07 novembro 2012

O negro nas histórias em quadrinhos (03)

Na Turma da Mônica, de Maurício de Sousa tem Jeremias cuja participação nas aventuras são raras. Jeremias, com seu eterno bonezinho, brinca, briga e às vezes corre da Mônica. Como todo mundo da rua. Tem ainda o Pelezinho e Ronaldinho Gaucho. Os dois últimos tiveram revista própria por serem celebridades esportivas. Pelezinho foi criado em 1976 para publicação em tiras diárias nos jornais. Vieram também produtos de merchandising e em 77 a revista Pelezinho, lançada pela Editora Abril. Circulou até 1982. Ronaldinho chegou aos quadrinhos em 2006.

Nos seus 25 anos de carreira, Henfil trabalhou nos mais importantes jornais do país e criou cerca de 30 personagens. Nesse rol estão Preto-que-ri, um negro que jamais se ofendia com as piadas e denunciava o racismo. Provocativo, sarcástico e contundente, mas talentoso e sincero, Henfil criou Preto que ri onde explorou o racismo, algo que, em tese não existia entre os brasileiros, mas que se revelava nos pequenos detalhes e nas sutilezas dos relacionamentos.

Com seus traços básicos, seu riso fácil, a pequena Graúna se sobrepõe em sua obra, uma figura feminina leve e fina, mas de forte presença; contrapondo-se ao corpulento e ingênuo Zeferino ou ao intelectualizado e cínico Orelana, numa trindade de excepcional apelo cômico. Nota-se facilmente que a Graúna é a personagem mais humana de Henfil. Graúna era uma espécie de voz ajuizada do grupo, e seu desenho era feito de forma simples e ligeira, traço econômico característico de seu autor: a avezinha mais parecia um ponto de exclamação, do qual saíam duas perninhas e os grandes olhos.

Nordestina típica e estereotipada, Graúna vivia com fome, além de sempre criticar o "Sul Maravilha" com questionamentos políticos que seus companheiros nunca sabiam responder. Se não era alienada, Graúna entretanto estava tão envolvida em seus próprios problemas (como chocar os ovos), que não tinha como levar a termo suas revoltas. Fazendo contraponto à ironia do bode Francisco Orelana, era sem dúvida o desenho mais marcante do cartunista, morto em 1988.

Dono de um cemitério atípico, o Cabôco Mamadô só enterrava pessoas que estavam vivas. Henfil utilizava-se dele para criticar pessoas que, segundo seu entendimento, haviam colaborado dealguma forma com a ditadura.

Também para denunciar uma condição social de exclusão, Edgar Vasques criou em 1970 a série Rango, um miserável que vivia no lixo e tinha como companheiros de infortúnio um garoto negro e um personagem sul americano. As tiras de Rango exploravam as mazelas da população menos favorecida e atacava os responsáveis pela condução da economia do País, que vivia sob uma forte ditadura militar.

Criada no bojo da ditadura e da censura à imprensa, é uma das tiras mais duradouras do humor brasileiro. “Duradoura como a miséria e a fome, meus primeiros assuntos”, informa Vasques. Quinze livros depois, com publicações na França, México e Dinamarca, Rango trata de tudo: corrupção, costumes, ecologia , política, economia etc. Boia fria, sempre mal digerido pela grande mídia, Rango itinerou pelas mais variadas publicações inteligentes, e atualmente aparece no mensário Extra Classe, de Porto Alegre.

Em 1996 o cartunista e escritor baiano Luis Augusto Gouveia começou a publicar suas tiras diárias Fala Menino! no jornal A Tarde. Winnie, Martin, Guiga, Edinho, Diogo fazem parte da tirinha Fala Menino!. Os personagens possuem necessidades especiais, mas os traços de Luis Augusto não caem no arquétipo da cartilha contra o preconceito. Mesmo com limitações físicas, as crianças não permitem que isso impeçam de realizar as ações típicas da infância como as brincadeiras, as paqueras, os sonhos. Tudo isso com uma dose de humor e otimismo. Uma turminha que tem que lidar com os dilemas da infância, dialogando com o mundo dos adultos de um jeito muito especial. Winnie e Martin são filhos de diplomata, conhecem o mundo todo e tem tudo que o dinheiro pode comprar), totalmente independentemente da cor de suas peles.

Winnie, na definição do autor, com apenas seis anos, é uma lutadora pela liberdade de (sua) expressão. Seria bastante socialista se não fosse tão egocentrista. Mas, o fato é que a Winnie nasceu pra reclamar. Martin, o “ce-dê-efe”, filho de um importante diplomata e já morou em vários lugares do mundo, por isso aprendeu a falar diversos idiomas. Saca tudo de informática e Internet. Guiga, o irmão adotivo do Rafael é conciliador e tranquilão, joga capoeira e futebol.

Ao colocar luz sobre a infância e juventude da garotada, Luis Augusto desmistifica e dá dignidade ao personagem. Em termos de inclusão e exclusão, Augusto mostra como as crianças ouvem o som do mundo, sente os perfumes, o calor do toque, do abraço amigo e sugere a inclusão, onde todos se tratam de igual para igual. Se seus personagens possuem limitação visual e/ou auditiva, são crianças felizes e com capacidade de sentir o mundo. O objetivo é falar sobre diferenças e deficiências. As crianças não nascem com preconceito, mas vão adquirindo no decorrer da vida, então o artista trabalhar na infância para ter uma sociedade melhor.

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