17 janeiro 2011

A hora e vez dos quadrinhos baianos (09) (yes, nos temos quadrinhos)

11. TRIO DE SUCESSO

Nildão, Lage, Setúbal, só para lembrar esse trio, traçavam as linhas de quadrinhos e humor no suplemento semanal de um jornal diário da década de 1970 no Brasil: A Coisa. Além deles, participavam regularmente com palpites e algumas contribuições, Antonio Cedraz, já com espaço regional garantido pelo seu Joinha; Dilson Midlej e as primeiras tiras da Nikita, Sebastian Seriol (Sebas) e a série sobre um vendedor de picolé conhecido como Juá, Os Bixim, de Nildão questionando a natureza.


Os problemas de um homem de meia idade, classe média, diante da realidade – trabalho exaustivo em relação a baixa remuneração eram assuntos tratados na série Argemiro, de Setúbal, e o malandro Bacuri, de Carlos França, a garota Bartira de Péricles Calafange, a vida de um casal nos alagados, Nego & Nega, de Romilson Lopes. Tem ainda o grafismo de Cleber Barros, o traço criativo e experimental de Aps (foto), Helson Ramos, o poema processo de Almandrade, e o experimentalismo gráfico de Carlos Ferraz, Jorge Lessa e Jorge Silva num delírio visual nunca visto até hoje na região, as pinturas influenciadas pelos quadrinhos de Juarez Paraíso, Floriano Teixeira, Carybé, Chico Liberato entre outros. Até Castro Alves já rabiscava caricatura, o cineasta Glauber Rocha também.


Na Bahia os quadrinhos procuram novos caminhos, tomados em sua mais ampla significação estética e social. E, como nas demais manifestações artísticas, cruzam-se várias correntes e direções, das mais tradicionais às mais experimentais. Ocorre com o quadrinho feito na Bahia o mesmo espírito de reforma que vem atingindo outra arte. As linhas que se marcam pelo experimentalismo – quadrinhos que exploram a potencialidade visual dos temas – desdobram-se em várias matrizes, desde a pesquisa puramente gráfica (Aps, Calafange) à visão de página como um todo articulado (Jorge Silva, Carlos Ferraz), desde os modelos que se inspiram nos cartuns (Lage, Nildão, Lessa e Setúbal), do poema processo (Almandrade), desenho-animado (Chico Liberato) até o realismo fantástico (Juarez Paraíso, Edsoleda Santos).

12. NANODELICADEZAS DO NILDÃO

Nildão, um dos mais atuantes passou a ser reconhecido nacionalmente pelos trabalhos. Um de seus desenhos marcantes na época foi o de um cangaceiro que urinava pó na caatinga. Desenho de traço nítido, econômico, o cartunista Nildão em vez de fazer rir às custas da pessoa retratada, o homem que aparece em seus desenhos é anônimo. E o espectador se identifica com ele. Ele não ri mais às custas de um outro, mas às suas próprias custas. Porque hoje, os desenhos de humor é um espelho. Suas ótimas ideias colocaram seu trabalho em um patamar sempre elevado. De grafiteiro, cartunista, hoje é designer gráfico. O humor é o equilíbrio, uma questão de saúde, se você sofre do fígado não consegue rir.


Em vez de desenhar os que estavam no poder, Nildão preferia os que estavam em baixo, os que estavam sofrendo ação. Em vez de abrir as portas e ver os poderosos e saber dos fatos dali dos bastidores, ele está em baixo, ouvindo eco das pessoas. Nildão como cartunista publicou em 1980 o livro "Me segura qu'eu vou dar um traço", em 88 lançou o livro "Bahia - Odara ou desce", em 89 colocou no mercado o livro de grafites "Quem não risca não petisca", em 98 lançou "Ivo viu o óbvio" além do flip-book "Capo

eira Ligeira" realizado em parceria com o fotógrafo Aristides Alves. Em 2001, foi a vez do livro de cartuns "É duro ser estátua". Em 2003 lançou "Poesia - Remédio contra azia", sua primeira experiência no gênero, em 2005 lançou "Colíricas", em 2006 colocou nas ruas "O sol nasce para toldos" além coleção de postais "São será o Benedito e outros santos geneticamente modificados" criada em parceria com Renato da Silveira. Em 2007 publica "Borboletras" composto de pequenos textos e nanodelicadezas, em seguida, "Penso, logotipo".

Nildão já ganhou inúmeros prêmios em Salões de Humor ( premiado em 1978, 1979, 1980 no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, Nildão recebeu o prêmio Gato Felix no I Salão Nacional de Humor de Pernambuco – 1983 e o Prêmio Péricles Maranhão em 1984), além de ser premiado no meio publicitário com a vitoriosa campanha de cartuns feita para a Bahiatursa que o levou a participar como concorrente do Festival de Cannes. Teve poemas selecionados para o projeto Mídia Poesia 1 e 2, veiculado pela Rede Bahia e uma das frases do livro "Poesia-Remédio contra Azia" serviu de tema para o programa "Saia Justa", na época apresentado por Rita Lee, Marisa Orth, Mônica Waldvogel e Fernanda Young. Com seus poemas curtos e incisivos, Nildão já brincou dizendo que antecipara o Twitter. O cartunista, designer e poeta não pára, não pira e só respira. O humor é o seu terreno e, entre diferentes linguagens (cartuns, manipulação de imagem, animação, poesia) ele degusta os dias, as horas e os minutos. "Penso, logotipo" e os demais livros de Nildão podem ser encontrados na Pérola Negra (Canela), Mídialouca (Fonte do Boi - Rio Vermelho), no restaurante Ramma (Barra), na Livraria Tom do Saber (Rio Vermelho) e no Espaço (Parque Cruz Aguiar, Rio Vermelho).

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Estamos publicando, em 23 artigos, a hora e vez dos quadrinhos baianos.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

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