05 novembro 2013

Na encruzilhada do mito





Há mais de quinhentos anos da história brasileira, a Bahia é um dos mitos que habitam o imaginário nacional. Antigo, renovado, atualizado, esse mito tem ocupado lugar de destaque. Sendo território ancestral do Brasil, o mito baiano está assentado, segundo o ensaísta e poeta Antônio Risério, num tripé que reúne história, encantos naturais e urbanos e originalidade cultural.

Para o historiador e professor Cid Teixeira, a cidade nasceu na encruzilhada de dois tempos (entroncamento da Idade Média que se esvaia com o
Tempos Modernos que repontavam). Surgida na metade do século XVI, só vai conhecer riqueza e esplendor nas duas centúrias seguinte.

Primaz do Brasil, a cidade mãe foi peça chave na identificação do sistema colonial poruguês. Da aldeia eurotupinambá de Diogo Caramuru e Catarina até o canto de Ivete Sangalo. Da revolucionária bossa nova de João Gilberto, do cinema novo de Glauber Rocha, do tropicalismo de Caetano Veloso e Gilberto Gil, a cultura está ancorada nas encruzilhadas do sagrado e do profano, da tradição e da vanguarda. Trata-se de uma cultura sensual e festiva, mestiça e sincrética, do resultado de encontros luso- banto- iorubano- tupis.

Relatos, crônicas, poemas, canções e imagens que retratam a Bahia acabaram por reforçar e estimular o mito. Esse mito habitou acima do cotidiano real, sempre sob o olhar atento de Exu, senhor das encruzilhadas.

Exu, o mensageiro, o senhor das encruzilhadas, guardião dos terreiros, questiona o estabelecido,
promove as mudanças, confronta e traz novidades. Como escreveu Jorge Amado, “é o não onde só existe o sim; o contra em meio do a favor; intrépido e o invencível” e José de Jesus Barreto informou “(...) nessa Bahia de todos os santos, caboclos, encantos, inquices, voduns e orixás, nada se faz e nada acontece sem as bênçãos do Senhor do Bonfim. Nada se realiza sem que antes se promova a limpeza com o batimento de folhas. E nada se concretiza sem que, primeiro que tudo, se peça a licença de Exu, aquele que abre os caminhos, a entidade do movimento, da comunicação entre os homens, e entre o humano e o desconhecido. Assimé. ‘Laroiê!’.”

Dos vícios e pecados revelados pelo poeta Gregório de Mattos, dos desvios e transgressões, do desleixo, da preguiça e sujeira em cima ou em baixo. Na Cidade Alta (o paraíso, a cidade jardim) a Cidade Baixa (o inferno, a cidade porto).

E a mercantilização da Bahia tem nos produtos culturais seu cartão de visita e no carnaval o grande palco da sua espetacularização. E o mito baiano segue gerando crise e contradições na redefinição de identidades.

Bibliografia:

AMADO, Jorge. Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios. Rio de Janeiro: Record, 1986.

BARRETO, José de Jesus. Candomblé da Bahia. Resistência de identidade de um povo de fé. Salvador: Solisluna Design e Editora, 2009.

NOVA, Luiz e MIGUEL, Paulo. O Mito Baiano: Viço, Vigor e Visões. IV ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Culturas – Faculdade de Comunicação da UFBa, 2008.

RISÉRIO, Antonio. Caymmi: uma utopia de lugar. São Paulo: Perspectiva, 1993.

RISÉRIO, Antonio. Uma história da Cidade da Bahia. Salvador: OmarG., 2000.

TEIXEIRA, Cid. Aquele rei, aquele tempo, esta cidade. Disponível em www.atarde.com.br/arq03/ct2903.html.Acesso em 25 de março de 1997.

WISNICK, Jose Miguel (Org). Poesias escolhidas de Gregório de Matos. São Paulo: Cultrix, 1993.


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Um comentário:

LUCIA disse...

Como sempre um excelente jornalismo !!