Arrebatadora.
A premiada graphic novel de David Mazzuccelli – Asterios Polyp
– lançada pelo selo Quadrinhos na Cia, de Companhia das Letras, é
excepcional. Utiliza todas as possibilidades oferecidas pelos
quadrinhos. A obra, repleta de arrependimento e aprendizagem, é
poético e conta com um visual instigante que Mazzuccelli domina
totalmente. Traços, formas, cores, linhas e desenhos misturados em
torno da carga dramática da história que atinge a maturidade.
Nas 344
páginas, David Mazzucchelli (conhecido por seu trabalho com super
herois em O Demolidor: A Queda de Murdock e Batman: Ano 1) faz um
relato maduro sobre arte, filosofia, amor e família. A graphic novel
é narrada pelo irmão gêmeo natimorto de Asterios, Ignazio que
serve como guia para toda a carga de dualidade que é inserida.
O
“arquiteto de papel” e professor é uma pessoa teimosa,
egocêntrica e intransigente. Aos 50 anos ele perde tudo o que tem
quando um raio atinge o prédio onde mora. Há alternativas entre
padrões de cores para demarcar o tempo: roxo e azul (passado), roxo
e amarelo (presente). Permeando a complexidade do protagonista, há
discussões sobre arte, estética, amor, família, metafisica, tudo
dentro do contexto. A representação gráfica de Mazzucchelli é
única e genial. Ele dá personalidade a cada personagem seja por
meio do texto, seu conteúdo e representação gráfica. Seja no
balão de diálogo, onomatopeia, quadro. O cético Asterios e a
inquieta Hana quando se unem há uma explosão gráfica de grande
riqueza visual.
O final é
surpreendente e lembra um pouco do filme Melancolia, do diretor Lars
Von Trier. A fita é um mergulho em uma experiência intelectual e
sensual sobre duas irmãs: Justine e Claire, de temperamentos
opostos. O fim de mundo literal e simbólico é tratado na obra de
Trier. Vale a pena conhecer essa obra premiada com o Eisner e o
Harvey Awards, verdadeira reflexão sobre o sentido dos
relacionamentos, de arte, da família, da vida. Arrebatadora!
A Era
dos Erês: uma era ao Culto da Natureza e dos Orixás
Erê é
nome de espíritos infantis no candomblé. No Brasil os erês
passaram a ter correspondência em Cosme e Damião e foram associados
também aos Ibejés, orixás duplos, sendo um masculino e outro
feminino. Os erês são vistos como energias de purificação e de
limpeza. No livro A Era dos erês: uma Era ao culto da Natureza e
dos Orixás, Adriano Bitarães Netto constrói um tempo mítico
em que adultos não existiam, apenas crianças viviam e governavam
nessa época.
A obra
faz uma crítica à sociedade dos adultos que se sustenta na
desigualdade, no preconceito, na ambição e no desrespeito. Para que
o mundo mítico dos erês possa voltar a existir, o ser humano terá
que reconhecer e aceitar as inúmeras religiões e crenças que
constituem a própria riqueza das culturas.
O intuito
das obra é de apontar para uma conscientização de caráter
histórico e religioso, se propõe, por meio de uma linguagem
poética, perpassada por orikis da tradição africana e por pontos e
hinários nacionais, fazer uma louvação aos orixás – divindades
do panteão africano tão presentes nos rituais de candomblé e
umbanda do Brasil.
O livro,
lançado pela editora Mazza em 2010, e rico em cores e ilustrações
e no final contém um glossário das palavras do culto da natureza e
dos orixás. Vale a pena ler.
“...Era
uma vez
uma Era, que era,
talvez,
a mais antiga de todas
as Eras:
era a Era
dos êres...”
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