Hugo Pratt, o Mozart dos quadrinhos
Foram 68 anos de vida. Hugo Pratt (1927-1995)
buscava os elementos para suas narrativas à maneira de um repórter, vivendo de
fato as aventuras. Ele acreditava que podia penetrar em seus mundos paralelos e
conhecer de perto a matéria-prima de que eram feitos os sonhos. E assim viveu
na Argentina, Etiópia, França, Venezuela, Inglaterra, Itália, Estados Unidos e
Brasil. Aqui ele esteve em São Paulo, Mato Grosso, Selva Amazônicas e Bahia. Ele
criou um personagem lendário - Corto Maltese, marinheiro errante e sonhador dos
princípios do séc. XX. Pratt era um mestre em criar ilustrações simples, que à
primeira vista pareciam fáceis. Mas era uma simplicidade que despistava o
leitor menos atento. Seus personagens eram capazes de estabelecer a comunicação
com vários níveis de leitores. E, de forma universal, o que é a marca de todo
grande artista. Toda
a obra do mestre é irrigada por seus encontros com povos que possuem ritos de
iniciação específicos, como os indígenas da Amazônia, os da América do Norte,
as sociedades pré-colombianas, a África, a Melanésia e a Nova Guiné. Além
disso, era um grande contador de histórias. Tinha a capacidade de dar ritmo à
narrativa.
No trabalho de Pratt – tanto arte quanto
roteiro -, cada linha tinha uma razão de ser. Talvez por isso Corto Maltese
fosse tão popular e prestigiado. O desenhista italiano Vittorio Giardino disse
que Hugo Pratt equivaleria a Mozart no mundo dos quadrinhos.
Michelangelo
dos quadrinhos: John Buscema
John Buscema (1927 – 2002), desenhista que
ganhou a alcunha de Michelangelo dos quadrinhos – referência ao pintor,
escultor e arquiteto italiano do século 14, cujas esculturas humanas pareciam
ganhar vida. Buscema fez carreira e fama na Marvel Comics, ilustrando
quadrinhos de personagens como Hulk, Vingadores, Surfista Prateado e Quarteto
Fantástico, dentre outros, incluindo o bárbaro Conan, do qual desenhou mais de
200 aventuras. Além de seu trabalho como artista, ele também ensinou a arte dos
quadrinhos durante vários anos em um colégio de Manhattan. Quando o trabalho
como professor começou a interferir com sua produção de HQs, Buscema acatou a
sugestão de Stan Lee e fez um livro sobre o assunto. O livro, How to Draw
Comics the Marvel Way, tornou-se um grande sucesso de vendas e definiu o padrão
de arte para quadrinhos de super-heróis durante muitos anos. Diferente de
muitos artistas, Buscema nunca se interessou em escrever suas próprias
histórias. Sua paixão era a arte e ele desenhava constantemente. Grande parte
de suas páginas de arte original contém inúmeros esboços e rascunhos no verso,
alguns até melhores que a arte publicada! Esses “rabiscos” eram muito admirados
por seus colegas artistas e vários foram compilados no livro John Buscema
Sketchboo”.
Robert
Crumb, um Brueghel do século 20
Considerado pelo crítico de arte Robert
Hughes o Brueghel da última metade do século 20, o estilo exorcístico de Robert
Crumb fez com que ele nos legasse uma versão moderna da Torre de Babel de
Pieter Brueghel. Por meio de um recurso de comunicação de massas, Crumb
rejeitou a tentação de ordenar um mundo ético e afundou-se em busca de sua
estranha e íntima verdade particular. Observador atento do american way of
life, ele descobriu, horrorizado, que era fruto de uma sociedade doente, com
todas as implicações que isso carregava. Para retratá-la, retratou a si mesmo
com rara crueldade, sem se poupar nem fazer o mesmo com seus parentes. Seu
traço aparentemente “sujo” esconde um senso preciso de movimento e uma anarquia
criativa de proporções e representações. Ele se situa muito além da crítica ao
establishment, criando um divã bizarro para examinar se – e, por extensão, toda
sua geração.
Seus personagens autobiográficos, geralmente
brancos, anglo-saxões, protestantes, reacionários ou falsamente
revolucionários, desnudam a consciência de uma época. Afrontou as feministas,
criando personagens insólitas. Em uma de suas histórias ele chega a levar uma
surra de um grupo de feministas, até que dobra sua líder e entra (literalmente)
no ideário da perseguidora. Suas mulheres grandes e amedrontadoramente
selvagens – como a Yéti –arrancam homens sérios e entediados de sua rotina
familiar para devorá-los como canapés sexuais.
BIBLIOGRAFIA
ASSIS, Diego. O
sombra brasileiro fez passeio pela história das HQs. Folha de S.Paulo.
Ilustrada. 13 de junho de 2003.
BASTOS JUNIOR,
Gabriel. E outro que se chama Tarzã. O Estado de S.Paulo. Caderno 2. 09 de
fevereiro de 1996. Página D5.
MEDEIROS, Jotabê. Hugo
Pratt conheceu de perto a matéria prima dos quadrinhos. São Paulo. O Estado de
S.Paulo. Caderno 2. 25 de agosto de 1995.
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Crumb sai da toca e toca banjo na mostra. São Paulo. O Estado de S.Paulo.
Caderno 2. 26 de janeiro de 2000. Pag.6.
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