08 março 2021

Cognomes nos quadrinhos (06)

Hugo Pratt, o Mozart dos quadrinhos

 

Foram 68 anos de vida. Hugo Pratt (1927-1995) buscava os elementos para suas narrativas à maneira de um repórter, vivendo de fato as aventuras. Ele acreditava que podia penetrar em seus mundos paralelos e conhecer de perto a matéria-prima de que eram feitos os sonhos. E assim viveu na Argentina, Etiópia, França, Venezuela, Inglaterra, Itália, Estados Unidos e Brasil. Aqui ele esteve em São Paulo, Mato Grosso, Selva Amazônicas e Bahia. Ele criou um personagem lendário - Corto Maltese, marinheiro errante e sonhador dos princípios do séc. XX. Pratt era um mestre em criar ilustrações simples, que à primeira vista pareciam fáceis. Mas era uma simplicidade que despistava o leitor menos atento. Seus personagens eram capazes de estabelecer a comunicação com vários níveis de leitores. E, de forma universal, o que é a marca de todo grande artista. Toda a obra do mestre é irrigada por seus encontros com povos que possuem ritos de iniciação específicos, como os indígenas da Amazônia, os da América do Norte, as sociedades pré-colombianas, a África, a Melanésia e a Nova Guiné. Além disso, era um grande contador de histórias. Tinha a capacidade de dar ritmo à narrativa.

 


No trabalho de Pratt – tanto arte quanto roteiro -, cada linha tinha uma razão de ser. Talvez por isso Corto Maltese fosse tão popular e prestigiado. O desenhista italiano Vittorio Giardino disse que Hugo Pratt equivaleria a Mozart no mundo dos quadrinhos.

 

 

Michelangelo dos quadrinhos: John Buscema

 


John Buscema (1927 – 2002), desenhista que ganhou a alcunha de Michelangelo dos quadrinhos – referência ao pintor, escultor e arquiteto italiano do século 14, cujas esculturas humanas pareciam ganhar vida. Buscema fez carreira e fama na Marvel Comics, ilustrando quadrinhos de personagens como Hulk, Vingadores, Surfista Prateado e Quarteto Fantástico, dentre outros, incluindo o bárbaro Conan, do qual desenhou mais de 200 aventuras. Além de seu trabalho como artista, ele também ensinou a arte dos quadrinhos durante vários anos em um colégio de Manhattan. Quando o trabalho como professor começou a interferir com sua produção de HQs, Buscema acatou a sugestão de Stan Lee e fez um livro sobre o assunto. O livro, How to Draw Comics the Marvel Way, tornou-se um grande sucesso de vendas e definiu o padrão de arte para quadrinhos de super-heróis durante muitos anos. Diferente de muitos artistas, Buscema nunca se interessou em escrever suas próprias histórias. Sua paixão era a arte e ele desenhava constantemente. Grande parte de suas páginas de arte original contém inúmeros esboços e rascunhos no verso, alguns até melhores que a arte publicada! Esses “rabiscos” eram muito admirados por seus colegas artistas e vários foram compilados no livro John Buscema Sketchboo”.

 

 

Robert Crumb, um Brueghel do século 20

 

Considerado pelo crítico de arte Robert Hughes o Brueghel da última metade do século 20, o estilo exorcístico de Robert Crumb fez com que ele nos legasse uma versão moderna da Torre de Babel de Pieter Brueghel. Por meio de um recurso de comunicação de massas, Crumb rejeitou a tentação de ordenar um mundo ético e afundou-se em busca de sua estranha e íntima verdade particular. Observador atento do american way of life, ele descobriu, horrorizado, que era fruto de uma sociedade doente, com todas as implicações que isso carregava. Para retratá-la, retratou a si mesmo com rara crueldade, sem se poupar nem fazer o mesmo com seus parentes. Seu traço aparentemente “sujo” esconde um senso preciso de movimento e uma anarquia criativa de proporções e representações. Ele se situa muito além da crítica ao establishment, criando um divã bizarro para examinar se – e, por extensão, toda sua geração.

 


Seus personagens autobiográficos, geralmente brancos, anglo-saxões, protestantes, reacionários ou falsamente revolucionários, desnudam a consciência de uma época. Afrontou as feministas, criando personagens insólitas. Em uma de suas histórias ele chega a levar uma surra de um grupo de feministas, até que dobra sua líder e entra (literalmente) no ideário da perseguidora. Suas mulheres grandes e amedrontadoramente selvagens – como a Yéti –arrancam homens sérios e entediados de sua rotina familiar para devorá-los como canapés sexuais.  

 

 

BIBLIOGRAFIA                   

 

ASSIS, Diego. O sombra brasileiro fez passeio pela história das HQs. Folha de S.Paulo. Ilustrada. 13 de junho de 2003.

 

BASTOS JUNIOR, Gabriel. E outro que se chama Tarzã. O Estado de S.Paulo. Caderno 2. 09 de fevereiro de 1996. Página D5.

 

MEDEIROS, Jotabê. Hugo Pratt conheceu de perto a matéria prima dos quadrinhos. São Paulo. O Estado de S.Paulo. Caderno 2. 25 de agosto de 1995.

 

------------------------. Crumb sai da toca e toca banjo na mostra. São Paulo. O Estado de S.Paulo. Caderno 2. 26 de janeiro de 2000. Pag.6.

 

 

 

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