13 novembro 2012

O negro nas histórias em quadrinhos (07)

A questão racial sempre foi um problema nos EUA. No início do século XX a questão racial adquiriu melhor contorno a partir do credo democrático idealizado pelo presidente americano Theodore Roosevelt (governou o país de 1901 a 1909) quando construiu um nacionalismo cívico – baseado na construção de uma masculinidade americana, onde valores não nacionais e não brancos foram caracterizados como fracos ou efeminados.

Após décadas de descontentamento com a situação, os negros estadunidenses reagiram contra a posição de inferioridade e exclusão a que as leis dos brancos os condenavam. A partir da década de 1950 eles se ergueram contra a discriminação e a segregação racial que sofriam em seu país. Foi neste panorama que surgiu o Movimento pelos Direitos Civis. Martin Luther King, Malcolm X (Black Power), Bobby Seale, Huey Newton (Black Panthers) foram nomes importantes.

Nas HQs o negro apareceu como coadjuvantes passageiros em histórias de personagens já estabelecidos ou então atuava como personagens regulares e tinha uma função cômica. Se voltarmos ao tempo, em 1830, o teatro americano de variedades onde alternadamente eram apresentados dança, música, esquetes cômicos e atos variados por atores brancos com a cara pintada de negro. O espetáculo chamado ministrel show tentava personificar de forma caricatural os negros estadunidense. Assim, os negros eram retratados como ignorantes, preguiçosos, superticiosos e musicais. Esse espetáculo sobreviveu até 1910 interpretado por atores profissionais e continuou de forma amadora até 1950.

Esses artistas brancos pintados de preto se tornara muito popular realçando, exagerando ou ridicularizando os estereótipos da população negra. Esse tipo de personagem teve ampla circulação na cultura popular norte americana ao longo do século XIX. O homem negro era um objeto de riso, diminuindo-lhe a masculinidade e a dignidade. Essa caricatura do homem negro continuaria no século XX a partir de outras mídias, como o cinema.

A editora EC Comics (revolucionou os quadrinhos nos anos 50 com suas revistas de terror e ficção científica), publicou duas histórias que focavam de maneira extremamente ousada o tema do racismo nos Estados Unidos. Na história “In Gratitude”, escrita por Al Feldstein, desenhada por Wally Wood (revista Shock SuspenStories #11 de 1953), um veterano da Guerra da Coreia chamado Joe Norris, ao voltar para sua cidade no interior dos EUA, questiona seus conterrâneos pelo fato de eles se recusarem a enterrar um amigo de Norris, que morreu na guerra no cemitério da cidade. Tal enterro é proibido única e exclusivamente porque o amigo de Norris, apesar de também ter defendido o país na Guerra da Coreia, era negro.

A outra história (revista Weird Fantasy #18 de 1953) intitulada “Judgement Day”, com roteiro de Al Feldstein e arte de Joe Orlando, relata a ida de um astronauta terráqueo chamado Tarlton a um planeta chamado Cybrinia. O objetivo de Tarlton é verificar se o tal planeta é socialmente avançado o bastante para entrar na Federação Galáctica da Terra.

Ao chegar em Cybrinia usando um traje espacial que lhe cobre todo o corpo, inclusive o rosto, Tarlton percebe que o planeta é habitado por robôs, que se dividem em duas castas: os laranjas dominam todas as formas de riqueza e os azuis são relegados apenas a serviços braçais.

Tarlton questiona as lideranças laranjas sobre esses fatos e lhe diz que enquanto essa segregação ocorrer em Cybrinia o planeta não estará apto a ingressar na Federação Galáctica, tendo em vista que em nenhum planeta-membro ocorre discriminação. Ao retornar à sua nave, no último quadrinho, o nosso astronauta retira o seu capacete e vemos que Tarlton é um homem negro!

O prêmio que a EC Comics ganhou por tanta ousadia nos temas e pela qualidade revolucionária de suas HQ’s foi uma brutal perseguição executada por “puritanos” preocupados com a “má influência” que os gibis poderiam causar, perseguição essa que praticamente acabou com a editora.

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