19 janeiro 2011

A hora e vez dos quadrinhos baianos (11) (yes, nos temos quadrinhos)

14. GUACHE DA VIDA

O caricaturista, ilustrador, chargista, cartunista, cronista, artista plástico, publicitário e ator Paulo Setubal trafega bem pelos quadrinhos. A significação social de sua obra e a elaboração narrativa trazem propostas extremamente ricas para nossos quadrinhos. O dinamismo de seus planos reveste-se de uma significação estrutural à altura das melhores produções gráfico visuais dos nossos tempos. Ele costuma dar um traço próprio aos seus personagens. Seus primeiros trabalhos foram publicados no suplemento do Jornal da Bahia (1974), depois no Diário de Notícias (1976). De 1975 a 1977 prestou serviços na área para a Tribuna da Bahia e, em 1978 foi contratado pelo Correio da Bahia onde ficou até 1986. Em 1983 colaborou como ilustrador e caricaturista para o jornal A Tarde até 1993.


Os traços de Setúbal estão espalhados pelas páginas do Pasquim (1990/91), Coisa Nostra (1976), Jornal de Salvador (1997), Jornal da Pituba (1986), JC Tour (1988/93), Jornal do Plenário, da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia (1988), revistas Viver Bahia (1977), Panorama (1985), Exclusiva (1988), Nave/RJ (1990), Pau de Sebo (1991), Revista da Bahia (1989/1990), Veja Bahia (1990), ilustração do roteiro do filme Revoada, do cineasta José Umberto (1985), criação, storyboard e animação da mensagem de fim de ano da Rede Globo de Televisão com a equipe de Felix Follonier (1984), out doors, publicações de empresas e trabalhos publicados em coletâneas, nas caisas de vários sindicatos, em bottons, cartazes etc. Seus desenhos são personalíssimos, com um senso sutil que faz sorrir, mas ao mesmo tempo sua irreverência faz soar uma sonora gargalhada. É um desenho debochado e baiano.


Por muito tempo desenvolveu paralelamente a pintura e o desenho. Sua técnica surpreende, pois vai de pastel seco ao nanquim, passando pelo óleo, aquarela e acrílica, tudo misturado a recursos gráficos. Na coletânea A Cara do Traço (1991) ele afirmou: “Desenhar, para mim, é abraçar o mundo e a mim mesmo. Pelo meu desenho sai filtrado tudo quanto li e pude ver. Tudo que os papos com amigos me trouxeram de luz. Houve uma época em que deu meu recado como chargista. Hoje faço caricaturas e ilustrações para matérias, mas o bico do meu aeroplano aponta de volta para as artes plásticas. Meu desejo de comunicação e auto conhecimento não se limitam a uma única trilha. Quando nasci, em Candeias, um anjo torto me disse: `Vai, Setúbal, ser guache na vida`. E eu, que desde menino fui sempre meio besta, fui mesmo. Hoje sou guache, pastel, nanquim, aquarela, acrílica, óleo e o que pintar”.


No jornal Coisa Nostra (1976) ele criou os quadrinhos Mare Mansa, reflexo da vida baiana. Em 1977 começou a publicar na Tribuna da Bahia uma tira com o personagem Argemiro. De 1984 a 1988 criou as historietas de Garibaldo para a revista O Gari, da Limpurb. Foi premiado em diversos salões de humor e de artes plásticas. Sobre seu trabalho comentou o artista plástico Calasans Neto: “Setúbal consegue fazer do seu desenho um conjunto de leveza, expressão e humor. A ideia e a ação se completam fazendo da imagem retratada algo de uma força que faz do espectador um vidente da alma do seu caricaturado, desnudando toda intimidade do modelo de tudo que o cerca. Profissionalmente ou nas virtudes e fragilidades da alma, Setúbal está no momento no maior patamar dos caricaturistas do Brasil”. E a escritora Zélia Gattai já o definiu como “o mago das caricaturas”.


O poeta e publicitário Carlos Verçosa comentou: “Seu traço tem sete vidas. Sete fôlegos, sete técnicas, que vão desde o nankim ao guache, passando pelas colagens, piratarias, retículas e/ou o que estiver na mão. Dono de um talento imenso, Setúbal desacata qualquer personalidade, pinta e borda, exagerando detalhes de cada rosto através dos seus traços caricatos. Rostos imensos, inconfundíveis, equilibrados em corpos desequilibrados, que mais parecem um pesadelo de tripas ou macarrão, vão sendo registrados e aprimorados ano após ano”.

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Estamos publicando, em 23 artigos, a hora e vez dos quadrinhos baianos.

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2 comentários:

Paulo Setúbal disse...

Guto,meu fio,tu é mesmo muito fera! Se eu e um galera de desenhistas baianos conseguimos algum sucesso nos quadrinhos, cartuns e etc., boa parte devemos a você que sabe tudo do assunto e sempre foi um cara generoso que muito nos auxiliou a trilhar esta estrada feita da pedra chamada lápis e de muito nanquim. Grato. bró! Um abração do Setúbal.

Gutemberg disse...

Set
fio meu. Você é que é fera. É bom demais nos quadrinhos, nos cartuns, caricatura, pintura e o escambau. E ainda por cima, é um homem simples, ético, generoso, amigo.

Um forte abraço
Guto