Simplicidade, sensibilidade, harmonia, força, beleza, expressividade plástica, olhar da infância (puro). Tudo isso estão contidos no desenho do mestre baiano Ângelo Roberto. Impossível não parar diante de seus desenhos ternos de traço límpido e preciso. No misterioso traçado quase invisível que compõe o desenho de Ângelo Roberto, há às vezes a impressão de que o artista tem um poder incomum de criar um nobre sentimento entre suas figuras humanas e seus animais. Nos gestos mais sutis das figuras de Ângelo, o sentimento de amor infinito pela liberdade compreende o direito das criaturas de conquistá-la e deixá-la ir e vir, quando quiser. Como a tristeza feita em lágrimas nos olhos das meninas, diante de pássaros engaiolados; ou feita em alegria incontida e fluida no momento de ver outro pássaro alçar voo e sumir pela janela. Em todos os segmentos que extrai da vida, Ângelo é sublime e sua linguagem não é meramente emocional – é hipnótica. Na avaliação de Ângelo, a marca da sua arte é a linha precisa. “É ela que me fascina, é o ponto de partida de tudo, eu não acredito num pintor que não é desenhista. Atualmente, eu ando querendo fazer pintura, mas estou emaranhado pela linha, e é difícil sair dela“.
O bico de pena é uma característica forte na arte de Ângelo Roberto, mas a caricatur
a é algo que “nunca saiu de mim”. Ele já foi caricaturista de diversos jornais baianos como o Jornal da Bahia, A Tarde, Diário da Bahia e Folha da Bahia. Segundo o professor e artista plástico Juarez Paraíso, “Ângelo Roberto é, precipuamente, um artista da linha e do tracejado, das impressionantes tramas de bico-de-pena. O contraste elegido é simples, mas eficaz. O completo domínio artesanal do artista tece uma incrível tessitura gráfica, um incrível trabeculado, estrutura linear composta por traços pacientemente superpostos, com mais ou menos transparência, jamais obstruindo a passagem da luz que emana do papel”.
Retratar os amigos e pessoas mais próximas sempre foi, aliás, um dos passatempos prediletos de Ângelo Roberto. Humorista por excelência e observador da vida, ainda na Escola de Belas Artes, surpreendeu colegas e professores com uma fantástica exposição de caricaturas deles. Em 1984, retratou 30 políticos, artistas e intelectuais com quem dividia a mesa de bar, como os escritores João Ubaldo Ribeiro e Guido Guerra, a atriz Nilda Spencer, o dono da Cantina da Lua, Clarindo Silva, o poeta e Ruy Espinheira Filho, o professor Cid Teixeira, o artista plástico Juarez Paraíso, o vereador Celso Cotrim e o jornalista Béu Machado, amigo de infância. A mostra, muito comentada na cidade, trazia o estilo de caricatura do artista: o personagem de corpo inteiro e dentro do seu ambiente.
“O traço enxuto, a linha essencial, a captação do fugidio, a retenção do imponderável fazem desta exposição – comentou Cid Teixeira na época -, muito mais uma análise de caracteres, do que de visões exclusivamente físicas dos eleitos. As pessoas são como que desnudadas no seu jeito de ser” E acrescentou: “Poucas pessoas são tão Bahia quanto ele”. Transitando na área de publicidade e da ilustração, como artista e ser humano, ele procurou traçar na exposição de 1989 a geografia humana, particularmente da Bahia, onde vive.
Os personagens podem ser crianças, humildes, mendigos, vendedores de rua. Mas também os homens que contribuem para a vida pública e cultural do estado, como os escolhidos para a mostra. Como caricaturista, os traços são simples, precisos para uma percepção imediata de quem as vê. O que ele faz é congelar a imagem psicológica do retratado, “com extraordinária e expressiva síntese visual, na qual as sutilezas dos detalhes, a atitude, o gesto, a ação, transcendem a mera enfatização das características físicas”, observou Juarez Paraíso.
-------------------------------Mesa Redonda:
Quadrinhos: produção e mercado editorial trajetória e perspectiva
Dia 30 de janeiro, no Auditório da livraria Cultura, 19h.
O objetivo da mesa redonda, como o título já diz claramente, é explanar aos presentes trajetórias de profissionais da área de quadrinhos, abordar a presença e sobrevivência dos quadrinhos impressos em bancas, livrarias, internet e comercialização), do potencial de realização de algumas personalidades, expectativas, necessidades e perspectivas.
A ideia é que cada um fale de seu ponto de vista, embasado em sua experiência. Se o convidado é um cartunista com uma série de publicações, é explanar, apresentar seu trabalho, sua trajetória, e com toda liberdade, falar sobre percalços, incentivos, e de seu ponto de vista, expressar o que acredita, em relação a caminhos, perspectivas.
Por isso, também deseja-se algum profissional da área de editora e/ou livraria para que se possa (principalmente quem ainda não teve a experiência de publicar) fazer perguntas e tirar dúvidas.
Você é nosso convidado para participar desta mesa redonda no dia nacional dos quadrinhos, 30 de janeiro, no Auditório da livraria Cultura, 19h.
Atenciosamente, Wilton Bernardo + Oficina HQ + www.oficinahq.com
(71) 3014-4331 (71) 8807-4331
Estamos publicando, em 23 artigos, a hora e vez dos quadrinhos baianos.
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