Profissionalização é a palavra de ordem nos últimos anos para quem sonha em ter sua obra publicada. Se somar os esforços de iniciativas que partir de estudiosos, quadrinistas, artistas gráficos e do poder público, teremos oficinas, palestras, encontros com a intenção de especializar o mercado independente. Com a criação de novos editais e patrocínios públicos, a contratação de artista passa a acontecer e, para isso é preciso que eles (os artistas) tenham representantes legais e possa emitir nota fiscal, para comprovar o pagamento de impostos.
O desenhista de Flash Gordon, Jim das Selvas e o Agente Secreto X-9, Alex Raymond afirmou certa vez: “Cheguei, honestamente, à conclusão de que a História em Quadrinhos, em si, é uma forma de arte. Reflete a vida e o tempo com mais precisão e é mais artística do que a ilustração de revista, pois é inteiramente criativa. Um ilustrador trabalha com máquina fotográfica e modelos; um desenhista de histórias em quadrinhos começa com uma folha em branco e ´sonha´ inteiramente a obra – ele, ao mesmo tempo, é roteirista de cinema, diretor, montador e ator”. Nos quadrinhos temos a literatura (a narrativa), a imagem (o desenho), o som (através da onomatopeia), os diálogos (através dos balões) e todas as nuances do desenvolvimento das sequências de imagens, as cores, o formato e os tipos de letras dos diálogos. Quando esses elementos se combinam em uma obra, a química é perfeita: não há como ficar imune ao artista. Ele nos domina, manipula nossas emoções e, de quebra, nos faz refletir. Nessa folha de papel em branco o artista pode recriar um mundo e assim, começa a nossa viagem pelos quadrinhos.
Existem nos subterrâneos de nossa cidade muita gente nova preocupada com soluções formais mais atualizadas com a contemporaneidade que nos marca, cultural e ideologicamente. Por outro lado, problemas político ideológico seriam marcantes na medida de atuação cultural desses quadrinhos como objetivos de consumo e como linguagem determinada pelo contexto cultural. Além do fanzine “Na Era dos Quadrinhos”, “Balão” e alguns outros, tivemos as revistas “Tudo com Farinha” (projeto de extensão da Universidade Estadual da Bahia), “Abalim”, “Vilões”, “Esfera do Humor”, “Pau de Sebo”, e “Desagaquê”...
As novidades tecnológicas são fatores crescentes de promoção do desenvolvimento das narrativas gráficas. A Bahia tem um grande potencial (apesar do mercado restrito é preciso furar o bloqueio), o povo baiano é muito criativo, imaginativo, tem muito senso de humor é isso que atrai os leitores. A capacidade do imaginário, de criatividade, de sensibilidade...tudo isso faz a diferença. O artista é testemunha ocular da nossa história. Há muitas experiências alternativas na cidade.
Subterrâneo, marginal, clandestino, paralelo ou underground, embora varie ainda a sua conceituação definidora, esse trabalho tem se manifestado como a contestação que seja os valores aceitos e estabelecidos com irrelevante agressividade. O grafismo publicado é livre para olhar o mundo exterior sem pestanejar e para o mundo interior em moldes complexos e místicos. É livre para ser poético e para ser obscuro. É livre até mesmo para ensandecer. O humor, charge, quadrinhos feitos pelos profissionais é reflexo de seu tempo, sua sociedade com seus problemas e tormentos. Um grafismo com perspectiva nova em termos de linguagem, conteúdo e forma. Refletir e expressar o seu tempo é essencial para o artista.
Nos anos 90 a Bahia estava dominada por um espírito de cultura oficializada e mercadológica. O grupo carlista que estava no poder, por meio do secretário Paulo Gaudenzi, havia unido turismoe . E como turismo é sobretudo comércio, esse fator foi decisivo na tendência de comercialização cultural da Bahia. A maior parte dos artistas (músicos, artistas plásticos e gráficos) se orientou pelas diretrizes da situação. O resultado, todos já sabem...
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Estamos publicando, em 23 artigos, a hora e vez dos quadrinhos baianos.
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