Compositor
de alma, Riachão foi reverenciado como o sambista de maior expressão
e longevidade da Bahia. Em 2007 ele foi personagem-símbolo da maior
festa popular do Brasil, o Carnaval. A reverência ao samba como
forma de folia momesca foi uma forma de resgate e a busca por uma
maior valorização deste gênero. E foi justamente em 1917 (há 95
anos) que o conhecido samba carnavalesco, “Pelo Telefone”
estourou no Carnaval. Gravado pela Casa Edison, na voz de Baiano, a
composição assinada por Donga e Mauro de Almeida ainda tem muito do
maxixe, ritmo hegemônico na época, e vira cantiga nordestina em um
dos trechos. E a história do samba já começou marcada pelas
misturas que sempre envolveram o gênero. Os puristas preferem o
samba original, os apologistas das fusões querem misturar com o
rock, frevo e pop.
Quando
Noel Rosa compôs o samba “Feitio de Oração” e Vinícius de
Moraes em “Samba da Bênção” afirma que “o bom samba é uma
forma de oração”, estavam certos. A palavra samba veio do lamento
“kusamba”, rezar, orar. “Quem se atreve a me dizer, do que é
feito o samba?” pergunta Marcelo Camelo na composição “Samba a
Dois”. E quem responde é Caetano Veloso em “Desde que o samba é
samba” ao compor: “O samba é o pai do prazer/o samba é o filho
da dor/o grande poder transformador”.
“É
melhor ser alegre que ser triste/Alegria é a melhor coisa que
existe/É assim como a luz no coração/Mas pra fazer um samba um
samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza/Senão não se faz
um samba, não//Senão é como amar uma mulher só linda; e daí?/Uma
mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza/Qualquer coisa de
triste, qualquer coisa que chora/Qualquer coisa que sente saudade/Um
molejo de amor machucado,/Uma beleza que vem da tristeza de se saber
mulher,/Feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor/E para ser
só perdão//Fazer samba não é contar piada/Quem faz samba assim
não é de nada/O bom samba é uma forma de oração/Porque o samba é
a tristeza que balança/E a tristeza tem sempre uma esperança/De um
dia não ser mais triste não...//Ponha um pouco de amor numa
cadência/E vai ver que ninguém no mundo vence/A beleza que tem um
samba não/Porque o samba nasceu lá na Bahia/E se hoje ele é branco
na poesia/Se hoje ele é branco na poesia/Ele é negro demais no
coração” (Samba da benção, de Vinícius de Moraes)
Fernanda
Porto e Alba Carvalho falam que nunca foram numa roda de samba, mas
seu sambar tem repique e batuque sampleando reco-reco e agogô. “Esse
samba é meu groove da vez/com guitarras e drum´n´bass/só pra ver
como é que fica/eletrônica e couro da cuíca//Samba assim assado/de
hit acelerado, será que é samba assim?/samba assim assado/de hit
acelerado, é samba, sim” canta em “Sambassim”. Em 2005 o
baiano radicado em São Paulo, Péri lançou seu quarto CD dedicado
inteiro ao samba. Mesclando a batida bossa-novista de João Gilberto,
a elegância de Paulinho da Viola, e a suavidade da voz e violão ele
canta: “o samba é como a vida. Só na maciota. Um samba
pequenininho. Um samba diferente. Um samba passarinho. Que voa quando
está contente” (Samba Passarinho).
Já o
compositor Assis Valente teve nova leitura do seu “Brasil Pandeiro”
na voz dos Novos Baianos: “Chegou a hora dessa gente bronzeada
mostrar seu valor/eu fui na Penha, fui pedir ao Padroeiro para me
ajudar/salve o Morro do Vintém, pendura a saia eu quero ver/eu quero
ver o tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar/o Tio Sam está
querendo conhecer a nossa batucada/
anda
dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato/vai entrar no
cuzcuz, acarajé e abará/na Casa Branca já dançou a batucada de
ioiô, iaiá//Brasil, esquentai vossos pandeiros/iluminai os
terreiros que nós queremos sambar/há quem sambe diferente noutras
terras, noutra gente/num batuque de matar//Batucada, batucada, reunir
nossos valores/pastorinhas e cantores/expressão que não tem par, ó
meu Brasil/Brasil, esquentai vossos pandeiros/iluminai os terreiros
que nós queremos sambar/Ô, ô, sambar, iêiê, sambar.../queremos
sambar, ioiô, queremos sambar, iaiá”.
E Jadir
de Castro e Luiz Bittencourt atacaram de “Samba do Ziriguidum” na
voz de Jackson do Pandeiro: “Ziriguidun, ziriguidun/Meu coração
num teleco-teco/Puxe e largue/Como no futebol/A onda vai, vai, vai/E,
balança mas não cai/E o samba continua/Na base do ziriguidum/Abre a
roda moçada/Pra entra mais um/Abre a roda moçada/Pra entra mais
um”. Para encerrar só mesmo o “Samba e Amor” de Chico Buarque:
“Eu faço samba e amor até mais tarde/E tenho muito sono de
manhã/Escuto a correria da cidade que arde/E apressa o dia de
amanhã/De madrugada a gente ainda se ama/E a fábrica começa a
buzinar/O trânsito contorna a nossa cama – reclama/Do nosso eterno
espreguiçar/No colo da benvinda companheira/No corpo do bendito
violão/Eu faço samba e amor a noite inteira/Não tenho a quem
prestar satisfação/Eu faço samba e amor até mais tarde/E tenho
muito mais o que fazer/Escuto a correria da cidade - que alarde/Será
que é tão difícil amanhecer?/Não sei se preguiçoso ou se
covarde/Debaixo do meu cobertor de lã/Eu faço samba e amor até
mais tarde/E tenho muito sono de manhã”.
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