07 janeiro 2011

A hora e vez dos quadrinhos baianos (03) (yes, nos temos quadrinhos)

3. CLUBE DE QUADRINHOS

Ao fundar o clube de quadrinhos convidei o jornalista e escritor Adroaldo Ribeiro Costa (1917-1984) para ser o patrono. Em resposta ele me convidou para escrever artigos sobre quadrinhos na sua Página Infantil publicada todos os sábados no jornal A Tarde. Outra personalidade baiana que ajudou muito na luta diária (e sem preconceitos) de criar hábitos de leitura na infância foi a bibliotecária Denise Tavares (1925-1974) (foto), na época diretora da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato. Nesse período, realizamos muitos debates e seminários sobre quadrinhos com a presença maciça de estudantes. Denise Tavares já lutava bem antes para colocar os gibis na biblioteca. Os gibis eram tidos como sub-literatura. Aquela velha discussão preconceituosa de alta literatura e baixa literatura, a de massa, a popular.


Denise estava sempre desejando o melhor para as crianças e os jovens baianos e, graças a sua força de vontade, e o seu amor, dedicação e espírito de luta, em 1967 ela conseguiu inaugurar a sede ampla da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato dentro dos moldes desejados. Lutou muito para consegui-lo, mas acabou inaugurando-o no governo Lomanto Júnior, quando o seu idealismo encontrou a compreensão dos poderes públicos. Daí por diante, a biblioteca floresceu. Também sob sua orientação e direção, foram instaladas nove bibliotecas sucursais no interior do estado, e duas em bairros de Salvador. No campo educacional foi membro atuante em vários congressos, nos quais apresentou diversas sugestões a favor da classe. Escreveu para diversos jornais do estado.


O nosso interesse se expandiu quando o clube em defesa dos quadrinhos realizou em 1970 uma exposição no Instituto Central de Educação Isaías Alves (ICEIA), no Barbalho. Intitulada a importância dos quadrinhos no mundo, mostrávamos como as historietas tinham relações com a literatura, o cinema, as artes plásticas, a música etc. Foi a primeira mostra sobre quadrinhos na Bahia. A mídia deu boa cobertura e realizamos um debate com a presença de educadores, psicólogos e curiosos sobre o tema. Muitos condenavam os quadrinhos por “excesso de fantasia”, rebatíamos com o simples “então vamos acabar com a literatura infantil, a fantasia é necessária para as crianças”. Outros criticavam o “excesso de violência”, e quanto à tevê, o jornal, rádio e cinema?, questionamos. E o debate continuou com o resultado positivo. Enfrentamos todos aqueles preconceitos e ganhamos no resultado final. Isso nos deus mais força para continuar analisando os gibis e escrevendo depois os primeiros fanzines na localidade, o Na Era dos Quadrinhos (comprovado na tese de mestrado do professor Henrique Magalhães na série da Editora Brasiliense Primeiros Passos – O que é fanzine, 1993).


4. NA ERA DOS QUADRINHOS

O Centro de Pesquisa de Comunicação de Massa (o antigo Clube da Editora Juvenil) foi fundado em 1968 com os colegas do bairro do Pero Vaz que mais tarde reuniu pessoas de diversos locais de Salvador. O órgão estudou os quadrinhos, cartuns, caricaturas, grafismo em geral. Na época lançamos o fanzine Na Era dos Quadrinhos. Foram exatos 37 números em sua primeira fase, que circularam ininterruptamente a cada mês, entre julho de 1970 e julho de 1973. A segunda fase foi mais curta e durou apenas cinco números publicados (de janeiro a maio de 1977). Na primeira metade da década de 70, qualquer aficionado por quadrinhos sabia da existência do fanzine baiano. Apesar de ter “agitado” as seções de cartas das principais revistas de quadrinhos nos cinco anos em que circulou, Na Era dos Quadrinhos “desapareceu” da história dos zines brasileiros – certamente pela “distância” da Bahia em relação aos principais polos editores.


Quando o Na Era foi editado quase não existiam articulistas sobre o assunto na cidade. Eram poucos os que acreditavam na HQ no campo da arte e/ou comunicação de massa. Todos os debates realizados no Sul do País sobre a questão da arte sequenciada quase não chegava a Salvador. A informação era precária, ainda por cima havia o preconceito contra os gibis. Muitos me tacharam de "louco" e "infantil" por estudar e pesquisar HQ, "coisa de criança" para eles. Hoje esse assunto está “quase” superado. Quadrinho ainda é visto como veículo de cultura popular e é estudado em Universidades por uns, e tidos como sub-literatura ou leitura simplesmente de entretenimento por outros.


Outra atividade do Centro de Pesquisa na Bahia foi realizar exposições. Em 1970 montamos a I Exposição de HQ do Norte e Nordeste, no salão nobre do ICEIA. O tema abordado: A importância dos quadrinhos. No debate, o professor Adroaldo Ribeiro Costa (foto) foi agraciado com o título de presidente de honra da associação. Em 1971, na Biblioteca Central do Estado o tema da mostra foi Os Quadrinhos no Mundo. No ano seguinte, Os Quadrinhos no Brasil, também na Biblioteca Central. Em 1976 no Instituto Cultural Brasil Alemanha (ICBA), Quadrinhos Baianos. A associação de quadrinhos da Bahia realizou ainda centenas de palestras, aulas e cursos nas escolas, bibliotecas e espaços culturais em Salvador e diversas cidades do interior da Bahia, além de levar as exposições para outros municípios e divulgar melhor o fanzine. Os editores Walter Herdeg e David Pascal publicaram o álbum The Art of the Comic Strips (The Graphis Press nº127, página 124, de setembro de 1972, Zurich) onde comenta o nosso fanzine Na Era dos Quadrinhos.

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Estamos publicando, em 23 artigos, a hora e vez dos quadrinhos baianos.
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