Na Turma
da Mônica, de Maurício de Sousa tem Jeremias cuja
participação nas aventuras são raras. Jeremias, com seu eterno
bonezinho, brinca, briga e às vezes corre da Mônica. Como todo
mundo da rua. Tem ainda o Pelezinho e Ronaldinho
Gaucho. Os dois últimos tiveram revista própria por
serem celebridades esportivas. Pelezinho foi criado em 1976 para
publicação em tiras diárias nos jornais. Vieram também produtos
de merchandising e em 77 a revista Pelezinho, lançada pela Editora
Abril. Circulou até 1982. Ronaldinho chegou aos quadrinhos em 2006.
Nos seus
25 anos de carreira, Henfil trabalhou nos mais importantes jornais do
país e criou cerca de 30 personagens. Nesse rol estão Preto-que-ri,
um negro que jamais se ofendia com as piadas e denunciava o racismo.
Provocativo, sarcástico e contundente, mas talentoso e sincero,
Henfil criou Preto que ri onde explorou o racismo, algo que, em tese
não existia entre os brasileiros, mas que se revelava nos pequenos
detalhes e nas sutilezas dos relacionamentos.
Com seus
traços básicos, seu riso fácil, a pequena Graúna se
sobrepõe em sua obra, uma figura feminina leve e fina, mas de forte
presença; contrapondo-se ao corpulento e ingênuo Zeferino ou ao
intelectualizado e cínico Orelana, numa trindade de excepcional
apelo cômico. Nota-se facilmente que a Graúna é a personagem mais
humana de Henfil. Graúna era uma espécie de voz ajuizada do grupo,
e seu desenho era feito de forma simples e ligeira, traço econômico
característico de seu autor: a avezinha mais parecia um ponto de
exclamação, do qual saíam duas perninhas e os grandes olhos.
Nordestina
típica e estereotipada, Graúna vivia com fome, além de sempre
criticar o "Sul Maravilha" com questionamentos políticos
que seus companheiros nunca sabiam responder. Se não era alienada,
Graúna entretanto estava tão envolvida em seus próprios problemas
(como chocar os ovos), que não tinha como levar a termo suas
revoltas. Fazendo contraponto à ironia do bode Francisco Orelana,
era sem dúvida o desenho mais marcante do cartunista, morto em 1988.
Dono de
um cemitério atípico, o Cabôco Mamadô só enterrava
pessoas que estavam vivas. Henfil utilizava-se dele para criticar
pessoas que, segundo seu entendimento, haviam colaborado dealguma
forma com a ditadura.
Também
para denunciar uma condição social de exclusão, Edgar Vasques
criou em 1970 a série Rango, um miserável que vivia no lixo
e tinha como companheiros de infortúnio um garoto negro e um
personagem sul americano. As tiras de Rango exploravam as mazelas da
população menos favorecida e atacava os responsáveis pela condução
da economia do País, que vivia sob uma forte ditadura militar.
Criada no
bojo da ditadura e da censura à imprensa, é uma das tiras mais
duradouras do humor brasileiro. “Duradoura como a miséria e a
fome, meus primeiros assuntos”, informa Vasques. Quinze livros
depois, com publicações na França, México e Dinamarca, Rango
trata de tudo: corrupção, costumes, ecologia , política, economia
etc. Boia fria, sempre mal digerido pela grande mídia, Rango
itinerou pelas mais variadas publicações inteligentes, e atualmente
aparece no mensário Extra Classe, de Porto Alegre.
Em 1996 o
cartunista e escritor baiano Luis Augusto Gouveia começou a publicar
suas tiras diárias Fala Menino! no jornal A Tarde. Winnie,
Martin, Guiga, Edinho,
Diogo fazem parte da tirinha Fala Menino!. Os personagens
possuem necessidades especiais, mas os traços de Luis Augusto não
caem no arquétipo da cartilha contra o preconceito. Mesmo com
limitações físicas, as crianças não permitem que isso impeçam
de realizar as ações típicas da infância como as brincadeiras, as
paqueras, os sonhos. Tudo isso com uma dose de humor e otimismo. Uma
turminha que tem que lidar com os dilemas da infância, dialogando
com o mundo dos adultos de um jeito muito especial. Winnie e
Martin são filhos de diplomata, conhecem o mundo todo e tem tudo que
o dinheiro pode comprar), totalmente independentemente da cor de suas
peles.
Winnie,
na definição do autor, com apenas seis anos, é uma lutadora pela
liberdade de (sua) expressão. Seria bastante socialista se não
fosse tão egocentrista. Mas, o fato é que a Winnie nasceu pra
reclamar. Martin, o “ce-dê-efe”, filho de um importante
diplomata e já morou em vários lugares do mundo, por isso aprendeu
a falar diversos idiomas. Saca tudo de informática e Internet.
Guiga, o irmão adotivo do Rafael é conciliador e tranquilão, joga
capoeira e futebol.
Ao
colocar luz sobre a infância e juventude da garotada, Luis Augusto
desmistifica e dá dignidade ao personagem. Em termos de inclusão e
exclusão, Augusto mostra como as crianças ouvem o som do mundo,
sente os perfumes, o calor do toque, do abraço amigo e sugere a
inclusão, onde todos se tratam de igual para igual. Se seus
personagens possuem limitação visual e/ou auditiva, são crianças
felizes e com capacidade de sentir o mundo. O objetivo é falar sobre
diferenças e deficiências. As crianças não nascem com
preconceito, mas vão adquirindo no decorrer da vida, então o
artista trabalhar na infância para ter uma sociedade melhor.
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