06 janeiro 2011

A hora e vez dos quadrinhos baianos (02) (yes, nos temos quadrinhos)

2. CAMINHOS PERCORRIDOS

A trajetória e os caminhos percorridos ao longo de minha formação acadêmica e profissional nunca deixaram dúvidas sobre o destino ao qual estavam me levando. Há algum tempo venho me relacionando e envolvendo com tudo aquilo que diz respeito aos estudos das histórias em quadrinhos, bem como à teoria que cerca esta grande área de saber. Ao trilhar um caminho na qual a HQ esteve (e está) presente de forma muito intensa, e que aos poucos me foi sendo revelado encantador e desafiador, questiono-me sobre a possibilidade de realização de uma pesquisa de mestrado, que trazem à tona algumas discussões sobre os tipos de quadrinhos e sua relação com a sociedade. Além de publicar diversos artigos em jornais e revistas, já escrevi dois livros sobre o assunto.1

Desde criança leio histórias em quadrinhos, e minha admiração aumentou ainda mais quando no ginásio os professores (sem conhecer o objeto de discussão) proibiram a leitura de quadrinhos. Para acabar com esse preconceito contra os quadrinhos resolvi reunir um grupo de amigos do bairro que gostavam do prazer da leitura de gibis e resolvemos criar uma associação de leitura e análise. Os efeitos não se restringiram à reunião do grupo, mas se fizeram sentir nas atividades didáticas, através de cursos, palestras, seminários, debates. Cumpri, na verdade, o papel de divulgador de um pensamento teórico que era novidade para a cidade. Os cursos e palestras ministrados por mim se concentraram, principalmente, na discussão de análise dos personagens e sua postura na sociedade, utilizando o método histórico, cronológico do surgimento desses herois e sua relação com os fatos da época. Do ponto de vista metodológico, estabelecendo-se, pela mediação dos objetos, a relação entre as personagens. (A foto ao lado é do Clube de Quadrinhos numa exposição realizada em Salvador)


Além dos quadrinhos gostávamos de estudar a literatura popular, pois desenvolvia pesquisa sobre a literatura de cordel. Esse trabalho já foi publicado na imprensa baiana. A análise dos folhetos se processa sobre a ótica antropológica. A relação intertextual era feita de forma a promover o conhecimento multifacetado da literatura de cordel e a apropriação oral de fatos e lendas do populário. Mas meu interesse pela cultura popular e a literatura oral não se limitava ao cordel, estendia-se sobre música popular, romance policial, poema concreto, poema processo, grafiti, quadrinhos e fotonovela, arte pop, cinema e poesia.

Houve um período que o quadrinho foi o mais focado em meus estudos, mas as ideias de cultura de massa estavam em constante circulação. Já nos anos 80, o fim da Guerra Fria e a queda do muro de Berlim coincidiam com a abertura democrática no Brasil, a década do quadrinho de autor (Watchmen, Cavaleiro das Trevas, Crise nas Infinitas Terras, Asilo Arkhan, A Piada Mortal e tantas outras) foi também o período em que a França perde três de seus mais eminentes intelectuais: Sartre, Barthes e Lacan.


A antropologia, ao descentrar o eixo dos valores etnocêntricos, propicia a quebra de hierarquia dos discursos e aguça o interesse pela valorização de textos considerados marginais pela cultura oficial. Enquanto na Bahia esses estudos eram desprezados, em outros estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Norte proliferaram nessa época, pesquisas voltadas para a releitura de manifestações populares brasileiras, como os ritos do carnaval, do candomblé, do cotidiano, além de literatura de cordel, histórias em quadrinhos, a música popular, o artesanato. A revitalização dos discursos das minorias, como os da mulher, do índio, do negro, data do final da década de 70, quando estes segmentos começam a lutar por seu espaço no debate acadêmico.


Quando sofri represália no Colégio Duque de Caxias (Liberdade) por ter lido uma obra literária em quadrinhos e recebido a nota máxima, a pedagoga ao saber que a leitura era em quadrinhos resolveu me reprovar, procurei pesquisar sobre esse preconceito contra os quadrinhos. Não encontrei nada em nossas bibliotecas. Muitas obras chegavam (e ainda chegam) com muito atraso em Salvador. Foi a partir dessa ausência de estudos que resolvi fundar uma associação que estudasse os quadrinhos.

1Humor Gráfico na Bahia: O Traço dos Mestres em 1993 pela Gráfica e Editora Arembepe e Feras do Humor Baiano pela Empresa Gráfica da Bahia em 1997

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Estamos publicando, em 23 artigos, a hora e vez dos quadrinhos baianos.
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