Um dos maiores e mais destacados
escultores de carrancas do São Francisco, Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany
é um nome que soa familiar pelas margens, afluentes, cidades e, principalmente,
barcaças do São Francisco por suas famosas carrancas. Ele é homenageado todo
dia 02 de abril. Nesse dia a Câmara de Vereadores de Juazeiro instituiu o Dia
Municipal da Carranca. Nascido no município de Santa Maria da Vitória no dia 02
de abril de 1882, Guarany foi um escultor primitivo de carrancas (figuras de
proa das “barcas” que navegavam no Rio São Francisco até a década de 1950, com
sua original tipologia ao antropomorfa),
que mais produziu dos 19 aos 97 anos de idade.
Essas carrancas constituem a mais
importante manifestação coletiva da arte popular brasileira. São assuntos de
extrema importância na história da cultura brasileira. Guarany sempre trabalhou
sozinho, como marceneiro e carpinteiro. Por ser esse serviço escasso em Santa
Maria, Guarany fazia de tudo: barris para transporte de água, dornas para
guardar cachaça, móveis, madeiramento para telhados, etc. Ficou famoso pela
produção de carrancas.
TRABALHO - Carranca é uma
escultura de madeira que foi muito usada na proa das embarcações que navegavam
no Rio São Francisco. Por ser muito feia, acreditava-se que ela espantava os
maus espíritos. O vigor de sua escultura primitiva, marcado pelo fantástico,
resulta de sua autenticidade. Ele criava uma fantasia em torno de muitas de
suas carrancas, como a querer dar-lhes vida. Impregnou-se de sua funcionalidade
e criou o seu estilo. O elemento plástico mais característico à sua escultura é
o tratamento que dispensa à cabeleira das carrancas, espessa ou em relevo
acentuado. A grandeza de Guarany está na uniformidade do seu trabalho.
Todas as suas peças apresentam um
perfeito apuro técnico. De suas mãos e imaginação nasceram quase a totalidade
das carrancas que durante anos enfeitaram as embarcações san franciscanas,
cumprindo a misteriosa missão de afastar as “feras do mal”, e que hoje,
recolhidas em ricas coleções e museus, são signos vivos de uma arte singular.
ORIGEM - Segundo Guarany, seu
bisavô, José Dy Lafuente, espanhol de Barcelona, era um jesuíta ou frade de um
convento em Salvador, de onde teve que fugir por ocasião de uma revolução, ou
talvez da perseguição que Pombal moveu aos jesuítas. Ocultou-se então na casa
de uma negra africana de Moçambique - Biquiba - com quem se uniu e refugiou-se
no interior da Bahia, indo para Capim Grosso, atualmente Curaçá, às margens do
São Francisco, próximo a Juazeiro, onde se tornou professor. Daquela união
nasceu Plácido Biquiba Dy Lafuente que, recrutado aos 16 anos e transferido
para Salvador, ali participou da Sabinada, obtendo o posto de Alferes sendo
destacado para Juazeiro.
O mais velho dos filhos de
Plácido e Maria foi Cornélio Biquiba Dy Lafuente, que se casou aos 21 anos,
cerca de 1865 (evitando o recrutamento dos solteiros para a guerra do
Paraguai), com Marcelina do Espírito Santo, neta de uma índia de Paraguaçu
mudando-se de Barra, onde trabalhava com Cirillo Cavalcante, construindo
barcas, para Porto, hoje Santa Maria da Vitória, ali continuando com a mesma
profissão. Francisco, último dos seis filhos de Cornélio, foi apelidado de
Guarany, por ser bisneto de índia. Passou então a assinar Francisco Biquiba
Guarany ou Francisco Guarany, sendo conhecido por todos como Guarany.
RECONHECIMENTO - Em 1968, recebeu
o diploma de membro correspondente da Academia
Brasileira de Belas Artes.
Esculpiu carrancas até fins de 1979. Em 1972, foi convidado para proferir
palestra em uma Faculdade de Economia de São Paulo, sobre o São Francisco e as
carrancas, o que lhe deu grande prazer, pois muito se orgulhava de suas
esculturas, especialmente das que fez por encomenda para o exterior e
encontradas em vários museus.
Morreu aos 103 anos, em Santa
Maria da Vitória, no dia 05 de maio de 1985, como o maior escultor primitivo
brasileiro de todos os tempos. Com suas carrancas foi reconhecido pela imprensa
de Paris, onde o Comité Internacional pour l' Étude des Figures de Proue -
órgão sob o patrocínio da UNESCO, solicitou uma exposição de carrancas para
inauguração do Museu Flutuante. O fato consagrou as carrancas
internacionalmente. Confirmada pela carta da Presidente do Comité, Liliane
Bedel, enviada a Guarany, felicitando-o pela realização da Exposição
"Guarany - 80 anos de Carrancas".
No município onde ele nasceu, Santa Maria da Vitória, existe o Memorial
Francisco Guarany que reúne artistas emergentes e funciona como escola de arte.
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