A questão
racial sempre foi um problema nos EUA. No início do século XX a
questão racial adquiriu melhor contorno a partir do credo
democrático idealizado pelo presidente americano Theodore Roosevelt
(governou o país de 1901 a 1909) quando construiu um nacionalismo
cívico – baseado na construção de uma masculinidade americana,
onde valores não nacionais e não brancos foram caracterizados como
fracos ou efeminados.
Após
décadas de descontentamento com a situação, os negros
estadunidenses reagiram contra a posição de inferioridade e
exclusão a que as leis dos brancos os condenavam. A partir da década
de 1950 eles se ergueram contra a discriminação e a segregação
racial que sofriam em seu país. Foi neste panorama que surgiu o
Movimento pelos Direitos Civis. Martin Luther King, Malcolm X (Black
Power), Bobby Seale, Huey Newton (Black Panthers) foram nomes
importantes.
Nas HQs o
negro apareceu como coadjuvantes passageiros em histórias de
personagens já estabelecidos ou então atuava como personagens
regulares e tinha uma função cômica. Se voltarmos ao tempo, em
1830, o teatro americano de variedades onde alternadamente eram
apresentados dança, música, esquetes cômicos e atos variados por
atores brancos com a cara pintada de negro. O espetáculo chamado
ministrel show tentava personificar de forma
caricatural os negros estadunidense. Assim, os negros eram retratados
como ignorantes, preguiçosos, superticiosos e musicais. Esse
espetáculo sobreviveu até 1910 interpretado por atores
profissionais e continuou de forma amadora até 1950.
Esses
artistas brancos pintados de preto se tornara muito popular
realçando, exagerando ou ridicularizando os estereótipos da
população negra. Esse tipo de personagem teve ampla circulação na
cultura popular norte americana ao longo do século XIX. O homem
negro era um objeto de riso, diminuindo-lhe a masculinidade e a
dignidade. Essa caricatura do homem negro continuaria no século XX a
partir de outras mídias, como o cinema.
A editora
EC Comics (revolucionou os quadrinhos nos anos 50 com suas revistas
de terror e ficção científica), publicou duas histórias que
focavam de maneira extremamente ousada o tema do racismo nos Estados
Unidos. Na história “In Gratitude”, escrita por Al Feldstein,
desenhada por Wally Wood (revista Shock SuspenStories #11 de 1953),
um veterano da Guerra da Coreia chamado Joe Norris, ao voltar para
sua cidade no interior dos EUA, questiona seus conterrâneos pelo
fato de eles se recusarem a enterrar um amigo de Norris, que morreu
na guerra no cemitério da cidade. Tal enterro é proibido única e
exclusivamente porque o amigo de Norris, apesar de também ter
defendido o país na Guerra da Coreia, era negro.
A outra
história (revista Weird Fantasy #18 de 1953) intitulada “Judgement
Day”, com roteiro de Al Feldstein e arte de Joe Orlando, relata a
ida de um astronauta terráqueo chamado Tarlton a um planeta chamado
Cybrinia. O objetivo de Tarlton é verificar se o tal planeta é
socialmente avançado o bastante para entrar na Federação Galáctica
da Terra.
Ao chegar
em Cybrinia usando um traje espacial que lhe cobre todo o corpo,
inclusive o rosto, Tarlton percebe que o planeta é habitado por
robôs, que se dividem em duas castas: os laranjas dominam todas as
formas de riqueza e os azuis são relegados apenas a serviços
braçais.
Tarlton
questiona as lideranças laranjas sobre esses fatos e lhe diz que
enquanto essa segregação ocorrer em Cybrinia o planeta não estará
apto a ingressar na Federação Galáctica, tendo em vista que em
nenhum planeta-membro ocorre discriminação. Ao retornar à sua
nave, no último quadrinho, o nosso astronauta retira o seu capacete
e vemos que Tarlton é um homem negro!
O prêmio
que a EC Comics ganhou por tanta ousadia nos temas e pela qualidade
revolucionária de suas HQ’s foi uma brutal perseguição executada
por “puritanos” preocupados com a “má influência” que os
gibis poderiam causar, perseguição essa que praticamente acabou com
a editora.
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