17 julho 2012

Marilda Santana comemora 35 anos de carreira com o CD Qual é, baiana?


A cantora baiana Marilda Santana lançou seu segundo disco da carreira solo. Intitulado de "Qual é, baiana?", o disco faz uma leitura do imaginário da mulher baiana, fruto de uma pesquisa de mestrado da artista. No repertório tem Dorival Caymmi, Ivan Lins e Caetano Veloso. O maestro baiano Letieres Leite assina o arranjo de sete músicas do disco. Outras três ficam por conta da supervisão de Luiz Asa Branca.

Essa menina é só de brincadeira/Só dá bandeira, só dá bandeira/Seja na Amaralina ou na Ribeira/Ela só dá bandeira,/Ela só dá bandeira...”

São ao todo 10 canções onde Marilda de delicia com a música e encanta a todos. "Esse CD é um desejo antigo de registrar uma pesquisa que desenvolvi desde que que fiz o mestrado em Artes Cênicas e mergulhei no museu de imagem e do som do Rio de Janeiro. Percebi um discurso recorrente nos compositores que tratavam desde ícone, todos naturalizados: sensualidade, etnicidade, culinária, religiosidade e localidade", explica a artista.

Precisa fazer pra baiana um vestido de prata.../Precisa fazer pra baiana um vestido de prata.../Pra todo dia no espelho quando ela se olhar,/Seja a cara dela.../Seja a cara dela...”

Comemorando 35 anos de carreira, Marilda Santana pode ser contactada através do e-mail: contato@marildasantana.com.br. O CD você encontra na Pérola Negra Cd's Raros do Shopping Colonial dos Barris em Salvador. Entre as canções estão Qual é, Baiana? (Caetano Veloso/Moacyr Albuquerque), Falsa Baiana (Geraldo Pereira), Subida da Gamboa (Beto Pitombo), Baiana do Tabuleiro (Andre Filho), Roda Baiana (Ivan Lins e Vitor Martins), Pregão da Baiana (Denis Brean), Vestido de Prata (Jorge Alfredo), Lá vem a Baiana (Dorival Caymmi), Grove da Baiana (Jorge Zarath / Paulo Vascon / Tenison Del Rey) e Toda Menina Baiana (Gilberto Gil).

Toda menina baiana tem/Um santo que Deus dá/Toda menina baiana tem/Encantos que Deus dá/Toda menina baiana tem/Um jeito que Deus dá/Toda menina baiana tem/Defeitos também que Deus dá....”
DONAS DO CANTO - No estudo que fez sobre “As Donas do Canto – o sucesso das estrelas - intérpretes no Carnaval de Salvador” (publicado pela Edufba em 2009) Marilda Santana pesquisou a figura da baiana no século XIX, por artista não baianas (Araci Côrtes), e mesmo não brasileiras (grega Ana Manarezzi, espanhola Pepa Ruiz e da portuguesa Carmem Miranda) nos palcos dos teatros de revista da então Capital Federal. “Ao longo deste século e meio, estes artistas e seus produtores nos aportam uma representação de sociedade baiana centrada em ícones de etnicidade, sensualidade e ancestralidade. Com efeito, a constituição de um perfil da nacionalidade brasileira na mídia e de um perfil da localidade (ou regionalidade) baiana toma como referência um dos elementos que ocupa o cento da cena, a figura da baiana” (p.24).

“Como se costuma rememorar na narrativa fundamente da identidade brasileira, a Bahia carrega no seu ventre o nascimento do Brasil. E é muito significativo que isto se constitua numa cidade feminina não só pelo gênero – a Bahia - , como também pela predisposição para o inaugural; o dar à luz, enfim” (p.111).

“A representação da figura da baiana também está presente na obra de compositores brasileiros de diversas gerações, tendo em Caymmi um representante destacado” (p.143). Assim a representação da figura da baiana passa pelos compositores Geraldo Pereira, Ataulfo Alves, Ary Barroso entre outros. “Neste sentido, a construção da identidade da baiana/mulata no imaginário brasileiro/baiano e global passa pelo vetor da ideia de abundância, pela cor, pela malícia do olhar, pelo suingue no corpo e na naturalização em saber dançar samba...” (p.147).

A figura da baiana não é foco único do estudo de Marilda Santana, mas ela concluiu que “reunimos elementos suficientes para afirmar que a construção da figura da baiana/mulata nos palcos e no cancioneiro popular aponta a sensualidade, que abrange o duplo sentido e as danças impressas nos corpos sensuais e olhares; para a etnicidade, impressa nas matizes que vão da preta, morena, mulata, cabocla, cafuza, dentre outros; e para a culinária, indissociável da sensualidade e do duplo sentido das letras; para a indumentária, carregada de significados religiosos que vão se diluindo à medida que vão se re - inventando; e para a performance. Temos como ambientes propícios para esta construção, além do Carnaval, o cinema, os palcos e as atrizes e intérpretes do cancioneiro popular” (p.151/152).

Para Milton Moura, a baianidade pode ser percebida/estudada como um texto, o que pode ser compreendido no gerúndio (na acepção de tecimento) no particípio (na concepção de tecido) e no infinito (como numa tessitura). Sumarizando a baianidade como arranjo historicamente construído de referências identitárias, diz o autor: “Parece um arranjo tecido de familiaridade, religiosidade, sensualidade, reunindo os elementos mais díspares num sistema que se baseia justamente na adjacência do desigual, dita de forma aparentemente não problemática” (MOURA, Milton. Carnaval e baianidade: arestas e curvas na coreografia de identidades do Carnaval de Salvador, 2001. Tese de Doutorado em Comunicação e Culturas Contemporâneas- Faculdade de Comunicação UFBA)

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