Há
mais de quinhentos anos da história brasileira, a Bahia é um dos mitos que
habitam o imaginário nacional. Antigo, renovado, atualizado, esse mito tem
ocupado lugar de destaque. Sendo território ancestral do Brasil, o mito baiano
está assentado, segundo o ensaísta e poeta Antônio Risério, num tripé que reúne
história, encantos naturais e urbanos e originalidade cultural.
Para
o historiador e professor Cid Teixeira, a cidade nasceu na encruzilhada de dois
tempos (entroncamento da Idade Média que se esvaia com o
Tempos Modernos que
repontavam). Surgida na metade do século XVI, só vai conhecer riqueza e
esplendor nas duas centúrias seguinte.
Primaz
do Brasil, a cidade mãe foi peça chave na identificação do sistema colonial
poruguês. Da aldeia eurotupinambá de Diogo Caramuru e Catarina até o canto de
Ivete Sangalo. Da revolucionária bossa nova de João Gilberto, do cinema novo de
Glauber Rocha, do tropicalismo de Caetano Veloso e Gilberto Gil, a cultura está
ancorada nas encruzilhadas do sagrado e do profano, da tradição e da vanguarda.
Trata-se de uma cultura sensual e festiva, mestiça e sincrética, do resultado
de encontros luso- banto- iorubano- tupis.
Relatos,
crônicas, poemas, canções e imagens que retratam a Bahia acabaram por reforçar
e estimular o mito. Esse mito habitou acima do cotidiano real, sempre sob o
olhar atento de Exu, senhor das encruzilhadas.
Exu,
o mensageiro, o senhor das encruzilhadas, guardião dos terreiros, questiona o
estabelecido,
promove as mudanças, confronta e traz novidades. Como escreveu
Jorge Amado, “é o não onde só existe o sim; o contra em meio do a favor;
intrépido e o invencível” e José de Jesus Barreto informou “(...) nessa Bahia
de todos os santos, caboclos, encantos, inquices, voduns e orixás, nada se faz
e nada acontece sem as bênçãos do Senhor do Bonfim. Nada se realiza sem que
antes se promova a limpeza com o batimento de folhas. E nada se concretiza sem
que, primeiro que tudo, se peça a licença de Exu, aquele que abre os caminhos,
a entidade do movimento, da comunicação entre os homens, e entre o humano e o
desconhecido. Assimé. ‘Laroiê!’.”
Dos
vícios e pecados revelados pelo poeta Gregório de Mattos, dos desvios e
transgressões, do desleixo, da preguiça e sujeira em cima ou em baixo. Na Cidade
Alta (o paraíso, a cidade jardim) a Cidade Baixa (o inferno, a cidade porto).
E
a mercantilização da Bahia tem nos produtos culturais seu cartão de visita e no
carnaval o grande palco da sua espetacularização. E o mito baiano segue gerando
crise e contradições na redefinição de identidades.
Bibliografia:
AMADO,
Jorge. Bahia de Todos os Santos: guia de
ruas e mistérios. Rio de Janeiro: Record, 1986.
BARRETO,
José de Jesus. Candomblé da Bahia.
Resistência de identidade de um povo de fé. Salvador: Solisluna Design e
Editora, 2009.
NOVA,
Luiz e MIGUEL, Paulo. O Mito Baiano:
Viço, Vigor e Visões. IV ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares
em Culturas – Faculdade de Comunicação da UFBa, 2008.
RISÉRIO,
Antonio. Caymmi: uma utopia de lugar.
São Paulo: Perspectiva, 1993.
RISÉRIO,
Antonio. Uma história da Cidade da Bahia.
Salvador: OmarG., 2000.
TEIXEIRA,
Cid. Aquele rei, aquele tempo, esta
cidade. Disponível em www.atarde.com.br/arq03/ct2903.html.Acesso
em 25 de março de 1997.
WISNICK,
Jose Miguel (Org). Poesias escolhidas de
Gregório de Matos. São Paulo: Cultrix, 1993.
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Um comentário:
Como sempre um excelente jornalismo !!
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