É preciso resgatar valores da
terra, nomes esquecidos e vozes abafadas ou excluídas da atuação feminina n
vida social, política, cultural, econômica e filosófica da Bahia. É preciso
colocar essas mulheres a cena, conferindo legitimidade e visibilidade de suas
participações da vida pública da Bahia no passado. A contribuição feminina no
processo de luta pela independência da Bahia foi muito importante. Entre as
milhares de combatentes que lutaram pela nossa independência, a história
oficial cita apenas três mulheres: Maria Quitéria, a mais conhecida porque ela
vestiu a farda de soldado e foi para a linha de frente da batalha; a mártir
Joana Angélica, assassinada na porta do convento; e recentemente, a Maria
Felipa, mulher negra da Ilha de Itaparica. É preciso não esquecer a índia
tupinambá Catarina Paraguaçu (1503-1583), figura histórica, representou a união
das duas culturas e sua vida deu origem a inúmeras imagens criadas em torno
desse processo civilizatório.
Maria Quitéria de Medeiros
(1792-1853), notabilizou-se por se travestir de soldado para lutar nas batalhas pela independência
com relação a Portugal que se desenrolaram na Bahia. Criada no ambiente rústico
do sertão, em uma pequena propriedade rural, sabia montar, caçar e manejar
armas de fogo. Não sabia, entretanto, ler ou escrever, mas ouviu histórias
sobre a opressão de Portugal. Ao escutar as palavras de um defensor da
independência, que recrutava soldados no interior da Bahia e pernoitara na casa
e seu pai, Quitéria teria se decidido a lutar como soldado. Cortou os cabelos,
vestiu as roupas do cunhado e ingressou como homem no Regime de Artilharia onde
permaneceu até ser descoberta, semanas depois. Participou de algumas batalhas
e, mais tarde, foi recebida, no Rio de Janeiro, pelo imperador, que lhe
conferiu a Condecoração de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro e um soldo
de alferes de linha.
Outra heroína da Independência é
Joana Angélica de Jesus (1761-1822) que ingressou no Convento de Nossa Senhora
da Conceição da Lapa, tornando-se abadesa. Quando as tropas portuguesas sob o comando
do general Madeira decidiu revistar o convento, em 1922, alegando que soldados
brasileiros lá haviam se escondido, a abadessa, na ocasião com 60 anos, tentou
impedir a invasão e foi ferida pela baioneta de um soldado. Faleceu no dia
seguinte.
Quitéria e Angélica tiveram
seguidoras. Maria Filipa é considerada matriarca da Independência de Itaparica,
devido a seu ato de bravura contra os portugueses nas praias da Ilha. Seus
feitos heroicos foram mencionados, inicialmente, nos estudos do historiador
Ubaldo Osório Pimentel. Em 2007, a heroína entrou no circuito oficial das
comemorações do 2 de Julho, como uma das grandes homenageadas pela
Independência baiana. Excluída dos livros didáticos e esquecida pela maioria
dos historiadores, a guerreira Maria Felipa é, agora, finalmente enaltecida no
livro “Maria Felipa de Oliveira – Heroína da Independência da Bahia”, de
Eny
Kley de Vasconcelos Farias, educadora, diretora do Centro de Estudos de
Pós-Graduação das Faculdades Integradas Olga Metting.
Essas mulheres que participaram
das lutas no espaço público, militaram em prol da inclusão intelectual e
estiveram envolvidas cm as questões políticas mesmo antes da campanha
sufragista. Muitas mulheres ingressaram significativamente as fileiras do
movimento abolicionistas no país. Dentre elas estão as baianas Inês Sabino e
Luciana de Abreu. A partir de 1889 com a República fundamentada na idéia de
representação política dos diversos estratos sócias, acelerou o processo de
engajamento das mulheres em prol da luta por direitos políticos. A Constituição
de 1891 determinou que o corpo de eleitores devia ser formado por cidadãos
alfabetizados e maiores de 21 anos. O código deixava de foram uma menção
explícita em relação às mulheres. Diversas mulheres se manifestaram no sentido
de defender sua participação na vida pública. Algumas delas tomaram a
iniciativa de solicitar alistamento eleitoral ou anda de lançar sua candidatura.
A baiana Izabel Dilon apresentou-se como candidata à Constituição, mas não teve
sucesso. Sua tentativa era uma forma de pressão já que ela estava, por lei,
impedida da participação política. Teve ainda Anísia Ferreira Campos, Dinaelza
Soares Santana Coqueiro, Dinalva Iliveira Teixeira, entre outras.
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