que mesmo a fração da classe popular
com maior capital cultural está submissa às normas e valores
dominantes. Os agentes menos competentes (pela perspectiva da cultura
legítima) estão à mercê dos efeitos da imposição do campo de
produção ideológico influente, acarretando tomadas de posições
ligadas às representações “legítimas” do mundo social.
Falta-lhes capital escolar, diria Bourdieu, mas que é compensado no
blefe inconsciente de uma linguagem que disfarça, sobretudo,
posições políticas “desencontradas”, “ingênuas” ou
“ignorantes”.
Ao
diploma escolar é reservado um elevado poder simbólico
transformando a escola em uma das instâncias sina qua non da
manutenção da ordem social. A obtenção do diploma fixa as
disposições dominantes. Desapossa e separa os menos competentes em
favor dos mais competentes; os menos instruídos em favor dos mais
instruídos.
A
Distinção foi o livro que mais irritou alguns dos intelectuais
porque se pensava que, indiretamente, este livro destruiria a aura
(para falar como Walter Benjamin) da criação intelectual, da
produção estética, remetendo-a a prática de consumo que se
vinculavam as condições econômicas, posições sociais, vontade,
distinção etc.
O consumo
cultural e o deleite estético são acionados como forma de
distinção, ou seja, a familiaridade com bens simbólicos traz,
consigo, associações como “competência”, “educação”,
“nobreza de espírito” e “desinteresse material”. Essa
divisão da sociedade entre “bárbaros” e “civilizados” acaba
tendo consequências políticas: justifica o monopólio dos
instrumentos der apropriação dos bens culturais por parte desses
últimos.
A
estrutura social é vista como um sistema hierarquizado de poder e
privilégio, determinado tanto pelas relações materiais e/u
econômicos (salário, renda) como pelas relações simbólicas
(status) e/ou culturais (escolarização) entre os indivíduos.
As
instituições familiar e escolar seriam as responsáveis pelas novas
competências culturais ou gostos culturais. Assim, a distinção
entre esses dois tipos de aprendizado, o familiar e o escolar,
refere-se a duas maneiras de adquirir bens da cultura e com eles se
habituar. Essas duas formas de aprendizado seria uma dimensão do
habitus de cada um.
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