Will Eisner foi cognominado o Orson Welles das HQs.
Will Eisner (1917-2005) dedicou mais de
sete décadas à carreira de quadrinista. O desenhista e roteirista
norte-americano é considerado um dos principais responsáveis por elevar as HQs
ao status de arte. Ativo no mercado editorial desde quando as tiras e revistas
em quadrinhos começavam a se estabelecer, na década de 1930, Eisner atravessou
todos os principais ciclos de desenvolvimento da mídia. Como muitos dos
artistas da época, Eisner andava em busca de oportunidades nas várias editoras
que surgiram para atender o incipiente mercado consumidor. Sem conseguir
emprego fixo, acabou abrindo, no ano de 1936, o próprio estúdio, em parceria
com um desenhista frustrado, Jerry Iger. Adotando um modelo de produção que
viria a ser copiado por outras empresas no futuro, o estúdio Eisner & Iger
tinha uma rígida divisão de tarefas, com artistas responsáveis pelos esboços a
lápis, arte-final, moldura dos quadrinhos e letreiramento. Entre os artistas
que passaram por lá estão Bob Kane e Jacky Kirby, cocriadores de Batman e
Capitão América, respectivamente.
Já fora da sociedade, criou The Spirit,
maior sucesso editorial da carreira e publicado entre 1940 e 1952. Nas décadas
seguintes, trabalhou produzindo quadrinhos educativos para o exército dos EUA
e, em 1978, aos 59 anos, lançou Um contrato com Deus, uma das primeiras obras
no padrão graphic novel (romance gráfico, em tradução literal), termo criado
para se referir histórias em quadrinhos mais extensas e elaboradas, espécie de
meio termo entre literatura e HQs. O dia a dia era a principal fonte de
inspiração para as narrativas gráficas do autor, que se dedicou a escrever e
desenhar histórias de pessoas comuns em dramas cotidianos, como brigas de
casais, traições familiares ou frustrações profissionais, tendo como cenários
ruas, cortiços, metrôs etc. A busca por temas aparentemente ordinários
contrastava com a sempre constante busca pela sofisticação estética, até os
últimos trabalhos. Mesclando aventura, mistério, comédia e romance, The Spirit
era diferente de todos os heróis da época, pela maior carga dramática das
histórias e narrativa gráfica sofisticada. O caráter cinematográfico de muitas
das composições das páginas não era por acaso: o artista foi influenciado pelo
cinema e declaradamente um aficionado por Cidadão Kane (1941). É fácil perceber
as semelhanças no uso de enquadramentos e profundidade de campo, algo que o
levou a ser chamado de “o Orson Welles dos quadrinhos”. Outra novidade da HQ
era o uso das splash pages, cuja ideia era causar grande impacto visual na
página introdutória das histórias.
Hogarth
foi cognominado o Miguel Angelo dos Quadrinhos:
O desenhista Burne Hogarth (1911-1996)
assumiu o personagem Tarzan, criado por Edgar Rice Burroughs, em tiras de
jornais entre 1937 e 1950. Retomando-o depois em dois álbuns considerados
históricos: Tarzã dos Macacos e Os Contos da Selva, de 1976. As principais
características de seu trabalho com o personagem eram voltadas para o
perfeccionismo anatômico – que o levou a ser comumente chamado de o
Michelangelo dos quadrinhos – e aa incrível composição de seus quadros, cada um
pensado detalhadamente, como se fosse sua obra definitiva. Hogarth definiu
quadrinhos coo um “dispositivo complexo para transformar ideias em arte”. Como
artista, era associado a Michelangelo sempre por sua preocupação e precisão em
retratar a anatomia humana. Mais do que anatomia, Burne Hogarth impressionava
pela impressão de movimento e por suas intrincadas composições de cena. Era
como um aluno de Michelangelo a serviço da narrativa.
Burne Hogarth foi grandemente reconhecido
em seu país, tendo recebido o prêmio da National Cartoonist Society de 1975, da
Magazine and Book Illustration de 1992 e o Prêmio Especial de 1974 (Special Features
Award), além de várias homenagens internacionais. Ele fez palestras, escreveu,
criou e teorizou durante seus últimos anos, participando como convidado de
inúmeros eventos. Depois de comparecer à Festival Internacional de Quadrinhos
de Angoulême em 1996.
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