A história das HQs
brasileiras, dos seus personagens, criadores e estilos é muito vasta. Tem a escatologia
de Marcatti, a criatividade de Laerte, o desenho fluído de Mozart Couto, o
traço caligráfico de Henfil, o expressivo Julio Shimamoto, o humor de verve
nacional de Péricles, a composição elaborada e realista de Flávio Colin, a
ironia e o bom humor de Miguel Paiva, o estilo sociológico e verbal de Angeli,
o desenhista da fome Edgar Vasques e muitos outros.
O personagem Amigo da Onça teve 18 anos de vida bem-vivida. Gozou de um sucesso que não teve paralelo na história da imprensa brasileira. De 23 de outubro de 1943 até a passagem de ano de 61 para 62, quando PÉRICLES (1924-1961) se suicidou, o Amigo da Onça imperou na revista O Cruzeiro. Ele foi o mais popular personagem do desenho brasileiro de todos os tempos. O Amigo era cruel, sádico, maldoso, malicioso , uma figura
brasileira absoluta tinha como lema “eu gosto de levar vantagem em tudo” O
traço de Péricles condensava um humor de verve nacional ao comportamento humano
universal.
Mestre do preto e branco,
FLÁVIO COLIN (1930-2002) emprestou seu traço para diversos gêneros de
quadrinhos: terror, erótico, regional, histórico, etc nas Aventuras do Anjo, Vigilante
Rodoviário, Vizunga, Mulher Diabo, Caraiba, Fawcett, A Guerra dos Farrapos, O
Curupira, Estórias Gerais e muitas outras. Retratava o Brasil com personalidade
e autenticidade. Ele levou o quadrinho brasileiro ao ápice com um estilo
inconfundível, lembra a técnica da xilogravura e a narrativa dos cordeis
nordestinos. Foi um defensor exacerbado dos quadrinhos nacionais.
O cartunista HENFIL (1944-1988) teve uma atuação marcante nos movimentos políticos e sociais do país, lutando contra a ditadura, pela democratização do país, pela anistia aos presos políticos e pelas Diretas Já. Com humor mordaz e desenho caligráfico, Henfil destacou-se como um dos militantes mais ativos na resistência ao regime militar. De suas mãos saíram personagens antológicos como os fradinhos Baixim e Cumprido, a ave Graúna, o bode Orellana, Capitão Zeferino e Ubaldo, o paranoico, que provocam mudanças na história dos quadrinhos brasileiros não tanto pela inovação formal - apesar de ser marcante o seu traço nervoso e espontâneo -, mas pelo uso dessa linguagem gráfica específica como o melhor suporte para crítica e comprometimento social. Os traços de
Henfil são curtos, rápidos, transmitem força e expressividade. Talvez o maior
exemplo de síntese seja mesmo a Graúna, que chegou a ser comparada com um ponto
de exclamação. O traço de Henfil, intenso, nervoso, no limite do rabisco, mas
capaz de, perfeitamente, dar identidade ao que se era esperado figurar. “Meu
desenho é caligráfico. Desenho como escrevo”. O leve deslocamento de um de seus
traços altera seu humor. As tiras, o texto e os cartuns de Henfil, significaram, em quase todo o período militar, um sopro de esperança.
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