22 março 2021

HQ baiana tem fôlego e má distribuição (04)


 

LAGE ((1946-2006) – Ele atravessou 40 anos de charges, cartuns e quadrinhos como um observador vigilante e de fino espírito crítico. Como conseqüência, submeteu a seu olhar os presidentes, governadores e prefeitos que administraram o País e a cidade de Salvador durante os anos em que trabalhou em jornais e revistas. Traço simples que consegue captar todo o momento histórico político vivenciado. Tudo Bem, Ânsia de Amar e outras tiras trazem um humor sem retoques, autêntico, mordaz. O humor caligráfico de Lage tem uma marca pessoal muito forte e traz, por inteiro a perplexidade nossa de cada dia. Traço rápido, leve, ágil, sinuoso, carregado de expressividade, firme, ajusta-se a brevidade do momento. Ele é o chargista crítico dos desmandos do poder, exercendo a cidadania tal qual a princípio lhe é conferida como um direito natural e constitucional, no papel de fiscalizador dos atos dos políticos e dos governantes. Quem quiser entender a Bahia de 1969 a 2006 precisa levar a sério o trabalho de Lage e olhar com atenção o comentário cáustico e agudo de suas charges. Mais do que jornalistas, são cronistas do desenho, que respondem diretamente aos acontecimentos com traço e legenda.

 


SETÚBAL - Jornalista, ilustrador, caricaturista, chargista, cartunista, cronista, artista plástico, publicitário, ator e quadrinista, Paulo Henrique Setúbal costuma dar um traço próprio aos seus personagens. Seu lápis é afiado e ele tem afinidades com a pintura, o teatro, o cinema e a publicidade. Seu desenho é um conjunto de leveza, expressão e humor. A ideia e a ação se completam fazendo da imagem retratada algo de uma força que faz do expectador um vidente da alma do seu caricaturado. Ele desnuda toda a intimidade do modelo de tudo que o cerca. Criou os quadrinhos Mare Mansa, reflexo da vida baiana, os personagens Argemiro e Garibaldo. Ele trafega bem pela caricatura, ilustração, charges e quadrinhos. A significação social de sua obra e a elaboração narrativa trazem propostas extremamente ricas para nossos quadrinhos. O dinamismo de seus planos reveste-se de uma significação estrutural à altura das melhores produções gráfico visuais dos nossos tempos. Com seu estilo irreverente e questionador, seus desenhos terminam impregnados ao espírito da Bahia – detalhista. Cheios de sofisticado preciosismo, sempre atentos às mínimas novidades. Nada parece lhe escapar.



CEDRAZ (1945-2014) - O criador da Turma do Xaxado, Zé Bola, Joinha e tantos outros personagens foi um desbravador de sonhos. Antônio Luis Ramos Cedraz, quadrinista mais conhecido da Bahia, é o nosso porto seguro, nossa identidade deste mundo globalizado. Com ele nunca vamos perder nossas raízes, pois ele fala a língua de sua gente simples e humilde. No mercado mais de 40 anos, sempre batalhando, lutando para abrir espaço para os quadrinhos nacionais, mas com muita humildade. Nunca desistiu da luta, mesmo que batalhasse com dificuldades e enfrentando o todo poderoso syndicate norte americano. Da simplicidade do traço à criatividade da narrativa, Xaxado retrata a vida rural com todas as suas lendas e mistérios. São aventuras de um garoto, neto de um famoso cangaceiro que vivia com o bando de Lampião, às voltas com problemas do dia a dia, junto com seus pais e amigos. Todo o trabalho tem um bom acabamento visual das personagens, com precisão no traço e originalidade temática. Através de um enredo fluente, falando de um cotidiano em que se misturam o real e o simbólico, o objetivo e o subjetivo, o autor construiu uma atmosfera da qual é difícil ficar alheio. Através de Xaxado penetramos no universo gráfico de Cedraz, o imaginário infantil cria asas e viaja na mente de todos nós.

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