18 janeiro 2011

A hora e vez dos quadrinhos baianos (10) (yes, nos temos quadrinhos)

13. LEVE, ÁGIL, CORTANTE

Na Bahia, o cartunista que conseguiu captar a essência do baiano em todas as suas nuances, desde a ingenuidade, a liberalidade, a transgressividade, linguagem e a sua liberdade foi Lage. Com seu traço caligráfico, único, o mestre do desenho de humor baiano fez uma radiografia da “terra da felicidade” através de uma gama de personagens publicados nas tiras de jornais e revistas e até mesmo na tv (Educativa da Bahia). L´amu tuju L´amu, Cartunzão, Tudo Bem, Brega Brasil, Ânsia de Amar, Dora Mulata e tantos outros. Sua verve humorística não deixava escapar nada, seja na malícia das baianas, nos interesses escusos dos políticos, na sagacidade dos boêmios, na melancolia dos idosos e na alegria da juventude. Ele mostrou a Bahia de fio a pavio, em raio X, não poupou ninguém. Sua verdade foi radiográfica. Tudo passava pela sua lente sensível de observador atento a tudo o que acontecia em sua aldeia.


Nos seus trabalhos Lage mostrou o relacionamento humano, seus conflitos e inseguranças, o dia a dia do baiano. E, como grande crítico do cotidiano dissecou as leis e pacotes vindos de Brasília. Tudo feito com aquele traço leve e ágil, mas carregado de expressividade. “O importante é que o riso não fique na boca. Ele tem que dar uma chegadinha na consciência”.


Lage, com sua aguçada visão de mundo, deu ao jornalismo baiano, demonstrações de com quantos traços se faz uma bela crítica. O traço rápido, sinuoso, firme ajustou-se a brevidade do momento. Assim é sua charge, opinião em traço na página nobre da Tribuna da Bahia. E a charge de Lage tem um quê da irreverência baiana inconfundível, e a releitura dos fatos ganha repercussão própria. A fonte inesgotável são os bastidores da política. Com seu traço cortante, irreverente, ele dá comicidade à prepotência dos políticos. E não ficou só na política, adentrou as relações afetivas, vasculhou detalhes das relações de classe e escancarou os valores do imaginário do autor. A realidade sócio-política-econômica do país.


O humor de Lage é engajado, militante sem ser partidário, contestador. Essencial, puro, em estado bruto. Na trilha do humor de comportamentos, ele criou personagens impagáveis, fazendo a melhor crítica de costumes dos quadrinhos baianos. Seu trabalho é referência e fez escola. Vamos conferir seus trabalhos, de traços simples mas incisivos.


Lage tem traço simples e consegue captar todo o momento histórico político vivenciado. Tudo Bem, Ânsia de Amar e outras tiras trazem um humor sem retoques, autêntico, mordaz. O humor caligráfico de Lage tem uma marca pessoal muito forte e traz, por inteiro a perplexidade nossa de cada dia. Traço rápido, leve, ágil, sinuoso, carregado de expressividade, firme, ajusta-se a brevidade do momento. O desenho de humor de Lage é uma análise crítica do homem e da vida, uma análise desmistificadora. Seu humor é uma forma de tirar a roupa da mentira. Na Tribuna da Bahia, Lage conquistou a liberdade de criação no veículo, ele é quem responde pelas tiras e charges diárias. A ele é permitido criar e, veicular, todas as suas ideias sem censuras e castrações. É aí que ele desenvolve sua verve artística crítica, explorando os costumes baianos e satirizando os fatos políticos.


A obra de Lage adentra as relações afetivas, vasculha detalhes das relações de classe escancara os valores do imaginário do autor. Aborda temas de caráter intimista pontilhados de crítica à realidade sociopolítica econômica do país, extrapolada muitas vezes quando o fato que questiona alcança uma repercussão mundial. Ele é o chargista crítico dos desmandos do poder, exercendo a cidadania tal qual a princípio lhe é conferida como um direito natural e constitucional, no papel de fiscalizador dos atos dos políticos e dos governantes.

---------------------------------------


Estamos publicando, em 23 artigos, a hora e vez dos quadrinhos baianos.



-------------------------
Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

Nenhum comentário: