02 março 2021

Cognomes nos quadrinhos (02)

Will Eisner foi cognominado o Orson Welles das HQs.

 

Will Eisner (1917-2005) dedicou mais de sete décadas à carreira de quadrinista. O desenhista e roteirista norte-americano é considerado um dos principais responsáveis por elevar as HQs ao status de arte. Ativo no mercado editorial desde quando as tiras e revistas em quadrinhos começavam a se estabelecer, na década de 1930, Eisner atravessou todos os principais ciclos de desenvolvimento da mídia. Como muitos dos artistas da época, Eisner andava em busca de oportunidades nas várias editoras que surgiram para atender o incipiente mercado consumidor. Sem conseguir emprego fixo, acabou abrindo, no ano de 1936, o próprio estúdio, em parceria com um desenhista frustrado, Jerry Iger. Adotando um modelo de produção que viria a ser copiado por outras empresas no futuro, o estúdio Eisner & Iger tinha uma rígida divisão de tarefas, com artistas responsáveis pelos esboços a lápis, arte-final, moldura dos quadrinhos e letreiramento. Entre os artistas que passaram por lá estão Bob Kane e Jacky Kirby, cocriadores de Batman e Capitão América, respectivamente.

 


Já fora da sociedade, criou The Spirit, maior sucesso editorial da carreira e publicado entre 1940 e 1952. Nas décadas seguintes, trabalhou produzindo quadrinhos educativos para o exército dos EUA e, em 1978, aos 59 anos, lançou Um contrato com Deus, uma das primeiras obras no padrão graphic novel (romance gráfico, em tradução literal), termo criado para se referir histórias em quadrinhos mais extensas e elaboradas, espécie de meio termo entre literatura e HQs. O dia a dia era a principal fonte de inspiração para as narrativas gráficas do autor, que se dedicou a escrever e desenhar histórias de pessoas comuns em dramas cotidianos, como brigas de casais, traições familiares ou frustrações profissionais, tendo como cenários ruas, cortiços, metrôs etc. A busca por temas aparentemente ordinários contrastava com a sempre constante busca pela sofisticação estética, até os últimos trabalhos. Mesclando aventura, mistério, comédia e romance, The Spirit era diferente de todos os heróis da época, pela maior carga dramática das histórias e narrativa gráfica sofisticada. O caráter cinematográfico de muitas das composições das páginas não era por acaso: o artista foi influenciado pelo cinema e declaradamente um aficionado por Cidadão Kane (1941). É fácil perceber as semelhanças no uso de enquadramentos e profundidade de campo, algo que o levou a ser chamado de “o Orson Welles dos quadrinhos”. Outra novidade da HQ era o uso das splash pages, cuja ideia era causar grande impacto visual na página introdutória das histórias.

 

Hogarth foi cognominado o Miguel Angelo dos Quadrinhos:

 

O desenhista Burne Hogarth (1911-1996) assumiu o personagem Tarzan, criado por Edgar Rice Burroughs, em tiras de jornais entre 1937 e 1950. Retomando-o depois em dois álbuns considerados históricos: Tarzã dos Macacos e Os Contos da Selva, de 1976. As principais características de seu trabalho com o personagem eram voltadas para o perfeccionismo anatômico – que o levou a ser comumente chamado de o Michelangelo dos quadrinhos – e aa incrível composição de seus quadros, cada um pensado detalhadamente, como se fosse sua obra definitiva. Hogarth definiu quadrinhos coo um “dispositivo complexo para transformar ideias em arte”. Como artista, era associado a Michelangelo sempre por sua preocupação e precisão em retratar a anatomia humana. Mais do que anatomia, Burne Hogarth impressionava pela impressão de movimento e por suas intrincadas composições de cena. Era como um aluno de Michelangelo a serviço da narrativa.

 


Burne Hogarth foi grandemente reconhecido em seu país, tendo recebido o prêmio da National Cartoonist Society de 1975, da Magazine and Book Illustration de 1992 e o Prêmio Especial de 1974 (Special Features Award), além de várias homenagens internacionais. Ele fez palestras, escreveu, criou e teorizou durante seus últimos anos, participando como convidado de inúmeros eventos. Depois de comparecer à Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême em 1996.

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