O
primeiro passo
foi colocar
na tela
o choque
de culturas,
as relações
entre os
colonizadores brancos
e os
índios brasileiros
(Como Era
Gostoso o Meu
Francês). O passo
seguinte foi
levar o espectador
a se
sentir como
um índio
através do
processo de
identificação cinematográfico.
È a violência
de um
grupo contra
outro na
sociedade contemporânea
(Uirá, um
índio a procura
de Deus).
Depois mostra
a vida
de duas
tribos, uma
disputa nobre
de coragem
e força
de guerreiro,
de honraria
e amizade
ao estranho
que visita
uma aldeia
em paz.
Na cena
final, um
salto para
a sociedade
do homem
branco (A
Lenda de
Ubirajara ).
Este salto
se repete
(Ajuricaba, o rebelde
da Amazônia)
onde o índio,
mudo, fica
em cena,
acorrentado pelo
branco, se
transforma num
marginal.
Esses
filmes usam
o índio
como uma
representação do
homem comum,
usam o conflito
entre colonizador
e índios
como uma
encenação do
sistema em
que estamos
vivendo. Representam
o mecanismo
social injusto
em que
todos estamos
vivendo. Diante
dos massacres
de tribos
inteiras do
Xingu, da
perseguição, da
posse das
terras e de
todo tipo
de torturas
(da destruição,
do genocídio
) tornou-se
impossível não
falar de
índio. (Texto
de Gutemberg
Cruz Andrade
publicado no
2o Caderno
da Tribuna
da Bahia
de 07
de abril
de 1978).
O choque de culturas
Baseando-se
nas aventuras de Hans
Staden, que esteve
prisioneiro dos tupinambás
no litoral vicentino,
em cartas e relatórios
dos cronistas da colonização
e em sociólogos
contemporâneos, Nélson Pereira
dos Santos realizou “Como
Era Gostoso o Meu
Francês” ( feito
em fins de 70,
mas retido pela censura
até janeiro de 72
), comédia antropofágica
e meditação sobre o
passado e futuro
do homem brasileiro.
Por meio de uma
narrativa simples e
despojada, o filme
mostra o choque de
duas culturas – os nativos
brasileiros e o
colonizador europeu – numa
lição antropológica em
que o mais forte
é devorada pelo mais
fraco.
Prisioneiro
dos índios tamoios, um
aventureiro francês escapa
da morte graças a
seus conhecimentos de
artilharia. Embora precisem
dele para lhes ensinar
a utilizar o canhão
com o que pretendem
derrotar uma tribo
rival, os índios marcam
o dia de sua
morte. Nesta oportunidade,
o francês aprende os hábitos
dos tamoios e se
une a uma jovem
índia. A ideia da
morte não lhe agrada
e ele procura de
todas as formas escapar.
Quando se decide a
isso, a índia se
recusa a ajudá-lo.
Depois de uma grande
batalha entre os
tamoios e a
tribo rival, o cacique
Cunhambebe marca a
data da execução.
A morte do francês
fará parte das comemorações
da vitória e ele
será servido durante o
grande banquete final. Na
cena final, o francês
já pronto para ser
devorado grita furioso:
“Os meus iguais virão
vingar a minha morte
e destruir meus inimigos”.
“Procurei
ser fiel à história
– disse Nélson na
época do lançamento
– e relatar o que,
no decorrer dos tempos,
aconteceu com a
cultura tupinambá.
Ela simplesmente desapareceu,
depois de ter ocupado
toda a costa brasileira”.
O filme
seguinte leva o
espectador a se
sentir como um índio.
“Uirá, um índio à
procura de Deus”
foibaseado numa pesquisa
antropológica de Darcy
Ribeiro, “Uirá vai
ao encontro de Maira”,
publicada na revista
Anhembi (1957). Gustavo
Dahl realizou uma obra
fílmica intimista
de sentimentos que
trabalha com a
emoção através da odisseia
de Uirá, índio da
tribo dos Kaapor (ou
urubus) que, ao
perder o filho mais
velho entra numa crise
dolorosa da qual
só poderá sair por
meio de dificultosa
empreitada: abandonar
a casa em busca
de Maira, Deus civilizador,
cuja casa seria uma
espécie de paraíso
onde se abrigam os
índios depois da morte.
No caminho, Uirá é
seguidamente agredido por
sertanejos e termina
preso.
Libertado pelo
Serviço Nacional de
Proteção aos Índios,Uirá
tenta ainda, sem sucesso,
apossar-se de uma
canoa de pescadores
para avançar mar adentro.
Depois, no caminho
de volta para sua
aldeia, atira-se ao
rio para ser devorado
pelas piranhas.
Segundo Dahl,
“a falta de respeito
da cultura branca em
relação ao universo
dos indígenas, de tão
trágicas consequências,
que também espreita de
dentro de cada espectador,
constituía, inclusive,
um problema de dramaturgia.
Para superar esse distanciamento
cultural, optei por
um tratamento mais clássico,
baseando antes na
identificação que no
documentário e no
antropológico”.
“Uirá”
foi vencedor da Margarida
de Prata da Conferencia
Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB),Prêmio
Especial do Juri
do Festival de Gramado
e o Prêmio de
melhor atriz para Ana
Maria Magalhães.
O filme
focaliza o problema
do índio na trágica
trajetória de seu
processo de extinção.
“O móvel do filme
- continua Dahl – é
levar o espectador
citadino, branco, ocidental,
a sentir na pele
– através do processo
de identificação cinematográfico
– as agressões que, em
nome de não se
sabe bem o que,
foram feitas ao índio.
O móvel do filme
é passar para o
espectador que uma
pessoa igual a ele
se encontra naquela situação,
e que qualquer um
de nós poderia estar
la”.
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