Nos jornais humorísticos do século XIX,
quase sempre em formato tablóides, eram contadas histórias através de desenhos,
impressos apenas num dos lados e,m geralmente numeradas – o que era útil para o
caso de ser uma série e vital para o colecionador. Os desenhistas H.Odilon,
J.Cardoso, Gavarni e Fortunato Soares dos Santos eram os mais destacados. No
período de
Nomes como Manoel Paraguassu, K-Lunga,
Nicolay Tischenko, Sinésio Alves, Fernando Diniz e muitos outros fixaram em
seus traços usos e costumes sociais e políticos. Ao longo da história, o
crítico do lápis sempre esteve presente. Assim, pode-se conhecer a história de
qualquer país através do desenho de humor, da caricatura, da charge. Impiedosos
ou amenos, os cartunistas com três ou quatro riscos numa folha em branco são
capazes de retratar toda uma época.
A maioria dos grandes nomes da pintura
realizou-se primeiro no desenho, na gravura. Relegar a obra gráfica desses
artistas a um segundo plano é desconhecer por completo os caminhos percorridos,
muitas vezes com maior acerto e determinação do que na obra pictórica. O mestre
Raimundo Aguiar, ou K-Lunga, foi um exemplo. Até hoje somente a sua pintura foi
considerada. Sua obra gráfica, de interesse ilimitado, permanece em um segundo
plano, cercado por um silêncio constrangedor. O mesmo podemos dizer dos
trabalhos de Nicolay Tischenko, Sinézio Alves, Fernando Diniz, Álvaro de Barros
entre outros. Há nos desenhos desses humoristas uma preocupação em retratar o
homem no seu cotidiano, sua vida social.
O mercado passou por um aumento de edições
de autores independentes, com o barateamento do processo de criação e a
democratização da produção, distribuição, que usam a internet (blogs, sites) e
as redes sociais digitais para propagarem os trabalhos. Mas as obras impressas
continuam com má distribuição.
K-LUNGA (1893-1989) -
Raymundo Aguiar satirizou políticos, personalidades e costumes, e como defendia
sob o pseudônimo de K-Lunga, a Revolução de30, foi parar num xadrez da
Secretaria de Segurança. A irreverência brincalhona de suas caricaturas
resultou em sua detenção por 36 horas. Desde o governador Antonio Muniz até
Antonio Balbino foram alvos de suas críticas. Uma de suas charges mais ousadas
e contundentes, As Transformações, provocou o empastelamento do jornal A Hora.
Registrou, de forma autêntica, acontecimentos sociais e políticos da época. O
trabalho desse português de talento singular começou a incomodar os donos do
poder. Emprestou o valor de seu lápis aos maiores jornais e revistas locais.
TISCHENKO
(1926-1981)
- Pintor, chargista e publicitário, Nicolay Tischenko ajudou, com suas charges,
a perceber as ambiguidades da condição humana, as contradições disfarçadas, os
anseios e insatisfações. Seu traço vivo, forte, fixou nossos tipos, usos e
costumes sociais e políticos, dando às suas figuras um “décor” próprio. Seus
desenhos foram publicados de 1958 a 1975 no jornal A Tarde. Seu traço era
marcado pela sensibilidade européia e, naquela época, foi uma grande sensação
no mercado. A repercussão das charges publicadas em A Tarde incentivou o
desenhista a reuni-las no livro Charges. Introspectivo, Tischenko tem trabalhos
em guache, aquarelas e esculturas espalhadas por todas as partes do mundo.
PARAGUASSU (1896-
INTERROGAÇÃO) - Dono de um traço firme e personalíssimo e de uma sensibilidade
rica de nuances. O artista traçou os perfis de pessoas destacadas na política,
comércio e industria da nossa terra. Fino e espirituoso, marcou época na
caricatura da Bahia publicando em jornais e revistas. Ele reafirmou, pelo seu
traço e sua verve, o primado de caricaturista magistral. Viveu vários anos
entregue à caricatura e através dela se mostrou um dos desenhistas mais
interessantes do Brasil. Simpatizante dos esportes, foi um dos fundadores da Associação Bahiana de
Cronistas Desportivos. O Clube Bahiano de Tênis também o conta entre os seus
idealizadores.
SINÉZIO
ALVES
(1919 – INTERROGAÇÃO) - Foi pintor, escultor, caricaturista e cenógrafo. Gritar
contra as injustiças, as trapaças e as falcatruas foi sua bandeira. Sofrendo os
rigores da censura do Estado Novo, aprendera a adotar subterfúgios para
driblá-la. Como caricaturista, incomodou interventores, governadores,
prefeitos, os figurões da política e da sociedade. Mas também reverenciou, com
sutil ironia, poetas, pintores, cordelistas e romancistas. A irreverência de
seu traço percorreu diversos jornais baianos. Raros são os livrinhos de cordel
que não trazem a sua assinatura, mesmo depois do advento da xilogravura em
nosso estado. Ele é, sem dúvida alguma, um referencial significativo na
trajetória do desenho e caricatura populares no estado da Bahia.
FERNANDO
DINIZ (1916
- ) Ensaísta e poeta, Diniz foi um caricaturista de tipos. Suas caricaturas
estão inteiramente ligadas ao universo cultural baiano, notadamente o
literário, mas por vezes fixando vultos da política e do jornalismo, das artes
e do magistério, em charges e portraits-charges características, não raro
também incursionando nas esferas nacional e internacional, ou ainda captando
cenas e flagrantes da vida cotidiana, quase todos acompanhados dos respectivos
textos rimados (ou epigramas). Em seu trabalho destaca-se a crítica corretiva,
ainda que corrosiva, da sociedade ou do indivíduo, coexistindo o traço e o
verso chistosos, que se completam.
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