13 janeiro 2011

A hora e vez dos quadrinhos baianos (07) (yes, nos temos quadrinhos)

9. O MOVIMENTO

No dia 25 de setembro de 1968, a Bahia começou a participar do movimento de estudo das histórias em quadrinhos com a fundação do Clube da Editora Juvenil, assim denominado em homenagem aos primeiros gibis juvenis. Junto com alguns jovens resolvemos difundir o hábito de ler e analisar os quadrinhos no Brasil. Lançamos nossas pesquisas no fanzine Na Era dos Quadrinhos. Foram publicados 37 números: de julho de 1970 a julho de 1973, na sua primeira fase em mimeógrafo. Outra atividade do Clube era realizar exposições (1a Exposição de HQ no Salão Nobre do ICEIA, 1970 seguida da exposição Os Quadrinhos no Mundo na Bib. Central em 1971, Quadrinhos no Brasil em 1973 na Bib. Central, Quadrinhos na Bahia na Bib. Central em 1976, Quadrinhos na Imprensa Baiana no ICBA em 1977, Cartuns e Quadrinhos de Artistas Baianos na Bib. Central em 1977, 1o Salão de Humor da Bahia Ria, é uma Ordem! Na Galeria Eucatexpo,1978), palestras, seminários e debates nas escolas e bibliotecas.

Foi com o Na Era que surgiram as primeiras manifestações conscientes no sentido de se construir HQ autenticamente nacional - e popular. O quadrinho baiano tomou fôlego com o surgimento do tabloide A Coisa, do jornal Tribuna da Bahia. A Coisa foi um seguimento natural do Na Era e tinha como meta principal “uma maior valorização do autor brasileiro e em particular baiano”. “Pretendemos também – dizia o editorial -, divulgar e abrir novas perspectivas aos humoristas e desenhistas que ainda não tiveram oportunidade de publicar seus trabalhos”. Em pouco tempo o suplemento revelou novos cartunistas e desenhistas de quadrinhos.


O suplemento da Tribuna, aberto para os novos desenhistas, aproveitou uma percentagem expressiva, com experiência que abriu novas possibilidades para a pesquisa temática ao nível gráfico. Seu lançamento serviu para aproveitar vários desenhistas que antes apenas trabalhavam em outros setores. Jorge Silva, Carlos Ferraz, Romilson Lopes e Péricles Calafange foram as revelações em termos de quadrinhos. Lessa e Aps (Anildson Pereira dos Santos) tinham base cartunística e colocaram de maneira implícita a relação quadrinho/cartum.


Jorge Silva de Oliveira, vindo da publicidade e interessado pela figuração narrativa desde pequeno, investe no mais puro domínio do experimentalismo. Estruturalmente mais dinâmico (pelo que representam as imagens e a colocação dos planos numa página) o desenho de Silva nos parece mais inventivo, grandioso, em alguns momentos voltando ao clássico de uma maneira nova. O “travelling”, o contracampo cinematográfico e os cortes conduz psicologicamente o leitor para o desfecho, numa alta temperatura gráfico visual.


Enquanto Silva trabalha com uma surpresa formal, Carlos Ferraz reforça de maneira considerável o enriquecimento de certas cenas. Em termos narrativos e/ou criativos há uma rara beleza no interior dos planos quer seja na sua obra sobre a diluição da Terra, do garoto de surf ou do futuro. Tanto Silva como Ferraz trouxeram uma grande inovação formal. Antes a maioria dos desenhistas contentava-se em desenhar as cenas de frente. Silva e Ferraz introduziram o uso de tomadas de campo e contracampo, estudando o enquadramento, o que fez surgir a elaboração de um estilo narrativo mais denso. Péricles Calafange seguiu o caminho aberto pelos dois acima citados, mas com um sentido bastante apurado na visualização dos planos.

Surgiu em agosto de 1975, enfrentando diversos problemas com a censura e, por motivos internos do jornal, A Coisa foi reduzida a uma página até sumir, em março de 1976. Saíram 32 números, com muito humor, quadrinhos e informações. Durou oito meses, tempo suficiente para a reunião dos cartunistas e discussão de novas ideias e projetos. Em junho surgiu o nanico Coisa Nostra, com texto, cartuns e quadrinhos. "O importante - diziam os editores - é que o riso não fique na boca. Ele tem de dar uma chegadinha na consciência". Coisa Nostra durou apenas quatro números.


Em 1977, relançamos o Na Era dos Quadrinhos, desta vez impresso em off set, mas que só durou cinco números. Lutar pela colocação do quadrinho baiano no mercado, desenvolver a criação de historietas em Salvador e fazer uma avaliação das HQs feitas até aquela época foram objetivos do periódico, que serviu de estímulo aos criadores, visando o desenvolvimento da consciência quadrinhográfica.


O Clube de Quadrinhos, depois com o nome de Centro de Pesquisa de Comunicação, preparando estudos sobre quadrinhos, sua linguagem e importância, influenciou bastante a imprensa baiana a ponto de levar o tradicional jornal A Tarde, que antes só publicava estorietas estrangeiras, a abrir suas páginas aos nossos quadrinhos. E, não só A Tarde, mas a Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Jornal de Salvador e O Mensageiro. Todos eles começaram a se interessar um pouco mais pelos nossos quadrinhos. Além disso, fazíamos palestras, debates nas escolas e bibliotecas sobre o assunto para que as pessoas pudessem apreender mais o sentido visual, a força da imagem nos meios de comunicação de massa. Era preciso saber ler os quadrinhos, sua linguagem específica e a sua importância no mundo.

------------------------------------------------------

Estamos publicando, em 23 artigos, a hora e vez dos quadrinhos baianos.
-------------------------

Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

Um comentário:

Reinaldo Grilote disse...

Estou realmente emocionado pelas pesquisas e arquivos que você tem da nossa arte.
Eu passei tempo com o Grupo de Comunicação e expus também na Eucatexpo juntamente com Nildão, Lage, Setúlba, e outros colegas artistas gráficos.
Fazia as tirinhas do Grilote na pagina do A TARDE, juntamente com outros cartunistas, lembra?
Aguardo contato,
Reinaldo
3115-3192 (SETRE - Sec. do Trabalho)