06 novembro 2012

O negro nas histórias em quadrinhos (02)

No Brasil a escassez de personagens negros é lamentável. Podemos citar Benjamin (Luis Loureiro), Lamparina (J. Carlos), Azeitona (Luis Sá), Pererê (Ziraldo), Preto que ri (Henfil) e alguns outros. No estudo do pesquisador Nobu Chinen na Universidade de São Paulo, a primeira aparição de um negro nos quadrinhos brasileiros foi em As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte, criado pelo ítalo brasileiro Ângelo Agostini em 1869, Logo na primeira vinheta aparece um personagem negro, o Benedito.

Gibi, etimologicamente, significa menino negro. É também o mascote que batizou uma publicação que fez sucesso na editora Globo e se tornou sinônimo de revista em quadrinhos, É bom não confundir esse Gibi com o Giby, o primeiro personagem negro do quadrinho brasileiro criado por J.Carlos em 1907.

Gibi, criado por J. Carlos em 1907 para a revista O Tico Tico é o primeiro personagem negro dos quadrinhos brasileiros. Ele era o criado na casa de Juquinha, personagem principal da série. A revista O Tico Tico, desde o seu primeiro número de 11 de outubro de 1905, publicava as aventuras de Chiquinho e seu cão Jagunço, em histórias decalcadas por ilustradores brasileiros das páginas do personagem americano Buster Brown e o cachorro Tige, criado por Richard Felton Outcault, em 1902 para o jornal The New York Herald.

Luis Loureiro, um dos artistas responsáveis por recriar os desenhos, criou um novo personagem para acompanhar Chiquinho: Benjamin (1915), que se destaca como o primeiro negros dos quadrinhos a fazer sucesso entre o público leitor. Benjamin, que estreou em 1915, era um moleque negro inspirado num criado da casa de Loureiro. Nas palavras do próprio autor, em entrevista concedida à Revista da Semana, em 31 de março de 1945, o terrível infante tinha os plano mais demolidores para as molecagens da turma, o que levava Chiquinho a temer que as ideias do negrinho dessem na clássica surra de escova com que o pai coroava sempre as suas aventuras.

Levei para os quadrinhos um Benjamin que morou na minha casa durante muito tempo. Era um pretinho muito vivo, de seus oito anos, que trabalhava como menino de recado. Benjamin estava sempre dando palpites sobre as aventuras de Chiquinho. E que costumava dar palpites na vida do Chiquinho. E eu doido para botar o Benjamin na história. Um dia, botei”, conta o desenhista Luis Gomes Loureiro.

As aventuras de Chiquinho transcorriam em ambiente doméstico. Nunca o personagem teve o comportamento de seu inspirador americano, Richard Felton Outcault, que era ácido, crítico e contestador. Chiquinho era criança bastante ingênua, como ingênuo era o Rio de seu tempo. Suas aventuras eram, na verdade, travessuras, como foram as de seu próprio desenhista, Loureiro. Tanto Gibi quanto Benjamin seguiu o padrão estereotipado da época com olhos saltados e lábios grossos.

Em 1931, Luis criou o trio de amigos Reco Reco, Bolão e Azeitona. Publicados durante 30 anos na revista O Tico Tico, Azeitona carrega nos traços lábios grossos, olhos saltados, nariz grande e largo. Mas seus dois companheiros Reco Reco e Bolão não mereceram tratamento melhor. Um é gordo e o outro, magrelo com esparsos fios de cabelo, com seu inconfundível traço sinuoso. O talentoso artista cearense destacou-se pela originalidade de seu traço e pela graciosidade de suas criaturas. Além de publicar inúmeras ilustrações e desenhar capas para O Tico-Tico, criou outros personagens, como o papagaio Faísca, o detetive Pinga-Fogo e a negrinha Maria Fumaça. O professor Waldomiro Vergueiro lembrou muito bem queos personagens de Luis foram também muito utilizados em publicidade; aqueles que viveram sua infância durante a década de 60 podem provavelmente lembrar-se desses personagens em figurinhas que envolviam os chicletes.

Lamparina é outro personagem negro que teve origem nas páginas d´O Tico Tico, criado em 1928 por J. Carlos. Personagem cômico-infantil, Lamparina surgiu anônima e como mera figurante, na série “O grande vôo do Bahu”. Lamparina, que muitos pensam ser um garoto, é na verdade uma menina impúbere de cerca de 10 anos que, vinda de uma ilha distante, integra-se oficialmente ao elenco de O Tico-Tico em 25 de abril de 1928. A concepção nos dias de hoje seria inadmissível. Lamparina, por exemplo, "contava as travessuras de uma negrinha do morro, sempre pregando peça nos adultos. Trabalhava numa linha muito firme, que era a característica do trabalho de J. Carlos. Lamparina é um dos pontos altos do quadrinho brasileiro" (Cavalcanti, 1977).

Jerônimo, o Herói do Sertão foi o nome de uma radionovela brasileira de bastante sucesso e que recebeu adaptações para a televisão, cinema e histórias em quadrinhos. Criada em 1953 por Moysés Weltman para a Rádio Nacional, bastante influenciada pelo faroeste americano, a radionovela ficou 14 anos no ar. Em 1957, Jerônimo ganhou uma revista em quadrinhos pela Rio Gráfica Editora escrita pelo próprio Moysés Weltman e desenhada por artistas como Edmundo Rodrigues e Flavio Colin. Foram 92 gibis mensais e cinco almanaques especiais. O personagem era auxiliado pelo Moleque Saci. O estereótipo antigo do negrinho gente boa, valente e engraçado como ele só.

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