O
primeiro passo
foi colocar
na tela
o choque
de culturas,
as relações
entre os
colonizadores brancos
e os
índios brasileiros
(Como Era
Gostoso o Meu
Francês). O passo
seguinte foi
levar o espectador
a se
sentir como
um índio
através do
processo de
identificação cinematográfico.
È a violência
de um
grupo contra
outro na
sociedade contemporânea
(Uirá, um
índio a procura
de Deus).
Depois mostra
a vida
de duas
tribos, uma
disputa nobre
de coragem
e força
de guerreiro,
de honraria
e amizade
ao estranho
que visita
uma aldeia
em paz.
Na cena
final, um
salto para
a sociedade
do homem
branco (A
Lenda de
Ubirajara ).
Este salto
se repete
(Ajuricaba, o rebelde
da Amazônia)
onde o índio,
mudo, fica
em cena,
acorrentado pelo
branco, se
transforma num
marginal.
Esses
filmes usam
o índio
como uma
representação do
homem comum,
usam o conflito
entre colonizador
e índios
como uma
encenação do
sistema em
que estamos
vivendo. Representam
o mecanismo
social injusto
em que
todos estamos
vivendo. Diante
dos massacres
de tribos
inteiras do
Xingu, da
perseguição, da
posse das
terras e de
todo tipo
de torturas
(da destruição,
do genocídio
) tornou-se
impossível não
falar de
índio. (Texto
de Gutemberg
Cruz Andrade
publicado no
2o Caderno
da Tribuna
da Bahia
de 07
de abril
de 1978).
Realidade Magica
Pela margem
do grande rio caminha
Jaguaré, o jovem
caçador. Chegou a
idade em que o
mancebo troca a
fama do caçador pela
glória do guerreiro.
Mas para ser aclamado
guerreiro por sua
nação e receber, então
um nome de guerra,
é preciso que Jaguarê
vença um inimigo em
combate de morte.
Ele desce o rio
e viaja toda noite...
Assim começa “A Lenda
de Ubirajara”, descrevendo
a beleza natural, bem
às margens do Araguaia.
É o retorno do
herói, explorando a figura
do índio primitivo
em seu estado de
pureza cultural, seus valores
e códigos ainda intocados.
No campo
de batalha, Ubirajara
avança para Itaquê. Sua
bordura atinge com
força mortal o velho
guerreiro. Cambaleando,
ele resiste à queda.
Nesse instante, debruçando
sobre a história,
uma testemunha silenciosa
observa a agonia
do chefe de uma
nação: o índio verdadeiro.
Este, “tornado branco”,
contempla um passado
de guerra e o
futuro em Brasília,
ao mesmo
tempo presente. Nos seus
olhos a perplexidade
do fim. Atrás de
si um novo limiar!
O branco tornado índio,
ocupado a terra
prometida. “Os planos
finais – disse
o critico de
Última Hora, Clóves Marques
– que mostram um índio
verdadeiro, descendente
pobre, aculturado e apático
de Ubirajara, paralisado
na paisagem moderna de
Brasília, parecem dizer
o que o resto
do filme não disse:
a marginalidade é a impotência”.
O Rebelde da Amazônica
Filmado na
Amazônica a partir
de reconstituições de
fases do século XVIII,
Ajuricaba aborda, fundamentalmente,
o índio face ao
colonizador. Indignados
com a presença dos
desbravadores portugueses
– que ali estavam com
o intuito de afastar a linha
de Tordesilhas – os
índios de Manaus passaram
a oferecer forte resistência,
liderados por Ajuricaba,
que organizou uma espécie
de confederação indígena
e resistiu às tropas
portuguesas por quatro
anos.
No seu
primeiro filme de
ficção (inspirado numa lenda
indígena, fez o
documentário “Aukê”),
o documentarista Oswaldo
Caldeira foi inspirar-se
na historia de Ajuricaba,
o mítico guerreiro
da tribo de Manaus,
que levantou contra o
invasor português.
Segundo a lenda,
Ajuricaba era capaz
de se transformar
em peixe e, durante
anos, outros índios rebeldes
se declaram continuadores
dele. Isso
forneceu a Oswaldo
Caldeira, o gimmick
do roteiro: enquanto se
narra a historia do
guerreiro Ajuricaba,
ele insere flashes de
uma situação
contemporânea, em que
os mesmo atores interpretam
o que ele considera
figuras semelhantes.
Ajuricaba agora
é vitima de contrabandista,
supostamente uma quadrilha
intencional. O paralelo
é evidente e não
especialmente novo. O
próprio “Ubirajara”
já terminava com uma
imagem de um índio
atual sentado na praça
dos três poderes em
Brasília. Só que
“Ajuricaba” vai mais
longe, além de pretender
denunciar o Brazilian
Way de lidar com
os nativos, já que
como disse alguém, não
fazemos como os
americanos que matavam
os índios, nos simplesmente
os deixamos morrer. Ajuricaba
quer também denunciar
a colonização cultural
da amazônia, estrangulada
pela Zona Franca que,
enquanto a sustenta
economicamente, aniquila suas
raízes culturais.
A ação
se passa quase inteiramente
na floresta, com o
índio rebelde aprisionado
pelos portugueses, sendo
conduzido a Manaus.
E apesar de Ajuricaba
ser o personagem
que dá titulo ao
filme, e o personagem
de quem a câmara
se ocupa mais demoradamente,
os verdadeiros protagonista
da narrativa são brancos
– em particular o capitão
Belchior, o encarregado
de defender a civilização,
o lutador armado que
o governo envia para
prender o índio
rebelde. Ajuricaba
permanece todo o
tempo calado. Mudo, fica
em cena como uma
testemunha, como uma presença
ameaçadora para o
colonizador. Quem fala,
quem se explica, quem
diz o que pensa
e o que pretende
são os outros, o
governador, o comerciante,
o aristocrata e,
sobre tudo, o capitão
Belchior. O objetivo
do filme é bem
este, diz o critico
José Carlos Avellar: levar
o espectador a ouvir
além das muitas vozes
dos colonizadores tudo aquilo que
o índio Ajuricaba,
acorrentado, cercado na
floresta por um
colonizador mais fortemente
armado, não pode
dizer. O objetivo é
levar o espectador
a ouvir o som
do silêncio. “ Ajuricaba,
o rebelde da Amazônia
” recebeu o premio
de melhor fotografia
no Festival de Brasília.
“O
índio não foi, definitivamente,
incorporado à nossa
ideologia, embora a
gente fique
repetindo que o
brasil é formado de
três raças. Isso é
a maior balela do
balão, e nós não
pensamos realimente
em termos de negro
e índio. Nós pensamos
em termos de branco.
O índio mesmo, com
sua perspectiva, seu
ponto de vista, seu
sistema politico e
econômico, enfim é
o que o Ajuricaba
coloca com sua necessidade
de liberdade e de
espaço. Não há
lugar para pessoas diferentes
no Brasil. Então, é
difícil fazer filme
de índio, como é
difícil fazer filme
de negro. Nós não
sabemos qual é
o lugar do índio
na sociedade brasileira
ele foi eliminado
da nossa
história. Ninguém leu
nada sobre índio, a
gente vê um filme
como o Ajuricaba,
em que você acha
finalmente uma posição
pra esse índio, uma
formula estética,
social e politica para
exprimir esse índio
dentro da historia brasileira,
eu acho que é
um filme genial, sensacional.
E o que falta
pra gente, pensar o
Brasil seriamente, injetar
modelos que sejam
realmente nossos ” disse o antropólogo
Roberto da Mata
numa entrevista ao jornal
“ O globo ”. Segundo
Caldeira, “ Ajuricaba
” é uma reflexão sobre
o poder, do individual
ao coletivo, em que
se tenta “ não cometer
nenhuma atentado contra
a Antropologia ” .
O filme
de Caldeira retorna o
tema antes explorado
por duas obras anteriores
que exploraram a Amazônica,
mitos, folclore e lendas:
“ selva ”, de
Márcio Souza, adaptado do
romance de Ferreira
de Castro, e “ Iracema
”, de Jorge Bodanski,
que antes de ser
proibido, não provocou
nenhum exibidor a lançá-lo
no pais, talvez devido
à corajosa visão do
diretor sobre os
problemas dos quais
vivem marginalizados na
Transamasônica.
Apoio da Embrafilme
“Anchieta,
Apóstolo do Brasil”
é o novo filme
de Paulo César Seraceni,
onde mostra José deAnchieta
“lutando ao lado
dos índios, defendendo
os donos das terras,
e criando de certa
forma uma harmonia entre
os índios e portugueses
no século XVI”.
Paulo Thiago filma sua
versão (ou superprodução)
da “batalha dos Guararapes”
e conseguiu convencer
100 índios verdadeiros,
da Baia da Traição,
para atuarem no filme.
Thiago acha que a
união de índios portugueses
e brasileiros, contra
os holandeses, foi
a “primeira guerra de
libertação do Terceiro
Mundo”.
Silvio Back, depois
de “A Guerra dos
Pelados” e “Aleluia
Gretchen”
parte para a
confecção de um
documentário longo sobre
a “Repúblicas Guarani”,
a utópica sociedade
teocrática que se
desenvolveu durante um
século e meio, de
1610 a 1768, em
600 quilômetros quadrados
ao longo dos rios
Uruguai e Paraná,
abrangendo 300 mil
indios e 33 cidades
dirigidas por quase
uma centena de jesuítas.
A ideia
de Back é realizar
um realizar um levantamento
– ainda não feito
no cinema – das implicações
sociais e culturais
que produziram as povoações
jesuíticas nos atuais
estados do Paraná e Rio
Grande do Sul além
da Argentina e do
Paraguai, o que,
segundo ele, representaram
a face mais regional
e desconhecida da
epopeia civilizatória
do Brasil meridional
e países da Bacia
do Prata. O filme
vai tentar fazer a
apuração do que
os índios e os
Jesuítas transmitiram
em 150 anos de
convivência espiritual
e social, e que
significado tem hoje
essa comunidade utópica que
conseguiu conciliar
o paganismo com o
cristianismo, cultura paleolítica
e civilização medieval.
“Quero descobrir algo do
inconsciente coletivo que
restou nas nossas cabeças
e nas nossas ações,
em nossa civilização”.
E, com
o apoio da Embrafilme
– podendo significar
a existência de uma
“cultura dirigida”,
como acentua Jean Claude
Bernadet - “Juca
Pirama”, “Oswaldo Cruz”,
“Pedro Alves Cabral”,
entre outros , serão
personagens das próximas
produções . Quanto
a “verdadeira História
dos Bandeirantes” de
João Callegaro e Carlos
Reichenback, cujo objetivo
era “desmistificar”,
em certa medida, as
abordagens histórico
– monumentalistas que tanto
contribuem para fornecer
uma visão distorcida
de eventos e épocas
passadas”, foi
recusado pela Embrafilme,
“ sem explicações”.
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