Oficial do Exército brasileiro,
pensador e articulador político. Cândido da Fonseca Galvão, mais conhecido como
Príncipe Oba, ou Dom Oba II d´África, filho de africano forro, brasileiro de
primeira geração, nasceu na Bahia, na região de Lençóis por volta de 1845. Neto
do maior imperador yorubá, o rei Alafin Abiodun, responsável pela unificação do
império yorubá na África. Seu pai – Benvindo da Fonseca Galvão – veio como
escravo para o Brasil. Em meados do século XIX, já como escravo liberto e
movido pela corrida em busca dos Diamantes da Chapada Diamantina. Quando Dom
Oba II vem ao mundo, a comunidade escrava reúne suas economias e compra a sua
liberdade, garantindo-lhe o título de homem livre. Aprendeu a ler e escrever
com o pai.
A Bahia foi a província
brasileira que mais contribuiu com voluntários para a Guerra do Paraguai. Em
1865 participou ativamente no recrutamento de voluntários para a Guerra do
Paraguai, sua primeira oportunidade de exercitar suas qualidades de liderança.
Foi nomeado para alferes da 3ª Campanhia de Zuavos Baianos. Ferido na mão
direita, Cândido da Fonseca Galvão retirou-se do serviço ativo no dia 31 de
agosto de 1861. Mais tarde buscou o reconhecimento social de seus feitos e
valimentos. Para tanto percorreu os trâmites legais, dirigindo-se
preferencialmente ao próprio imperador. Em 1872 foram concedidas as honras. Não
inteiramente satisfeito, Galvão encaminhou, no ano seguinte, um pedido de
pensão. Sua solicitação é atendida. A vida de soldado permitiu uma ampliação
extraordinária – quantitativa e qualitativamente – nos contatos entre regiões,
classes e raças da sociedade brasileira. No tempo da guerra, o obscuro filho de
um africano-foro, cujos horizontes não iam além da sua Comercial Vila dosa
Lençóis, no sertão da Bahia, conheceria capitais de província, sua amada
capital do Império, terras estrangeiras e questões internacionais de fronteira.
A campanha permitiu-lhe entrar em contato direto com praticamente todas as
instâncias do poder político. Condecorado como herói, Dom Obá II torna-se um
elo entre os altos poderes do estado e os escravos, uma espécie de porta-voz
não-oficial do povo negro brasileiro. E começou a escrever artigos para jornais
e freqüentar a corte de Dom Pedro Segundo com a elegância de trajes dos
senhores.
Questões de definição política e
cidadania, questões de raça são assuntos discutidos e analisados por Galvão na
imprensa. Em seus artigos ele apoiava a libertação dos escravos. Para o
Príncipe, a Conquista da cidadania começou com o alistamento para a guerra e
continuou, depois dele, com o processo de abolição progressiva. Vez por outra
ele publicava poesia abolicionista e anti-discriminatória. Príncipe pacifista,
Dom Obá acreditava na força das ideias. “O elemento da guerra é a espada”, gostava
de explicar, “o elemento do meu triunfo há de ser a minha pena”. Ele tinha um
pensamento vanguardista para a época. Enquanto a elite estava influenciada pelo
pensamento darwinista europeu, que pregava a superioridade da raça branca, e se
preocupava com o branqueamento do Brasil, Dom Obá formulou um pensamento
contrário pregando o enegrecimento do país, sustentando que quem trabalhava no
Brasil eram os negros.
A trajetória do alferes Galvão,
do sertão da Bahia para a Guerra do Paraguai e daí para a vida urbana na África
Pequena - composta pelos populosos bairros negros do Rio de Janeiro, antepassados
das favelas – é emblemática do percurso do negro livre na sociedade escravista.
Um líder popular, homem considerado amalucado pela “boa” sociedade, mas reverenciado e sustentado por
seus semelhantes, que se constitui em um elo insuspeitado entre as elites e a
massa que energia da sociedade tradicional. Negro, alto, forte e elegante,
trajando fraque, cartola e luvas, trazendo à mão bengala e guarda chuva, ostentando
sobre o nariz um pince-nez de ouro com lentes azuis, o príncipe Dom Obá II
d´África era o primeiro a chegar às audiências públicas que o imperador Pedro II concedia aos sábados na Quinta da Boa Vista. Ele
não limitou sua esfera de influência aos guetos da África Pequena. O acesso de
Dom Obá ao palácio e ao próprio imperador Pedro II é um fato histórico bem
documentado. Dom Oba nunca perdia as audiências públicas na Quinta da Boa
Vista, aos sábados. Ele também aparecia, mesmo em ocasiões solenes, no paço da
cidade. Aqui e ali, fosse com seu fardão de alferes ou em apurados trajes
civis, Dom Obá II d´África era sempre “um dos primeiros que se apresentavam”.
Dom Obá
II d´África era o representante da África Pequena do Rio de Janeiro, dos
“pardos e pretos” que viviam precariamente à margem do sistema, em atividades de auto-emprego. Quando havia
debate intelectual e político no Parlamento e na imprensa, Dom Obá tinha ideias
definitivas. Ele pensava na salvação da grande lavoura de exportação, base
econômica do Império, e era contra o trabalho escravista. Como as demais
personalidades, também o Príncipe procurava o apoio do imperador para seus
projetos. Por algum tempo fez campanha para ser nomeado embaixador do Império
do Brasil na Costa d´África (África Ocidental), e, ao faze-lo, forneceu munição
para a sátira política da época. Mas o Príncipe tinha uma resposta pronta para
a zombaria racista. Ele relatava vários problemas do cotidiano aos sábados na
audiência pública.
O reino
de Dom Obá começou a desintegrar-se com a chegada da Abolição. O declínio de
sua autoridade era evidente, em particular no que toca à capacidade de
arrecadar impostos de seus súditos. Ele praticamente desapareceu das colunas
dos jornais. “Não havia mais espaços para velhas fidelidades políticas, nem
mesmo para príncipes do povo”. Sua morte, em 1890 foi noticiada na primeira
página dos jornais da capital do país, que ressaltaram a imensa popularidade do
Príncipe Obá e o fato de ter falecido “na majestade de uma soberania que
ninguém se atreveu jamais a contestar”.
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